O preço do leite no Ceará voltou ao centro do debate no setor pecuário leiteiro do Sertão Central, em meio à recente redução no valor pago aos produtores e à crescente preocupação com os custos de produção.
Segundo a Alvoar Lácteos, maior empresa do ramo no estado, a queda registrada em 2025 decorre de fatores de oferta e demanda, alinhados ao cenário nacional.
De acordo com Armindo Neto, diretor executivo de Captação da Alvoar, em entrevista ao programa Ponto de Vista, da SerTão TV, “as oscilações do mercado de leite no Brasil, e no Ceará não é diferente, acontecem normalmente. Faz parte da dinâmica desse mercado. Isso está muito atrelado ao preço de venda ao consumidor, para os supermercados e também à produção de leite no campo”.
Os dados da empresa mostram que, no segundo trimestre de 2025, o Brasil alcançou um recorde de produção de leite, enquanto o consumo de lácteos caiu. A Alvoar registrou, em agosto, um aumento de 30% na captação em relação ao mesmo mês de 2024, e os produtores fornecedores da empresa elevaram sua produção em 17%. Porém, o consumo caiu 3,5% no varejo, o que pressionou os preços para baixo.
“Essa combinação de fatores faz com que o preço esse ano tenha caído, e na soma das quedas em 2025 já chegou a R$ 0,30, contra os R$ 0,36 de aumento do ano passado”, explicou Armindo, acrescentando que o fenômeno ocorre em todo o Brasil.
Pagamento mínimo definido
De janeiro a julho de 2025, a Alvoar pagou aos produtores 13% a mais por litro em comparação com o mesmo período de 2024. Mesmo assim, o preço sofreu retração frente aos valores de início de ano. Atualmente, a empresa afirma pagar no mínimo R$ 2,20 por litro de leite para fornecedores diretos.
Segundo Armindo, produtores que recebem menos que isso provavelmente comercializam com atravessadores. “Se você é produtor de leite e recebe menos de R$ 2,20 hoje, e quer procurar a Alvoar para negociar seu leite, temos tanques disponíveis”, afirmou. A projeção da empresa é elevar gradualmente o preço mínimo, buscando reduzir a disparidade entre pequenos e grandes produtores.
Contestação de monopólio e protestos
Armindo também refutou a ideia de que a empresa detenha monopólio sobre a compra de leite no estado. “O Ceará tem mais de 2 mil queijarias. Somadas, elas têm mais da metade do leite, junto com outros laticínios que atuam no estado. Somos a maior empresa do estado, mas nossa atuação está longe de ser um monopólio”, declarou.
Nos últimos dias, manifestações foram organizadas para questionar os preços pagos aos produtores. Armindo afirmou que muitos dos líderes desses movimentos não possuem relação comercial com a Alvoar. “Quando vemos quem são as lideranças desses movimentos e as pessoas que sempre estão nos vídeos, são pessoas que não vendem leite para a Alvoar”, disse, apontando interesses políticos e pessoais por trás dos protestos.
O executivo ressaltou que a divulgação de informações incorretas prejudica a negociação direta com produtores e não contribui para a estabilidade do mercado.
Novos projetos e perspectivas
Além da discussão sobre preços, a Alvoar estuda instalar uma distribuidora de grãos em Quixeramobim, aproveitando a futura construção de um porto seco na região. O objetivo é baratear o acesso aos insumos e repassar os benefícios aos pecuaristas.
“Estamos sempre buscando alternativas para ajudar o produtor e a fomentá-lo”, reforçou Armindo.
Com o mercado nacional enfrentando queda de consumo e excesso de oferta, a empresa aposta na transparência e no fortalecimento da relação direta com seus fornecedores para enfrentar os desafios do setor em 2025.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Quixeramobim Agora