Índia e Nova Zelândia negociam um Acordo de Livre Comércio (ALC) que pode redefinir o comércio lácteo global — mas a que custo?
Nesta semana, de 1 a 7 de setembro de 2025, a terceira rodada de negociações bilaterais chamou a atenção da indústria láctea mundial.
Com a Nova Zelândia, o maior exportador de lácteos do mundo, buscando acesso ao mercado indiano — o maior produtor e consumidor global, com 239 milhões de toneladas anuais —, o potencial deste pacto é imenso, mas repleto de tensões.
Enquanto as ações de gigantes como a Fonterra sobem na NZX, a Índia teme o impacto sobre 70 milhões de pequenos produtores. Seria este um ponto de inflexão ou uma ameaça iminente?
Um Cabo de Guerra Lácteo
As negociações, retomadas após uma pausa desde 2016, concentram-se no acesso ao mercado.
A Nova Zelândia, liderada por sua cooperativa Fonterra, exporta mais de 95% de sua produção láctea, gerando NZ$ 23,7 bilhões em 2024. A Índia, com tarifas de 30% a 60% sobre produtos como leite em pó e queijos, protege seus produtores locais, incluindo cooperativas como Amul e Nandini.
Segundo a Agrodigital, esta rodada avançou em bens e serviços, mas o setor lácteo continua sendo o principal obstáculo, com a Índia resistindo a importações em grande escala para preservar sua autossuficiência.
O governo indiano, sob a iniciativa “Atmanirbhar Bharat”, prioriza a proteção de seus pecuaristas, enquanto a Nova Zelândia busca reduzir sua dependência da China, seu principal mercado.
Um ALC poderia dobrar o comércio bilateral, mas a Índia só considera importar produtos de valor agregado de forma limitada, como soro em pó ou muçarela.
Impacto na NZX e no Mercado Global
Na Nova Zelândia, há otimismo com um possível acordo. Empresas como Fonterra, a2 Milk e Synlait poderiam se beneficiar de um acesso, mesmo que limitado, ao mercado indiano de 1,4 bilhão de consumidores.
Nesta semana, o índice GDT registrou uma queda de 4,3% nos preços lácteos (2 de setembro), mas um ALC poderia estabilizá-los no longo prazo. Esse acordo redefiniria o comércio lácteo global, intensificando a concorrência com os EUA e a UE na Ásia.
Entretanto, o pacto não está isento de riscos. Um acesso irrestrito para produtos neozelandeses, como o leite em pó, poderia deslocar produtores indianos, segundo o eDairyNews. A abertura seletiva para ingredientes especializados parece o caminho mais viável, mas ainda não há consenso.
Índia: Entre a Tradição e a Abertura
Para a Índia, o ALC representa um dilema. Seu setor lácteo, profundamente cultural e econômico, sustenta milhões de famílias rurais. A produção local atende à demanda interna, impulsionada pelo consumo de chai, paneer e doces tradicionais.
No entanto, a colaboração com a Nova Zelândia em tecnologia láctea ou genética poderia modernizar o setor.
Segundo o Indianewsnetwork, os primeiros-ministros Modi e Luxon, após reuniões em março, concordaram em acelerar as negociações, mas a Índia insiste em um acordo equilibrado.
E Agora?
Este acordo não apenas definirá o futuro do comércio lácteo, mas também estabelecerá um precedente para a integração econômica na região Ásia-Pacífico.
Enquanto a Nova Zelândia sonha com um mercado indiano aberto, a Índia defende seu legado lácteo. O mundo observa, e o resultado pode mudar as regras do jogo.
Valeria Hamann
EDAIRYNEWS