Leite no RS foi destaque na edição 2025 da Radiografia da Agropecuária Gaúcha, lançada neste mês pelo Departamento de Governança dos Sistemas Produtivos da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).
O documento oficial detalha números de rebanho, produção, valor econômico e comércio exterior da bovinocultura de leite gaúcha, evidenciando tanto a relevância social quanto os desafios de mercado.
Segundo a publicação, em 2025 o rebanho declarado do Rio Grande do Sul soma 1,04 milhão de bovinos destinados à atividade leiteira.
Em 2023, a produção totalizou 4,14 bilhões de litros de leite, movimentando um Valor Bruto da Produção (VBP) de R$ 7,92 bilhões em 2024. Esses números confirmam o peso estratégico do setor dentro da economia agropecuária estadual.
Comércio exterior: exportações limitadas, importações elevadas
Os dados mostram que, em 2024, o Rio Grande do Sul exportou lácteos para 44 países, gerando US$ 24 milhões em receitas, o que garantiu ao estado a terceira posição no ranking nacional de exportadores.
O principal destino foi Cuba, que absorveu US$ 18,4 milhões em produtos lácteos gaúchos, equivalente a 76,7% do total exportado. Em seguida aparecem Uruguai (US$ 2 milhões; 8,5%), Chile (US$ 1,3 milhão; 5,3%), Filipinas (US$ 1,2 milhão; 5,0%) e Paraguai (US$ 0,5 milhão; 2,4%).
Por outro lado, as importações de lácteos foram significativamente mais altas, atingindo US$ 83,4 milhões no mesmo ano.
O destaque absoluto foi o Uruguai, responsável por 97,1% do valor importado (US$ 80,9 milhões e 24,7 mil toneladas). Outros fornecedores tiveram participação marginal, como Itália (1,6%), Estados Unidos (0,9%), Argentina (0,3%) e Países Baixos (0,2%).
Esse desequilíbrio evidencia a forte dependência externa, sobretudo do mercado uruguaio, que domina o abastecimento do estado.
Estrutura produtiva e industrial
A Radiografia da Agropecuária Gaúcha 2025 mostra também a capilaridade da atividade leiteira. O RS conta com pouco mais de 30 mil propriedades que têm no leite uma fonte de renda.
O estado abriga 240 estruturas de industrialização, sendo a maioria (69%) vinculada ao Sistema de Inspeção Municipal (SIM). Outros 13% estão sob a Coordenação de Inspeção de Produtos de Origem Animal (CISPOA) e 18% no Sistema de Inspeção Federal (SIF).
A publicação destaca ainda que a profissionalização crescente, aliada à adoção de novas tecnologias, tem sido tendência e necessidade para a continuidade da atividade no campo.
Perfil do rebanho
O levantamento detalha a composição etária dos animais no estado. Em 2025, havia:
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202.141 bovinos de 0 a 12 meses,
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174.625 de 13 a 24 meses,
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141.715 de 25 a 36 meses,
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526.012 com mais de 36 meses.
Esse perfil indica predominância de animais adultos, essenciais para manter a produção estável em um cenário de custos elevados e competição internacional.
Principais municípios produtores
De acordo com a Radiografia, os dez maiores rebanhos leiteiros do estado em 2025 estão localizados em: Santo Cristo, Augusto Pestana, Crissiumal, Cândido Godoi, Ijuí, Campina das Missões, Marau, São Francisco do Sul, Ibirubá e Três Passos.
Essa distribuição reforça a relevância regional da bovinocultura de leite, presente em praticamente todos os municípios gaúchos.
Reflexões e desafios
Os dados oficiais escancaram um paradoxo: enquanto o Rio Grande do Sul é referência em produção leiteira e mantém exportações consistentes, a balança comercial do setor segue deficitária, puxada pela alta dependência do Uruguai.
Para os produtores e indústrias locais, o desafio passa por ampliar a competitividade, reduzir custos e diversificar destinos comerciais.
A profissionalização crescente e a introdução de novas tecnologias surgem como caminhos estratégicos para enfrentar um mercado cada vez mais globalizado.
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