Agosto foi um mês dinâmico para a indústria global de lácteos, marcado por preços mais baixos no Global Dairy Trade (GDT) e por uma queda mais acentuada no primeiro leilão de setembro, o nº 387.
A transição entre os meses trouxe sinais claros para o setor. O anúncio da Fonterra sobre a venda de suas marcas de consumo e negócios associados à Lactalis (ainda sujeito à aprovação dos acionistas) representou uma mudança estrutural histórica.
Paralelamente, o acordo comercial entre a Nova Zelândia e os Emirados Árabes Unidos, que entrou em vigor, reforçou a estratégia de diversificação.
Do lado da produção, o leite se fortaleceu em várias regiões, embora os resultados recentes do GDT e do Pulse mostrem que a demanda não acompanha o mesmo ritmo.
Na Nova Zelândia, a coleta de sólidos em julho subiu 2,2% frente ao ano anterior, para 28,04 milhões de kgMS, e a produção em toneladas avançou 0,9%, para 312.000 — ambos recordes para o mês. No acumulado da temporada, os sólidos cresceram 8,9% e a tonelagem 6,7%.
Essa expansão foi apoiada por maior uso de ração suplementar e pelo incremento de quase 30% nas importações de palmiste. O NZX Milk Production Predictor projeta novo crescimento em setembro (+1,0%) e outubro (+2,4%), sugerindo recordes consecutivos.
As tendências globais foram mistas. Os Estados Unidos cresceram 3,4% em julho (19,6 bilhões de libras), impulsionados por rebanho maior e eficiência.
Já a Austrália recuou 4,0% devido ao clima adverso. Na América do Sul, a Argentina avançou 7,7% e o Uruguai 3,0%, enquanto a China registrou contração de 3,4%. Na União Europeia, a produção ficou praticamente estável, com alta de apenas 0,2% em junho.
Nos preços, o GDT mostrou virada de tendência. Após alta de 0,7% no Evento 385, houve queda de 0,3% no 386, puxada pelo SMP (-1,8%) e pela manteiga (-1,0%). O leilão Pulse confirmou o viés de baixa, com recuos de 1,7% no WMP e 1,6% no SMP da Nova Zelândia.
O Evento 387 consolidou a correção, com queda geral de 4,3%, em todos os produtos, exceto o cheddar.
O aumento dos volumes sazonais, a flexibilização das regras para o WMP instantâneo e a firmeza da produção em várias regiões reforçam que a oferta vem superando a demanda incremental.
Nos fluxos comerciais, julho trouxe sinais contrastantes. As exportações da Nova Zelândia ficaram estáveis em 279.295 toneladas (+0,2%), mas o valor cresceu 15,4%. No acumulado do ano, os volumes aumentaram 2,0% e os valores 17,2%.
Os EUA tiveram forte desempenho em junho (+15,2% em volume e +26,1% em valor), e a Argentina mostrou ainda mais vigor (+31,6% e +38,4%).
A Austrália, ao contrário, registrou queda de 20,5% nos volumes e de 6,4% no valor. A Europa exportou 6,6% menos em volume, mas obteve 8,9% mais em valor, sustentada por preços firmes. Já a China importou 5,9% mais em volume e 10,6% em valor, sinalizando resiliência na demanda.
O quadro geral revela que a oferta global cresce justamente quando os indicadores de demanda seguem frágeis e desiguais. Com a Nova Zelândia entrando em pico de produção e EUA e América do Sul em expansão, a disponibilidade será ampla nos próximos meses.
Essa abundância já pressiona os preços. Se a demanda não reagir, setembro e outubro poderão trazer novas quedas, sobretudo no leite em pó. Para produtores e indústrias, o momento exige planejamento e atenção redobrada.
Os dados do final de agosto confirmam fundamentos sólidos da oferta, mas a dúvida recai sobre a capacidade da demanda.
Nesse ambiente, será crucial acompanhar a evolução do mercado e adotar ferramentas de gestão de risco. Futuros de leite e contratos de preço fixo podem ajudar a garantir previsibilidade e proteger margens diante de possíveis pressões adicionais.
Adaptado para eDairyNews, com informações de Farmers Weekly