ESPMEXENGBRAIND
22 set 2025
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Com consumo em queda e produção em alta, o mercado lácteo enfrenta desequilíbrios que afetam preços e competitividade.
A oferta de leite avança com clima favorável e tecnologia, mas a demanda permanece fragilizada em mercados-chave. lácteos
A oferta de leite avança com clima favorável e tecnologia, mas a demanda permanece fragilizada em mercados-chave.

O mercado lácteo atravessa um momento de desequilíbrio entre oferta e demanda.

A produção de leite nos Estados Unidos e na União Europeia (UE-27) continua em crescimento, enquanto a demanda global segue enfraquecida, impactada por fatores econômicos e geopolíticos.

Na Europa, a recuperação da produção é visível após meses desafiadores. De acordo com dados setoriais, a melhora nas condições climáticas e a redução dos casos de língua azul contribuíram para esse cenário.

Países-chave registraram forte avanço: em agosto, os Países Baixos cresceram 4,8% em volume de leite, enquanto Alemanha e França anotaram altas de 5% e 3,1%, respectivamente, nas primeiras semanas de setembro.

Já a demanda mostra sinais de incerteza, especialmente no primeiro semestre do ano. A China ainda enfrenta dificuldades, com queda no consumo, e nos Estados Unidos a confiança do consumidor se enfraquece em função da desaceleração do mercado de trabalho e do impacto dos novos aranceles.

Esse descompasso mantém os preços dos lácteos sob pressão, com tendência de queda.

Segundo analistas do setor, esse movimento parece mais cíclico do que estrutural, refletindo a combinação atual de maior disponibilidade de leite frente a uma procura hesitante.

A visão da indústria

Michele Falzetta, diretora-geral da Latteria Soresina, avalia que 2025 será um ano extraordinário para a produção. Em comentário compartilhado por Clal.it, ela destacou que o verão europeu começou com temperaturas elevadas em junho, o que limitou a produção inicial.

Mas, entre julho e agosto, a produção disparou, com picos de até 10% não apenas na Itália, mas também em outros países.

Entre os fatores que sustentam esse crescimento, Falzetta aponta a adoção de tecnologias de refrigeração mais eficientes, o avanço dos robôs de ordenha, os preços favoráveis do leite cru, o aumento de novilhas disponíveis e a rápida redução dos casos de língua azul.

Esse avanço repentino, porém, também traz implicações. A oferta reage com agilidade, mas a demanda não acompanha o mesmo ritmo, gerando pressões imediatas sobre os preços das matérias-primas.

O impacto no consumo interno

No mercado italiano, o consumo de queijos com Denominação de Origem Protegida (DOP), como o Grana Padano e o Parmigiano Reggiano, vem registrando retração.

Segundo dados da Nielsen, as vendas no varejo caíram 6,3% e 13,4%, respectivamente, em volume nos primeiros sete meses do ano. Parte dessa queda foi compensada pelas exportações, mas o desafio doméstico permanece.

O preço médio desses produtos torna difícil para muitos consumidores manterem o mesmo nível de compra em comparação ao ano anterior. Muitos optaram por alternativas mais baratas. Além disso, o poder de compra da população caiu cerca de 8% nos últimos três anos, o que acentuou a mudança de hábitos.

Nesse contexto, Falzetta sugere que o mercado pode estar diante de uma oportunidade. Um eventual reposicionamento dos preços poderia reativar a demanda latente de consumidores fiéis aos produtos premium, mas que se viram limitados financeiramente.

Reposicionamento e dignidade do leite

Em sua análise, Mirco De Vincenzi, analista sênior de lácteos da Clal Srl, reforça que esse processo de reposicionamento pode beneficiar o setor como um todo. Para ele, é essencial enxergar o leite como um produto valioso, cuja dignidade foi recuperada nos últimos anos.

De Vincenzi destaca ainda que não se deve temer as leis do mercado, mas sim aprender a navegar nelas, evitando especulações que prejudiquem produtores, indústrias e consumidores.

Perspectivas para o setor

O desequilíbrio atual entre oferta e demanda gera incertezas, mas também abre espaço para ajustes estratégicos. O aumento da produção, favorecido por condições climáticas mais estáveis e pela adoção de novas tecnologias, mostra a resiliência do setor.

Por outro lado, a retração da demanda, impactada por fatores macroeconômicos e pelo enfraquecimento do consumo em mercados-chave como China, Europa e Estados Unidos, coloca pressão sobre preços e margens.

O desafio do setor lácteo em 2025 será encontrar o ponto de equilíbrio, reposicionando produtos para estimular o consumo sem comprometer a rentabilidade. Para isso, será fundamental alinhar estratégias comerciais, inovação e competitividade com o cenário econômico global.

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