Corantes artificiais nos EUA estão sendo eliminados da indústria de alimentos e bebidas, em um movimento impulsionado tanto por novas regulamentações estaduais quanto pela crescente demanda dos consumidores por ingredientes naturais. Empresas globais e organizações do setor lácteo assumiram compromissos voluntários para abandonar os aditivos sintéticos, enquanto autoridades federais apertam as regras sobre segurança alimentar.
A reportagem foi publicada pela Forbes Agro e destaca como marcas icônicas, incluindo Campbell’s, Hershey, General Mills, Conagra Brands, Kraft Heinz, Nestlé USA e J. M. Smucker, estão redesenhando seus portfólios. No caso da Campbell’s, a transição será concluída a partir da segunda metade de 2026, quando a empresa deixará de produzir alimentos e bebidas com corantes artificiais.
Entre as mudanças já anunciadas, produtos como os biscoitos Lance, o suco V8 Splash e snacks de marcas como Jay’s, Archway e Stella D’oro passarão a usar pigmentos naturais, como urucum e concentrado de cenoura roxa. Segundo comunicado da Campbell’s, a decisão atende ao desejo de consumidores por “ingredientes simples e reconhecíveis” e reflete o compromisso da empresa em oferecer alimentos de qualidade.
Laticínios e escolas no centro do debate
A International Dairy Foods Association (IDFA) também aderiu ao movimento, com um compromisso voluntário de eliminar corantes artificiais certificados de produtos lácteos vendidos em escolas K-12 nos Programas Nacionais de Merenda e Café da Manhã Escolar. A meta é cumprir a mudança até julho de 2026, retirando substâncias como Vermelho nº 3, Vermelho nº 40, Verde nº 3, Azul nº 1, Azul nº 2, Amarelo nº 5 e Amarelo nº 6 de leite, queijo e iogurte.
O presidente da IDFA, Michael Dykes, afirmou que a decisão reforça a promessa da indústria em oferecer opções nutritivas para crianças. A secretária de Agricultura dos EUA, Brooke Rollins, destacou que essa transição é conduzida de forma voluntária, sem imposição do governo, e responde à demanda dos consumidores.
Reguladores e estados pressionam
Nos Estados Unidos, a FDA e o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) têm pressionado as companhias a retirarem corantes derivados do petróleo, considerados preocupantes para a saúde. O comissário da FDA, Marty Makary, classificou os aditivos como “uma sopa tóxica de produtos químicos sintéticos”.
Além do governo federal, pelo menos cinco estados já aprovaram leis próprias proibindo o uso desses aditivos em alimentos fornecidos em escolas: Arizona, Califórnia, Utah, Virgínia e Virgínia Ocidental. A cidade de Nova York também anunciou regras que entram em vigor em julho de 2026, restringindo corantes artificiais em refeições servidas por 11 agências municipais, o que inclui hospitais e escolas, totalizando mais de 219 milhões de lanches e refeições anuais.
A comissária interina de Saúde de Nova York, Michelle Morse, afirmou que o objetivo é garantir acesso a alimentos mais saudáveis e nutritivos, destacando também medidas contra carnes processadas e adoçantes artificiais.
Um mercado em transformação
A transição não está isenta de desafios. A International Association of Color Manufacturers alertou para possíveis problemas na cadeia de suprimentos, aumento de custos e inconsistências regulatórias. Apesar disso, cresce entre as empresas a percepção de que a eliminação de corantes artificiais pode ser um diferencial competitivo no mercado, já que consumidores associam a ausência desses aditivos a escolhas mais saudáveis.
A FDA, por sua vez, já aprovou alternativas naturais, como novos pigmentos azuis e brancos derivados de flores e algas, ampliando o leque de opções para a indústria. Algumas companhias estão destacando em suas embalagens o uso de ingredientes como beterraba e páprica em substituição aos aditivos químicos.
Para o setor lácteo, em especial, a retirada dos corantes artificiais em produtos voltados ao público infantil é vista como uma oportunidade de fortalecer a imagem de alimentos nutritivos e transparentes, ao mesmo tempo em que acompanha a evolução regulatória.
Assim, a paisagem alimentar dos Estados Unidos caminha para se tornar mais “natural”, refletindo tanto pressões regulatórias quanto a busca dos consumidores por produtos mais saudáveis e simples. O fim dos corantes artificiais parece ser um caminho sem volta — e os laticínios estão no centro dessa transformação.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Forbes