ESPMEXENGBRAIND
23 set 2025
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⚠️ Reguladores americanos avaliam classificar iogurte como ultraprocessado, provocando lobby de gigantes do setor lácteo.
🧾 Nova regra nos EUA pode rotular iogurte como ultraprocessado
🧾 Nova regra nos EUA pode rotular iogurte como ultraprocessado.

O termo “alimento ultraprocessado” se tornou o centro de uma disputa regulatória nos Estados Unidos, e até o iogurte — produto tradicionalmente associado à saúde e nutrição — entrou no radar.

Segundo reportagem da Bloomberg, o governo norte-americano, sob a liderança do secretário de Saúde Robert F. Kennedy Jr., pretende criar até o fim do ano uma definição federal e um rótulo visível na frente das embalagens para identificar os chamados ultraprocessados.

A medida, apresentada em um evento oficial do governo Trump sobre saúde infantil, visa combater o que Kennedy Jr. considera uma das principais causas das doenças crônicas no país. A pressão, no entanto, gerou forte reação de associações e empresas de alimentos, incluindo gigantes do setor lácteo como a Danone.

Indústria láctea em alerta

A Danone, por exemplo, desenvolveu um processo de fermentação específico para sua linha Oikos Pro, a fim de aumentar a proteína, reduzir o açúcar e garantir textura suave. O receio é que ajustes como esses acabem enquadrando o produto na categoria de ultraprocessado.

“Não queremos ver uma definição que demonize alimentos ricos em nutrientes, como os laticínios”, declarou Roberta Wagner, vice-presidente sênior de assuntos regulatórios da International Dairy Foods Association (IDFA), que tem feito lobby direto junto à Casa Branca e a agências federais.

O temor do setor é compreensível: caso os iogurtes passem a carregar o selo de ultraprocessados, eles poderiam ser colocados na mesma prateleira regulatória de cachorros-quentes ou biscoitos industrializados, reduzindo seu apelo entre consumidores que buscam saúde.

Impacto sobre consumo e diretrizes

As mudanças não afetariam apenas a rotulagem. O governo também avalia recomendar redução no consumo de ultraprocessados na atualização das diretrizes dietéticas federais, prevista ainda para este ano. Essas orientações têm efeito direto em programas públicos como a merenda escolar.

A NielsenIQ aponta que o iogurte grego já está presente em 74% dos lares americanos, confirmando o crescimento do segmento de alto teor proteico. Uma eventual classificação como ultraprocessado poderia comprometer essa expansão.

O dilema da definição

O debate ganha complexidade quando entram em cena alimentos “funcionais”, projetados para oferecer benefícios, como maior proteína, menos açúcar ou presença de fibras. Além de iogurtes, isso incluiria pães integrais com conservantes, molhos prontos e carnes vegetais como as da Beyond Meat.

Nos EUA, mais da metade das calorias consumidas é considerada ultraprocessada pelo sistema NOVA, criado no Brasil e amplamente utilizado pela Organização Mundial da Saúde. O modelo divide os alimentos em quatro categorias: in natura ou minimamente processados; ingredientes processados; processados; e ultraprocessados.

Ainda assim, há divergências sobre o que deve prevalecer: o nível de processamento ou a densidade nutricional. “Se a definição não considerar os nutrientes, produtos lácteos como iogurtes e até leite aromatizado poderão ser tratados da mesma forma que refrigerantes”, advertiu Wagner, da IDFA.

Lobby e alternativas regulatórias

A elaboração de uma definição clara pode levar anos, e nesse período as grandes empresas buscam influenciar o processo, como já ocorreu em outras regulamentações. Paralelamente, iniciativas privadas tentam ocupar espaço.

O Food Integrity Collective lançou o programa piloto “Non-UPF Verified”, que promete certificar alimentos não ultraprocessados. Segundo a organização, mais de 200 empresas já aguardam avaliação, entre elas a Spindrift, que usa frutas naturais em suas bebidas.

Enquanto isso, vozes dentro da própria regulação sugerem atalhos. O ex-comissário da FDA, David Kessler, apresentou uma petição para que a agência limite diretamente ingredientes como xarope de milho de alta frutose e farinhas refinadas, em vez de buscar uma definição ampla de ultraprocessado.

Consumidores atentos

O tema também ecoa entre consumidores. A blogueira de culinária Rena Awada, mãe de cinco filhos em Michigan, disse que tenta limitar ultraprocessados em casa, embora valorize a conveniência em certas ocasiões. “Gosto de saber o que estou alimentando meus filhos”, afirmou.

Já o fisiculturista vegano John Thomas, de Tampa, considera algumas opções processadas, como proteína vegetal texturizada, mais saudáveis que guloseimas tradicionais. “É processado, mas não é um Oreo”, resumiu.

Desfecho em aberto

O debate sobre alimentos ultraprocessados nos Estados Unidos está longe de terminar. As empresas pedem clareza e defendem que nutrientes sejam levados em conta; o governo insiste na necessidade de alertar consumidores.

Para o setor lácteo, a questão é estratégica: uma simples classificação pode colocar o iogurte — símbolo de saúde e praticidade — no mesmo rótulo de produtos altamente calóricos e de baixo valor nutricional. E o resultado disso poderá redefinir não apenas prateleiras, mas também hábitos alimentares de milhões de americanos.

*Adaptado para eDairyNews, com informações de Bloomberg

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