A produção de leite no Brasil atingiu um marco histórico em 2025.
Segundo dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a captação formal no segundo trimestre somou 6,5 bilhões de litros, crescimento de 9,4% em relação ao mesmo período de 2024.
Esse desempenho, o maior já registrado para o trimestre, reflete a resiliência da cadeia produtiva e o fortalecimento da formalização no setor, mesmo em um período tradicionalmente desafiador como a entressafra.
O cenário positivo foi favorecido por estabilidade climática, avanços na tecnificação e maior rentabilidade ao produtor, além da ausência de eventos climáticos extremos que impactam diretamente a produção. O resultado reforça o papel estratégico do leite na agropecuária nacional e abre espaço para uma análise mais ampla da evolução do setor.
Força regional da produção
A região Sul segue liderando em volume absoluto de produção, com destaque para Paraná e Rio Grande do Sul. No entanto, o crescimento mais expressivo ocorreu no Nordeste, puxado por estados como Ceará e Piauí, que surpreenderam pela capacidade de expansão em meio a condições históricas de menor competitividade.
O IBGE também apontou que, em 2024, a produção nacional atingiu 35,7 bilhões de litros anuais, o equivalente a 167 litros por habitante considerando a população estimada em 213 milhões de pessoas. Minas Gerais se manteve como o maior produtor, com 9,8 bilhões de litros, seguido por Paraná (4,6 bilhões) e Rio Grande do Sul (4,02 bilhões).
No ranking municipal, Castro (PR) liderou com 484 milhões de litros, seguido por Carambeí (PR), com 293 milhões, e Patos de Minas (MG), com 226 milhões. Esses polos reforçam a importância da integração entre escala produtiva, profissionalização e eficiência tecnológica.
Impacto econômico e rentabilidade
O valor da produção leiteira em 2024 chegou a R$ 87,5 bilhões, com preço médio pago ao produtor de R$ 2,45 por litro, alta de 7,9% em relação a 2023. Apenas no Rio Grande do Sul, o faturamento totalizou R$ 9,5 bilhões, apesar das perdas causadas por enchentes que reduziram a produção estadual em 2,2%.
Municípios gaúchos como Santo Cristo (R$ 183,5 milhões), Estrela (R$ 87,3 milhões) e Teutônia (R$ 85,7 milhões) demonstram o peso econômico do setor para a região.
Produtividade em alta, mas ainda desigual
Outro indicador relevante foi o avanço na produtividade por vaca ordenhada, que cresceu 4,9%, alcançando a média de 2.362 litros ao ano. Ainda assim, o índice permanece considerado baixo quando comparado às regiões mais avançadas do próprio país.
Estados como Santa Catarina e Paraná registraram médias de 3.850 litros, enquanto o Rio Grande do Sul atingiu 3.073 litros por vaca ao ano.
O rebanho nacional soma atualmente 15,13 milhões de vacas ordenhadas, com Minas Gerais na liderança (3 milhões de cabeças). A redução de 3,4% no número de vacas ordenhadas, aliada ao ganho de produtividade, indica maior eficiência técnica no sistema de produção.
A preocupação da informalidade
Apesar do avanço da formalização, o setor ainda enfrenta desafios significativos. Estimativas do IBGE apontam que 29% do leite produzido no país não passa por inspeção oficial, o que representa cerca de 10,3 bilhões de litros informais em 2024.
Esse volume de leite cru, queijos artesanais e derivados sem fiscalização, circula especialmente em regiões com menor controle sanitário, levantando preocupações sobre segurança alimentar e qualidade dos produtos.
Especialistas alertam que defeitos em queijos e leites coloniais, muitas vezes atribuídos a bactérias e fungos indesejáveis, podem indicar falhas de higiene e riscos à saúde do consumidor.
Perspectivas para os próximos meses
À medida que o setor avança em direção ao terceiro trimestre, as expectativas seguem positivas com a chegada do período das águas e a retomada da safra no Sul. O fortalecimento da produção formal e o aumento da eficiência técnica apontam para um futuro promissor, ainda que a questão da informalidade continue sendo um obstáculo estrutural.
O Brasil permanece como importador líquido de leite, adquirindo entre 3% e 6% da sua necessidade de consumo.
Essa dependência ocorre porque o país ainda não produz a custos internacionalmente competitivos. Contudo, especialistas destacam que, com o ritmo atual de crescimento e profissionalização, o país tem potencial para se tornar exportador relevante, a exemplo do que já acontece com frango, carne, grãos e café.
O desempenho histórico de 2025 marca não apenas um avanço estatístico, mas um passo estratégico rumo a um setor lácteo mais estruturado, competitivo e preparado para os desafios globais.
EDAIRYNEWS