A holandesa Lely, multinacional especializada em equipamentos para a automação da pecuária leiteira, inaugurou nesta semana sua nova sede em Carambeí (PR), cidade reconhecida pela forte tradição na produção de leite e marcada pela imigração holandesa.
A unidade, que demandou R$ 10 milhões em investimentos, passa a centralizar as operações da empresa no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, além de atender também o mercado do México, onde a companhia inicia atividades.
O movimento reforça a importância estratégica da América Latina para a empresa. Em entrevista ao AgFeed, o diretor global de mercados da Lely, Norbert van Hemert, afirmou que a nova estrutura vai permitir ampliar a presença nos países da região, acompanhando o ritmo de crescimento da pecuária leiteira.
“Nós vemos esse mercado emergente como um potencial enorme para a pecuária leiteira”, destacou.
Brasil como sede regional
A instalação da base em Carambeí marca o fechamento de um ciclo de dez anos de atuação no Brasil. Nesse período, a Lely consolidou sua presença, trouxe tecnologia e introduziu centenas de robôs de ordenha.
Agora, o próximo passo, segundo a direção da empresa, será o crescimento em escala e a preparação para uma eventual montagem de máquinas no Brasil, possibilidade prevista para o próximo ciclo de dez anos.
“Vamos crescer na América do Sul e no Brasil. Aí nós podemos considerar a montagem aqui. Mas isso não é imediato, é para os próximos 10 anos”, reforçou van Hemert. Atualmente, a única planta industrial da companhia fora da Holanda está localizada nos Estados Unidos.
Avanço da automação
A expansão ocorre em um cenário de forte demanda por tecnologias que aumentem eficiência e produtividade. No Brasil, a adoção de robôs de ordenha cresce a passos largos.
De acordo com a empresa, dos 50 mil robôs comercializados pela Lely desde 1992, cerca de 700 foram para a América Latina, sendo 400 instalados no Brasil nos últimos dez anos. Só em 2024, foram 90 equipamentos vendidos no Brasil e 150 em toda a região.
Esse crescimento representa um salto de 600% no mercado latino-americano nos últimos cinco anos, segundo dados da companhia.
ara o gerente-geral da Lely América Latina, Edison Acherman, o potencial da região justifica os planos de expansão. “Só no mercado brasileiro são 23 milhões de vacas leiteiras. Se pegarmos 10% disso, estamos falando em 2,3 milhões de vacas para poder colocar um robô”, explicou.
A produtividade já mostra resultados concretos. O pecuarista gaúcho Pedro Nólio, de Paraí (RS), foi o primeiro cliente da Lely no Brasil. Hoje, com 134 vacas em lactação, ele alcança média de 10 a 12 litros de leite por animal por dia em todo o rebanho.
“O robô consegue entender quando a vaca precisa ser ordenhada, o que garante mais produtividade e mais saúde para o animal”, afirmou.
Investimento e desafios
Apesar do potencial, o custo dos equipamentos ainda é um desafio para os produtores. Cada robô de ordenha, com unidade de controle central, custa em torno de R$ 1,5 milhão. A realidade de juros elevados no Brasil leva muitos pecuaristas a depender de linhas de crédito.
Segundo Acherman, cerca de 70% das decisões de compra dependem de financiamento, e por isso a empresa busca alternativas junto à matriz na Holanda para oferecer condições de crédito mais acessíveis aos clientes.
Inovação além da ordenha
O portfólio da Lely vai além do robô de ordenha, considerado carro-chefe da empresa. A companhia já desenvolve soluções como robôs coletores de dejetos, aproximadores automáticos de alimento para vacas leiteiras e alimentadores automáticos de bezerros.
Para 2026, está previsto o lançamento de um vagão autônomo para alimentação de animais nos mercados da América Latina.
Perspectivas
Os números demonstram que a automação do leite vem ganhando espaço rápido na região. Projetos de grande porte reforçam essa tendência: o maior empreendimento da Lely no mundo, com 96 robôs de ordenha, está localizado na Argentina. No Brasil, empresas como a Melkstad e a Melkland já figuram entre os clientes mais produtivos da multinacional.
O avanço da automação se traduz em maior eficiência, redução de custos de mão de obra e bem-estar animal — fatores cada vez mais valorizados pelo mercado global.
Para a Lely, a nova base em Carambeí simboliza um ponto de partida para um novo ciclo de crescimento, no qual o Brasil pode se consolidar não apenas como mercado consumidor, mas também como centro de produção tecnológica para a pecuária leiteira.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de AgFeed