O leite está vivendo um renascimento nos Estados Unidos, contrariando previsões de analistas que, nos últimos anos, apostavam na ascensão irreversível das bebidas vegetais como substitutas definitivas.
Dados recentes apontam que, em 2024, o consumo de leite inteiro subiu 3,2%, enquanto o das alternativas vegetais caiu 5,9%.
Esse movimento de retomada não é apenas estatístico: ele revela mudanças de comportamento entre os consumidores, especialmente nas gerações mais jovens e em áreas urbanas.
O crescimento é ainda mais expressivo em segmentos específicos, como as versões sem lactose e orgânicas, que avançaram 7%. Até a categoria da chamada “leite cru” apresentou alta de 17,6%, embora ainda represente uma fatia marginal do mercado.
Segundo a publicação Leche y Salud, três fatores explicam esse fenômeno: proteínas, preço e percepção.
Proteínas completas e naturais
Em um contexto global marcado pela busca de bem-estar físico, os consumidores estão cada vez mais atentos ao consumo de proteínas de alta qualidade. A prática esportiva, a popularização de academias e até o impacto dos medicamentos contra a obesidade reforçam a procura por dietas com alta densidade proteica e baixo teor de açúcar.
Nesse cenário, o leite volta a se destacar. Diferente das alternativas vegetais, ele é uma fonte natural de proteína completa, contendo os nove aminoácidos essenciais, além de minerais como cálcio e fósforo e vitaminas fundamentais para a saúde óssea e muscular.
Essa combinação o coloca em vantagem na comparação com bebidas de soja, aveia, arroz ou amêndoas, muitas vezes enriquecidas artificialmente para tentar equiparar o valor nutricional. O apelo do “natural” se soma, assim, ao diferencial técnico da proteína de origem animal.
Fonte acessível de nutrientes
Outro aspecto que ajuda a explicar o retorno do consumo é o preço. Apesar da pressão inflacionária nos últimos anos, o leite continua sendo uma das fontes mais acessíveis de nutrientes essenciais.
De acordo com Leche y Salud, as alternativas vegetais custam entre 20% e 50% a mais do que o leite de vaca, o que torna a escolha pelo lácteo não apenas uma questão de saúde, mas também de economia doméstica.
Para muitas famílias, sobretudo em um ambiente de custos elevados com alimentação, esse diferencial pesa na decisão de compra e reforça a atratividade do produto.
Produto simples, genuíno e confiável
O terceiro pilar é a percepção. O leite carrega consigo elementos de tradição, confiança e autenticidade que parecem ter sido recuperados pelas novas gerações.
Enquanto muitos alimentos ultraprocessados enfrentam críticas crescentes por causa de aditivos e fórmulas complexas, o leite reaparece como símbolo de simplicidade. Ele representa, na visão de muitos consumidores urbanos, um produto “genuíno”, com menor distância entre o campo e a mesa.
Esse resgate de imagem é significativo porque parte justamente de um público jovem, urbano, muitas vezes desconectado da realidade rural e que, ainda assim, encontra na bebida uma identidade vinculada à saúde e à confiabilidade.
A inversão de expectativas
Há menos de uma década, a previsão dominante no setor era que as bebidas vegetais substituiriam gradualmente a presença do leite nas mesas. A aposta era de que a soja, a aveia e outras matérias-primas vegetais representariam o futuro da categoria, apoiadas por narrativas ambientais, de bem-estar animal e até de moda alimentar.
No entanto, o que os números atuais mostram é uma inversão: a queda de quase 6% no consumo dessas alternativas contrasta com o avanço do leite em seus diversos formatos.
Embora seja cedo para falar em mudança definitiva de ciclo, a tendência sinaliza uma revalorização do produto lácteo, com destaque para sua naturalidade, acessibilidade e densidade nutricional.
Impacto geracional
De acordo com os analistas citados por Leche y Salud, são principalmente os jovens consumidores urbanos que estão impulsionando essa transformação. O movimento tem implicações estratégicas para toda a cadeia láctea: da produção primária até a indústria de processamento e o varejo.
O desafio será acompanhar essa demanda crescente com inovação, comunicação e transparência, reforçando a ligação entre o setor e esse público em busca de autenticidade e saúde.
Se “um gole não faz verão”, como lembra a publicação, o atual cenário ao menos abre espaço para uma reflexão: depois de anos de pressão e perda de espaço, o leite pode estar reconquistando seu lugar no coração – e no copo – dos consumidores norte-americanos.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de seu Content Partner Fedeleche