ESPMEXENGBRAIND
8 out 2025
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A tradicional cooperativa láctea SanCor, em recuperação judicial, apresenta plano para equilibrar contas, manter empregos e retomar a produção na Argentina.
Cooperativa argentina SanCor aposta em plano para reverter crise bilionária.
Cooperativa argentina SanCor aposta em plano para reverter crise bilionária.

A SanCor, cooperativa láctea mais tradicional da Argentina, busca um novo fôlego financeiro para evitar a falência e retomar parte de sua capacidade produtiva.

Em meio a uma dívida que ultrapassa R$ 2 bilhões e a um fluxo de caixa praticamente inexistente, a empresa apresentou à Justiça um plano de reestruturação que pretende restaurar o equilíbrio econômico e garantir a continuidade de suas operações.

O documento foi protocolado no Juizado Cível e Comercial da 4ª Vara de Rafaela, província de Santa Fé, sob responsabilidade do juiz Guillermo Adrián Vales, segundo informações divulgadas pela Forbes Brasil. A cooperativa, que está em processo de recuperação judicial desde o início de 2025, reconhece uma queda de quase 60% na receita no momento em que entrou em concurso preventivo.

Estratégia para equilibrar contas e retomar o fluxo de caixa

De acordo com o plano apresentado, a SanCor pretende equilibrar receitas e despesas, preservar seus ativos e reduzir os prazos de pagamento de dívidas trabalhistas e passivos financeiros. A proposta prevê alcançar um superávit operacional por meio de acordos com credores e da normalização dos compromissos em aberto.

A principal dificuldade, segundo a própria cooperativa, está na falta de crédito. “Os acordos com terceiros não puderam ser formalizados nas modalidades típicas de empréstimos devido à impossibilidade de apresentar garantias reais, considerando nosso contexto judicial”, afirmou a empresa em comunicado citado pela Forbes.

Ainda assim, a SanCor aposta no valor de sua marca histórica e em sua capacidade industrial. A estratégia baseia-se em três frentes:

  1. Compra de leite e insumos com participação nos lucros,

  2. Produção para marcas de terceiros, e

  3. Parcerias industriais e comerciais que ampliem o uso de suas plantas.

Com essas medidas, a cooperativa espera alcançar equilíbrio operacional na primeira etapa, cobrindo seus compromissos mensais com as receitas do mesmo período.

Reestruturação e ajuste de custos

Na segunda fase do plano, a SanCor pretende alienar ativos ociosos e revisar sua estrutura de custos. O objetivo é reduzir despesas administrativas e operacionais sem comprometer a produção essencial.

“Para alcançar o equilíbrio operacional, não basta aumentar as receitas; é necessário também reduzir os gastos”, destacou a cooperativa no relatório. “A maior parte do déficit decorre de custos inelásticos diante da baixa atividade, especialmente em serviços, estrutura administrativa e distribuição. O gasto com mão de obra é o mais significativo.”

Atualmente, a SanCor opera com capacidade mínima. De um total de 14 plantas industriais, restam apenas seis ativas. Em 2024, uma unidade foi encerrada definitivamente, e outras tiveram funcionamento intermitente. No auge de sua história, a cooperativa chegou a processar mais de 3 milhões de litros de leite por dia; hoje, esse volume gira em torno de 500 mil litros diários, com frequentes paralisações.

De símbolo nacional a cooperativa em crise

Fundada em 1938, na cidade de Sunchales, província de Santa Fé, a SanCor chegou a reunir mais de 5 mil produtores associados e exportar para mais de 60 países, incluindo o Brasil. Durante décadas, foi referência em qualidade, inovação e representatividade para o setor cooperativo argentino.

Entretanto, as dificuldades financeiras, a alta carga tributária e a falta de competitividade da indústria láctea local enfraqueceram sua posição. Nos últimos anos, atrasos salariais, dívidas com fornecedores e paralisações trabalhistas agravaram a situação.

Atualmente, a produção se concentra nas plantas de Gálvez (Santa Fé) e La Carlota (Córdoba), especializadas em queijos, enquanto as unidades de Devoto e Balnearia permanecem quase inativas. Em Sunchales, sede histórica e simbólica da cooperativa, os conflitos sindicais continuam intensos — reflexo da longa crise que atravessa o setor.

O peso da dívida e o desafio da sobrevivência

A dívida total da SanCor ultrapassa US$ 400 milhões (cerca de R$ 2,13 bilhões), enquanto o caixa praticamente se esgotou. O cenário levou ao atraso no pagamento de serviços básicos, como energia elétrica e gás, e comprometeu a capacidade de produção regular.

Embora hoje o mercado argentino de lácteos seja liderado pela Mastellone Hermanos (La Serenísima) — controlada pelo grupo Arcor —, a SanCor mantém o prestígio de ser a cooperativa láctea mais emblemática do país.

Com o plano de recuperação, a expectativa é que a cooperativa consiga preservar sua identidade cooperativa, estabilizar a operação e reconstruir, gradualmente, a confiança de seus produtores e consumidores.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de Forbes

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