A Dinamarca se tornará o primeiro país do mundo a implementar um imposto específico sobre as emissões da pecuária, uma medida inédita que visa reduzir a poluição do setor agropecuário e atingir a meta nacional de diminuir 70% das emissões até 2030, em comparação aos níveis de 1990.
O plano foi confirmado pelo ministro dinamarquês para a Transição Verde, Jeppe Bruus, durante a Climate Week NYC, em um evento organizado pelo consulado geral da Dinamarca e a iniciativa Partnerships for the Future, conforme reportado pela Bloomberg News.
Bruus explicou que a proposta não tem como objetivo gerar receita, mas sim incentivar mudanças reais no campo:
“A ideia é que os produtores não precisem pagar o imposto, porque não estarão poluindo”, afirmou o ministro.
Como funcionará o imposto
A partir de 2030, os agricultores dinamarqueses serão taxados por cada tonelada de dióxido de carbono equivalente emitida na criação de vacas e porcos. O país, reconhecido por ser um dos principais exportadores mundiais de carne suína e laticínios, busca equilibrar sua forte produção com metas ambientais ambiciosas.
O modelo dinamarquês se diferencia de experiências anteriores, como a da Nova Zelândia, que havia proposto um imposto semelhante em 2022, mas desistiu da medida dois anos depois devido a protestos de produtores rurais.
Investimentos em tecnologia verde
O governo da Dinamarca já destinou bilhões de coroas para o desenvolvimento de tecnologias que permitam aos produtores reduzir ou compensar suas emissões. Entre as soluções citadas estão aditivos para rações, biopesticidas e sistemas avançados de gestão de dejetos animais.
Um dos projetos destacados é o Bovaer, um aditivo desenvolvido pela empresa DSM Firmenich, que reduz a produção de metano — um potente gás de efeito estufa — ao inibir uma enzima responsável pelos arrotos das vacas.
Além disso, o governo dinamarquês apoia investimentos de até 10 bilhões de coroas (cerca de US$ 1,6 bilhão) em tecnologias de pirólise, capazes de transformar o esterco que gera metano em produtos úteis, como energia e fertilizantes.
Desafios e burocracia europeia
Apesar do otimismo, o ministro Jeppe Bruus reconheceu que os processos lentos de aprovação da União Europeia representam um desafio para a inovação verde.
Segundo ele, empresas que desenvolvem biopesticidas chegam a esperar oito anos por uma aprovação, o que tem levado algumas a considerar mudar-se para os Estados Unidos, onde há menos barreiras regulatórias.
“Queremos estimular o desenvolvimento tecnológico, mas o ritmo da União Europeia pode ser um obstáculo”, comentou Bruus.
Monitoramento e ajustes até 2030
O governo dinamarquês pretende usar os registros detalhados das fazendas já existentes no país para medir as emissões de forma precisa, explicou Niels Peter Nørring, diretor de políticas climáticas e da União Europeia no Conselho Dinamarquês de Agricultura e Alimentação.
Ainda assim, será necessário ajustar o sistema para considerar diferenças entre raças e tipos de criação, a fim de aplicar a taxa de maneira justa e eficaz. O período de cinco anos até a entrada em vigor do imposto permitirá que autoridades e produtores discutam soluções práticas e reduzam o impacto administrativo.
Liderança climática com foco na pecuária
Com essa iniciativa, a Dinamarca reafirma seu papel de líder global em sustentabilidade agropecuária, apostando em inovação e diálogo com o setor produtivo.
O país pretende demonstrar que é possível aliar competitividade, segurança alimentar e responsabilidade ambiental, inspirando outras nações europeias a adotar medidas semelhantes.
Embora a proposta gere debates sobre seus efeitos econômicos, o governo insiste que a medida representa um investimento no futuro do campo — um caminho em direção a um modelo de produção mais eficiente e ambientalmente equilibrado.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Bloomberg