A crise do leite no Oeste de Mato Grosso tem se aprofundado em 2025, atingindo de forma severa tanto os produtores rurais quanto as empresas de laticínios da região. De acordo com reportagem do G1 Mato Grosso, atrasos nos pagamentos e dificuldades financeiras generalizadas têm provocado um cenário de insegurança e abandono da atividade leiteira.
O problema, que já se estende há anos, é resultado de mais de duas décadas sem políticas de incentivo consistentes ao setor.
Muitos produtores optaram por substituir o gado leiteiro pelo de corte, em busca de maior rentabilidade e estabilidade financeira. Essa migração reduziu a oferta de leite cru no mercado, elevando custos e gerando escassez nas prateleiras.
Efeitos acumulados e agravamento da crise
A situação se agravou a partir de 2024, após uma greve organizada pela Associação de Produtores Rurais (APLO). O movimento buscava pressionar as indústrias por melhores condições de pagamento e reajustes nos preços do litro de leite.
Embora tenha chamado atenção para as dificuldades enfrentadas no campo, a paralisação deixou marcas profundas na relação entre produtores e laticínios.
Em 2025, os reflexos da paralisação ainda são sentidos. O atraso nos repasses tornou-se rotina para muitas empresas do setor, e a falta de diálogo tem alimentado o desespero entre os produtores.
Um dos casos mais críticos envolve o Laticínio Vencedor, localizado no município de Quatro Marcos, onde os fornecedores afirmam que os pagamentos vêm sendo realizados de forma parcelada há pelo menos seis meses.
Pagamentos paralisados e silêncio da indústria
Neste mês, o cenário piorou: os valores simplesmente deixaram de ser repassados, sem qualquer explicação oficial. “Não sabemos por onde começar a recorrer. Não se consegue falar com ninguém da empresa”, lamentou um produtor local que preferiu não se identificar.
Segundo ele, a falta de previsibilidade inviabiliza o planejamento das propriedades, que enfrentam altos custos com alimentação, energia e manutenção do rebanho. “A gente continua ordenhando e alimentando o gado, mas não sabe quando vai receber. Assim, fica impossível continuar”, acrescentou.
A equipe do G1 Mato Grosso tentou contato com representantes do Laticínio Vencedor, mas até o fechamento da reportagem não houve retorno.
Risco de abandono da produção e desabastecimento
Enquanto o silêncio das empresas persiste, a incerteza domina o campo. Sem recursos para cobrir as despesas básicas, produtores avaliam abandonar a atividade — o que pode agravar ainda mais a escassez de leite na região.
O temor é que, se novas falências ocorrerem, o Oeste de Mato Grosso enfrente um colapso produtivo, com impacto direto no abastecimento local e nos preços pagos ao consumidor.
De acordo com analistas do setor, a crise atual expõe a falta de políticas estruturantes para a cadeia leiteira, especialmente nas regiões de menor escala produtiva. A ausência de crédito acessível, o custo elevado dos insumos e a concentração industrial colocam os pequenos e médios produtores em situação de vulnerabilidade crescente.
A importância de um plano de recuperação
Especialistas defendem que a recuperação do setor depende de uma ação coordenada entre governo, cooperativas e indústria, com foco na reestruturação financeira das empresas e na valorização do produtor.
Investimentos em assistência técnica, inovação genética e programas de fomento podem ajudar a restabelecer a confiança na cadeia e garantir a sustentabilidade da produção leiteira regional.
Sem essas medidas, a crise do leite em Mato Grosso tende a se aprofundar, reduzindo a competitividade do estado e afetando a segurança alimentar das famílias que dependem do produto.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Expressão Notícias
