ESPMEXENGBRAIND
10 out 2025
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A maior bacia leiteira do Paraná enfrenta queda no número de produtores, desafios de sucessão e concorrência das importações, mas cresce em produtividade.
Região líder em leite no Paraná vive concentração e busca eficiência.
Região líder em leite no Paraná vive concentração e busca eficiência.

A produção de leite no Sudoeste do Paraná vive um momento de transformação.

Embora a região mantenha o título de maior bacia leiteira do estado, o número de produtores está diminuindo enquanto a produtividade cresce. O fenômeno segue uma tendência mundial: menos produtores, mais profissionalização e maior eficiência.

Segundo o médico veterinário e diretor do Laticínios Latco, Valdomiro Leite, o cenário local reflete o que já aconteceu em países como Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Austrália e Nova Zelândia. “Vai diminuindo o número de produtores e profissionalizando aqueles que ficam. O Sudoeste está se modernizando e está bem servido de indústrias”, explica.

📉 Queda no número de produtores, mas aumento na produção

Dados do Sindileite-PR, entidade que representa as indústrias de laticínios e soma 93 anos de história, mostram a dimensão dessa mudança. O presidente-executivo Wilson Thiesen recorda que há 15 anos o Paraná tinha cerca de 117 mil produtores. Hoje, segundo levantamento do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR-PR), esse número caiu para cerca de 37 mil produtores realmente profissionais — ou seja, que entregam leite regularmente à indústria.

Apesar da redução, o volume produzido continua subindo. A explicação está na adoção de tecnologias e no crescimento dos rebanhos nas propriedades que permaneceram. “Quando o produtor confina as vacas, consegue oferecer melhor alimentação e obter mais leite por dia”, detalha Valdomiro.

A saída de pequenos produtores ocorre, em geral, por problemas de sucessão familiar e falta de mão de obra. Muitos jovens optam por outras profissões, o que acelera o processo de concentração nas mãos de quem tem mais tecnologia e estrutura.

👨‍👩‍🌾 Sucessão familiar e automação: gargalos que persistem

O tema da sucessão preocupa o setor. De acordo com Thiesen, o Sindileite e outras entidades já promoveram cursos e encontros sobre o tema, mas reconhece que há um longo caminho a percorrer. “Isso passa pela automação da propriedade e pela ampliação dos serviços de apoio técnico”, afirma.

Outro ponto sensível é a assistência técnica. Embora haja entidades públicas e privadas atuando, muitos produtores ainda resistem às mudanças. “O produtor precisa da assistência, mas nem sempre aceita as recomendações. Já quem adota as boas práticas avança mais rápido”, observa Valdomiro.

Para enfrentar esse desafio, o Sindileite trabalha em conjunto com a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), incentivando programas de assistência técnica integral e gerencial para propriedades de todos os tamanhos, com foco em eficiência e rentabilidade.

🧀 Valorização do produto e mercado regional

A crescente profissionalização também estimula a valorização do leite e dos derivados. O Sindileite coordena há mais de duas décadas o programa Leite das Crianças, voltado à alimentação infantil, e promove iniciativas de educação alimentar, como as “Avenidas do Leite”, que aproximam estudantes do processo produtivo.

O prêmio Queijos do Paraná é outro exemplo de valorização regional, destacando produtos artesanais e industriais com qualidade reconhecida.

Mesmo com a forte produção, o consumo local não acompanha o ritmo. “Precisamos levar o leite e os queijos para São Paulo, Curitiba e outros grandes centros. Concorrendo com produtos de Goiás e Minas Gerais, enfrentamos diferenças de preço e condição de mercado”, comenta Valdomiro.

Thiesen acrescenta: “Hoje, os três estados do Sul produzem mais leite que Argentina e Uruguai juntos”.

🌎 Concorrência externa e importação predatória

Um dos principais desafios é a concorrência internacional. A entrada de leite e derivados da Argentina e do Uruguai preocupa o setor, que defende a regulamentação de volumes e períodos de importação. “Não somos contra importar, mas precisamos evitar práticas que desequilibrem o mercado”, ressalta Valdomiro.

Segundo Thiesen, cerca de 20% do consumo brasileiro de leite vem do exterior. Diante das regras do Mercosul, ele defende que o foco esteja na competitividade interna. “Precisamos produzir com o mesmo valor ou até mais barato, e isso passa pela remuneração por matéria sólida, sanidade animal e logística eficiente”, destaca.

💰 Custo de produção e competitividade

O alto custo de produção continua sendo um entrave. Insumos caros e o acesso limitado a tecnologias comprometem a rentabilidade. “Precisamos de políticas públicas que permitam ao produtor comprar equipamentos com custo menor, aumentar a produtividade e competir com argentinos e uruguaios”, argumenta Valdomiro.

Ele observa que, embora a produtividade média brasileira ainda seja inferior à argentina, o Sudoeste do Paraná já se aproxima dos melhores índices internacionais.

🚜 Futuro da pecuária leiteira

Apesar dos desafios, o futuro da produção de leite no Sudoeste do Paraná segue promissor. Pequenos e médios produtores eficientes devem continuar abastecendo as indústrias regionais.

Para reforçar essa estrutura, o Sindileite-PR planeja instalar em 2026 um núcleo regional no Sudoeste, aproximando ainda mais a entidade dos produtores e das empresas locais. “Como a região é a maior produtora, merece atenção especial”, conclui Thiesen.

O caminho para o setor está traçado: eficiência, escala e profissionalização. Quem permanecer na atividade tende a produzir mais — e quem sair deixará espaço para que outros avancem ainda mais.

*Adaptado para eDairyNews, com informações de Jornal de Beltrão

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