O Parlamento Europeu aprovou, em outubro de 2025, uma proposta que pode transformar a forma como produtos vegetarianos são rotulados no continente.
Com 355 votos a favor e 247 contra, os eurodeputados decidiram proibir o uso de palavras associadas à carne — como “hambúrguer”, “salsicha” ou “bife” — em alimentos de origem vegetal.
A medida, apresentada pela eurodeputada Céline Imart, do Partido Popular Europeu, ainda precisa ser confirmada pelos Estados-membros. Se for aprovada, termos como “hambúrguer vegetariano”, “salsicha vegana” e “bife de soja” deverão desaparecer das embalagens em toda a União Europeia.
🧩 Proteção ao produtor ou confusão para o consumidor?
Para Imart, que também é produtora agrícola, o objetivo é proteger os agricultores e garantir clareza aos consumidores. “Um bife ou uma salsicha são produtos da nossa pecuária, não de laboratório ou de plantas”, afirmou durante a sessão.
No entanto, o tema dividiu fortemente o Parlamento. Deputados do grupo dos Verdes classificaram a proposta como “absurda” e “uma distração patética”, afirmando que a medida não melhora a renda dos produtores rurais nem resolve problemas estruturais do setor agropecuário europeu.
🥩 As palavras proibidas no novo regulamento
O texto propõe reservar para produtos de origem animal 29 termos culinários tradicionais. Entre eles:
- Hambúrguer, bife, escalope, costeleta
- Salsicha, bacon, presunto, linguiça
- Asas, peito, gema de ovo, clara de ovo
- Panados e produtos similares feitos com carne
As empresas que produzem alternativas vegetais terão de buscar novas expressões comerciais — como “disco vegetal” ou “preparado de leguminosas” — para continuar vendendo seus produtos.
🌱 O precedente: o caso do “leite vegetal”
Essa não é a primeira vez que a União Europeia regula a linguagem no setor alimentício. Desde anos anteriores, uma norma semelhante já impede o uso de termos lácteos em produtos de origem vegetal.
Assim, palavras como “leite”, “queijo”, “manteiga” e “iogurte” só podem ser aplicadas a produtos derivados de glândulas mamárias. Por isso, as prateleiras europeias exibem “bebida de aveia” ou “bebida de amêndoas”, e não “leite de aveia” ou “leite de amêndoas”.
A nova votação amplia esse princípio, agora no segmento das proteínas alternativas.
🧠 Consumidor europeu está mesmo confuso?
Segundo um estudo da Organização Europeia de Consumidores, a maioria dos europeus não se sente enganada por expressões como “hambúrguer vegetal” ou “salsicha vegana”, desde que o rótulo indique claramente a origem vegetal do produto.
Os defensores da alimentação plant-based afirmam que a medida é resultado do lobby da indústria pecuária, interessada em frear o crescimento do mercado alternativo de proteínas.
Mais de 400 organizações, entre elas Greenpeace, WWF e sociedades vegetarianas de vários países, assinaram uma carta aberta contra a proposta, argumentando que a decisão restringe a inovação e confunde mais do que informa.
🧭 Impactos e próximos passos
Se aprovada pelos governos nacionais, a nova regra deverá entrar em vigor gradualmente, com um período de adaptação para a indústria de alimentos vegetais.
Especialistas em marketing e rotulagem apontam que os custos de rebranding serão altos, mas também abrirão espaço para novas estratégias criativas de comunicação e identidade visual.
Enquanto isso, os produtores de leite e carne celebram o que veem como uma vitória simbólica na disputa por espaço nas gôndolas europeias. Para eles, a medida reafirma o valor dos alimentos de origem animal e sua ligação cultural com a tradição gastronômica.
O debate, porém, está longe de terminar. À medida que cresce a demanda global por alternativas sustentáveis e o consumo de “leites vegetais” e substitutos de carne, a União Europeia enfrenta o desafio de equilibrar proteção de identidade agrícola, transparência e inovação alimentar.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de O Antagonista