Nestlé vive um momento decisivo no mercado global de alimentos e bebidas.
Às vésperas da divulgação de seus resultados financeiros dos nove primeiros meses de 2025, marcada para 16 de outubro, a gigante suíça enfrenta uma combinação de pressões macroeconômicas, mudança de liderança e revisões negativas de analistas, enquanto a francesa Danone aparece com uma perspectiva mais otimista segundo o J.P. Morgan.
Em um relatório publicado no início de outubro, a equipe de Bens de Consumo Europeus do banco norte-americano colocou a Danone em “Observação Positiva” e rebaixou a Nestlé e a fabricante francesa de bebidas Pernod Ricard para “Observação Negativa”. O documento, reproduzido pela Reuters e pelo Investing.com, destaca que o setor europeu de bens de consumo deve enfrentar alta volatilidade nesta temporada de balanços.
“As expectativas para um terceiro trimestre mais fraco se solidificaram, e o impulso das empresas se deteriorou mais do que o previsto”, diz a nota do J.P. Morgan.
Os analistas apontam que o ambiente de inflação mais lenta e o enfraquecimento da demanda, especialmente na América Latina e na Europa, podem pressionar os resultados de companhias com forte presença global — como é o caso da Nestlé.
🧑💼 Nova liderança à prova de fogo
A pressão chega em um momento de transição na cúpula da Nestlé. Em setembro, a companhia anunciou Philipp Navratil como seu novo CEO, substituindo Mark Schneider. O novo executivo enfrentará seu primeiro grande teste público nesta quinta-feira, quando conduzirá a tradicional conferência de resultados com investidores e jornalistas.
Navratil deve apresentar a estratégia para manter as metas de 2025, ao mesmo tempo em que tenta reconquistar a confiança do mercado após um segundo trimestre abaixo do esperado.
De acordo com os resultados anteriores, a Nestlé teve desempenho fraco em nutrição infantil (queda nas marcas Gerber e Nido), crescimento negativo em petcare nos mercados desenvolvidos e baixo desempenho de alimentos na Europa. O segmento de lácteos e sorvetes registrou um avanço modesto — 1,1% de crescimento orgânico, com apenas 0,2% de crescimento real (RIG) e 0,9% de aumento de preços.
🧪 Inovação como aposta
Para reverter a desaceleração, a Nestlé aposta fortemente em pesquisa e desenvolvimento (P&D). A empresa anunciou recentemente o avanço de uma tecnologia proprietária de microgel de proteína do soro de leite (whey protein), voltada ao público que utiliza medicamentos de controle de peso, como os injetáveis à base de GLP-1.
A inovação permitirá criar bebidas prontas para consumo e soluções nutricionais específicas para perda de peso e recuperação muscular, um mercado em rápida expansão. Também estão no pipeline ingredientes bioativos para recuperação muscular e uma técnica patenteada que aproveita até 30% mais da fruta do cacau na produção de chocolate.
Esses movimentos indicam uma tentativa de recolocar a empresa na rota da inovação e da rentabilidade, apesar do contexto adverso.
💼 Visões de mercado: Danone em vantagem
Enquanto a Nestlé tenta reorganizar suas frentes, a Danone surge com uma visão mais favorável dos investidores. O J.P. Morgan destacou que o grupo francês — dono de marcas como Activia, Alpro e Danoninho — apresenta melhor visibilidade de lucros e múltiplos mais baixos, critérios que lhe garantiram a classificação de “Observação Positiva”.
O banco reforça que empresas com valuation menor e estrutura mais enxuta tendem a resistir melhor à volatilidade do próximo ciclo. Além da Danone, seguem com recomendação de “sobreponderação” companhias como Unilever, Kerry Group, Heineken, Coca-Cola HBC, Anheuser-Busch InBev e Imperial Brands.
🌍 Um contraste franco-suíço que resume o setor
O contraste entre Danone e Nestlé reflete o momento do setor global de alimentos: enquanto algumas empresas conseguem capitalizar tendências emergentes, como lácteos proteicos e produtos funcionais, outras ainda enfrentam queda de demanda e margens comprimidas.
Na América Latina — incluindo o Brasil — a Nestlé mantém posição de liderança no mercado de leite, iogurtes e nutrição infantil, mas também sente os efeitos do enfraquecimento do consumo e do ajuste de preços globais.
Com o novo CEO à frente e a atenção dos investidores voltada ao desempenho do terceiro trimestre, a Nestlé precisará provar que pode reconciliar tradição e inovação, enquanto Danone busca consolidar seu retorno à confiança do mercado.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Dairy Reporter e Investing.com