ESPMEXENGBRAIND
21 out 2025
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Mesmo com a queda de 23% no custo da ração, 68% das fazendas leiteiras relatam margens piores, pressionadas por mão de obra e equipamentos mais caros.
🧮 “Menos custo, menos lucro: o enigma das margens do leite em 2025”. Racao.
🧮 “Menos custo, menos lucro: o enigma das margens do leite em 2025”

O setor de laticínios nos Estados Unidos enfrenta um paradoxo que vem tirando o sono dos produtores: a ração ficou 23% mais barata, mas as margens de lucro continuam se estreitando.

De acordo com economistas das universidades de Cornell, Wisconsin e Penn State, a ração, que historicamente representava cerca de 50% dos custos totais, hoje responde por apenas 35% a 40%.

Isso significa que o alívio trazido pelos menores preços dos grãos já não é suficiente para compensar outros aumentos de despesas.

Custos de mão de obra cresceram cerca de 30% desde 2021, com salários médios acima de US$ 20 por hora, enquanto o financiamento de equipamentos agrícolas subiu até 25%. Além disso, taxas cobradas por cooperativas, entre US$ 1 e US$ 3 por 100 libras de leite, passaram a corroer as margens, algo que não existia há cinco anos.

Segundo os pesquisadores da extensão rural de Wisconsin, a antiga correlação entre preço da ração e lucratividade se rompeu. “Vinte anos atrás, se alguém me dissesse que eu teria ração mais barata e margens piores, eu diria que estava louco”, contou um produtor do centro de Wisconsin.

A desconexão entre os custos e as margens

O programa Dairy Margin Coverage (DMC), do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), foi criado para proteger os produtores quando os custos da ração sobem.

No entanto, sua fórmula continua baseada em preços de milho, farelo de soja e alfafa, ignorando os novos componentes que mais pesam no bolso — energia, juros, equipamentos e trabalho humano.

Enquanto o DMC mostra margens acima do limite de US$ 9,50 por cwt, muitas fazendas relatam dificuldades de fluxo de caixa. Na prática, o seguro cobre o telhado, mas deixa a fundação descoberta.

Custos invisíveis e pressões crescentes

Os aumentos salariais transformaram o mercado de trabalho rural. As fazendas agora competem com armazéns e centros de distribuição, que oferecem salários semelhantes e horários mais previsíveis. Com alta rotatividade e dificuldade de retenção, a produtividade sofre — vacas estressadas e rotinas inconsistentes geram queda de eficiência.

No campo dos equipamentos, o impacto é duplo: preços de máquinas subiram até 25% desde 2021, e as taxas de juros dobraram. Muitos produtores preferem reparar ou compartilhar equipamentos, em vez de adquirir novos. Em algumas regiões, grupos de vizinhos têm feito compras coletivas para dividir custos e riscos.

As taxas cooperativas, outro peso recente, somam-se a esse cenário. Cooperativas de grande porte estão impondo retenções de capital para financiar ampliações e modernização de plantas. O problema é o timing: esses encargos aparecem quando as fazendas estão no limite financeiro.

O papel dos componentes: qualidade versus volume

O sistema de precificação do leite também vem mudando. O valor da gordura butírica, segundo o USDA, atingiu US$ 3,21 por libra em outubro de 2025, representando quase 60% do valor total da Classe III — há cinco anos, era 47%.

Essa valorização favorece produtores que investiram em genética e nutrição para aumentar sólidos, mas nem todos tiveram tempo ou recursos para acompanhar.

Rebanhos Jersey, com maior teor de gordura e proteína, estão se beneficiando. Porém, para muitos, migrar geneticamente é caro e demorado. Como resumiu um produtor da Geórgia: “Gostaria de ter começado a cruzar antes; agora, estou tentando recuperar o atraso com margens apertadas.”

Adaptação: genética, marketing e tecnologia

Algumas fazendas estão encontrando alternativas. Os cruzamentos leite–carne ganharam força, com bezerros mestiços valendo entre US$ 800 e US$ 1.000 a mais do que Holsteins puros.

Já os investimentos em tecnologia, como ordenha robotizada, prometem eficiência, mas exigem alto capital inicial — com retorno de 8 a 12 anos nas condições atuais.

No campo do marketing direto, pequenas e médias propriedades buscam vender leite e derivados localmente, mas o investimento inicial é elevado. Por isso, modelos cooperativos de comercialização — várias fazendas compartilhando processamento e logística — vêm ganhando espaço em regiões como Oregon e Vermont.

Escala e o futuro do leite

Os dados do USDA mostram que grandes fazendas (mais de 2.000 vacas) operam com margens médias de US$ 11,75/cwt, enquanto pequenas propriedades mal cobrem custos com US$ 1,25/cwt. Economistas projetam que a consolidação continuará, com crescimento da produção concentrada em unidades maiores.

Mesmo assim, eficiência e diferenciação permanecem como saídas possíveis. Fazendas médias (300–1.000 vacas) exploram energia renovável, agroturismo e mercados de nicho.

No fim das contas, o paradoxo da ração revela uma verdade maior: a estrutura econômica da pecuária leiteira mudou. As velhas fórmulas já não garantem segurança. Cada operação precisa conhecer seus números e reinventar sua estratégia.

Como resumem os analistas de Wisconsin: “Esperar que as antigas relações de custo voltem a funcionar não é uma estratégia. O setor está reescrevendo suas próprias regras.”

*Adaptado para eDairyNews, com informações de The Bullvine

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