A Danone encerrou o terceiro trimestre de 2025 com resultados mistos: crescimento global sólido, mas gargalos sérios em suas principais apostas de crescimento — os iogurtes ricos em proteína e os coffee creamers nos Estados Unidos.
Segundo dados divulgados pela companhia, as vendas globais avançaram 4,8% no trimestre, alcançando €6,88 bilhões, impulsionadas principalmente pela China, onde as vendas cresceram 13,8% em volume.
No entanto, a América do Norte registrou apenas 1,5% de alta, seu pior desempenho desde 2019 — e o resultado foi sustentado quase exclusivamente por reajustes de preço.
A multinacional francesa manteve sua projeção de crescimento anual entre 3% e 5%, mas reconheceu que enfrenta limitações operacionais e logísticas em algumas categorias-chave.
💪 Alta proteína: o sucesso que falta sair da fábrica
O diretor financeiro global da Danone, Juergen Esser, admitiu que o sucesso da linha de iogurtes de alta proteína — que inclui marcas como Oikos e Yopro — está sendo limitado pela falta de capacidade produtiva.
“Estamos sendo seriamente restringidos pela capacidade de produção”, afirmou Esser a investidores. “Temos novas linhas entrando em operação a partir do quarto trimestre e ao longo de 2026, o que aliviará essa pressão.”
O executivo destacou que o mercado americano representa a maior oportunidade global para o segmento, já que o consumo per capita de iogurte nos EUA é apenas um terço do registrado na Europa. Mesmo assim, a Danone tem operado com cautela, priorizando eficiência enquanto aguarda o aumento de capacidade.
“Temos sido tímidos porque simplesmente não havia capacidade disponível”, explicou.
🧬 De quantidade a qualidade: a nova aposta da Danone
A estratégia da companhia para os próximos anos será evoluir da quantidade para a qualidade da proteína oferecida em seus produtos. Esser apontou uma transformação no comportamento do consumidor, que agora busca proteínas mais funcionais, com respaldo científico.
“As pessoas entendem melhor as diferenças entre as fontes de proteína e como o corpo as absorve”, observou.
Como exemplo, citou o lançamento do Oikos Fusion, um produto com mistura patenteada de proteína do soro do leite, aminoácidos e fibras prebióticas, desenvolvido para apoiar o controle de peso e a manutenção muscular.
Essa aposta reflete uma tendência global: enquanto marcas buscam volume, a Danone quer liderar pelo valor agregado — com produtos mais próximos da nutrição científica do que do simples consumo diário.
☕ Creamers: o ponto fraco do portfólio norte-americano
Se por um lado os iogurtes voam, por outro os cremes de café seguem travados. Nos Estados Unidos, a categoria ainda sofre os efeitos de um recall de produtos no primeiro trimestre, que tirou da Danone parte significativa do espaço nas gôndolas.
“Estamos recuperando a distribuição, mas isso leva tempo. O espaço foi ocupado por concorrentes”, reconheceu Esser.
Enquanto trabalha para retomar terreno, a empresa decidiu aproveitar o momento para alinhar sua marca International Delight às tendências de “clean label” e naturalidade, reforçando a proposta de ingredientes simples e reconhecíveis.
“Estamos dobrando os esforços para recuperar o espaço perdido, mas também para trazer o portfólio de volta à sua essência”, disse o CFO.
Segundo a Danone, a participação de mercado estabilizou no segundo trimestre e a distribuição plena deve ser restabelecida até o início de 2026.
Mesmo com os desafios, a empresa vê potencial de retomada: com o aumento do preparo de café em casa, o segmento de creamers deve continuar crescendo em 2026.
“Trata-se de uma categoria em expansão. As pessoas estão buscando formas mais acessíveis de ter uma boa experiência com café”, avaliou Esser.
🌍 Equilíbrio global: luz na China, sombra nos EUA
O relatório da Danone mostra que suas divisões tiveram desempenho variado:
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Essential Dairy & Plant-Based (EDP): +3,5% (1,7% em volume, 1,8% em preço)
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Specialized Nutrition: +8,3% (6,5% em volume)
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Waters: +2,3% (1,3% em volume)
O crescimento na China compensou o marasmo norte-americano, confirmando o peso crescente do mercado asiático para o grupo. Ainda assim, a empresa precisa resolver seus gargalos industriais nos EUA para sustentar a meta de crescimento orgânico em 2026.
A Danone vive um paradoxo típico da era “pós-láctea”: tem demanda, inovação e posicionamento, mas esbarra na própria estrutura. A corrida por proteínas de qualidade é legítima, mas a lentidão operacional ameaça o ritmo de crescimento em mercados estratégicos.
Enquanto a China confirma sua força e o consumidor europeu mantém fidelidade, a América do Norte segue sendo o ponto de inflexão — onde o grupo precisa provar que consegue combinar escala e diferenciação em um mercado cada vez mais competitivo e sensível a preço.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Dairy Reporter






