O interior de São Paulo vive um novo “boom” do leite — mas, desta vez, em forma de queijo artesanal.
Em apenas três anos, o número de produtores familiares registrados no Estado quadruplicou. Segundo dados da Associação Paulista do Queijo Artesanal (APQA), em 2022 eram apenas seis novas queijarias formalizadas. Agora, em 2025, já são 24.
Somando os empreendimentos já consolidados, quase 60 pequenos produtores operam com selo oficial de inspeção. Ao lado de mais de cem indústrias lácteas, São Paulo se firma como um dos polos mais dinâmicos da produção nacional de queijos.
📲 Digitalização e menos burocracia: o novo motor do campo
O salto produtivo está diretamente ligado à modernização do Serviço de Inspeção de São Paulo (Sisp) Artesanal, que passou a funcionar em formato digital. A plataforma agora permite o cadastro direto no sistema Gedave, reduzindo a burocracia e garantindo prazos definidos.
Além disso, equipes especializadas em inspeção artesanal foram integradas à Defesa Agropecuária, elevando o padrão de segurança e qualidade dos alimentos. O resultado é um sistema mais ágil, transparente e que fortalece a confiança do consumidor.
Em 2024, o setor movimentou R$ 21,84 milhões, uma cifra que reflete não apenas o crescimento da produção, mas também a valorização do produto artesanal como símbolo de identidade e origem.
🧳 Turismo e queijo: uma combinação que movimenta o interior
A valorização do queijo artesanal também passa pelo turismo rural. O governo paulista criou as Rotas do Queijo de São Paulo, projeto que reúne 102 queijarias distribuídas em 77 municípios. Divididas em oito circuitos temáticos, as rotas conectam produtores, consumidores e viajantes em experiências que misturam sabor, cultura e sustentabilidade.
O projeto conta com apoio da Casa Civil e de secretarias como Agricultura, Turismo, Cultura e Desenvolvimento Econômico, consolidando uma estratégia integrada de fortalecimento do interior.
Durante o Mesa SP 2025, evento que celebra a cultura alimentar paulista, as Rotas do Queijo ganharão destaque como modelo de desenvolvimento regional e de valorização da produção artesanal.
⚙️ Regras mais modernas, campo mais forte
O processo de desburocratização começou em 2023, com as resoluções SAA nº 63 e nº 52, que simplificaram o funcionamento do Sisp. Agora, pequenos produtores de alimentos de origem animal — como queijos, mel, ovos e carnes — podem se formalizar 100% online, sem precisar enfrentar o labirinto de papéis e autorizações que antes travava o setor.
Essas mudanças criaram uma equipe técnica exclusiva para atender o segmento artesanal, permitindo que negócios familiares possam crescer e competir em condições mais equilibradas. O impacto é claro: São Paulo impulsionou a regularização da produção e multiplicou os empreendimentos rurais.
Hoje, o Sisp Artesanal já conta com 234 estabelecimentos registrados, sendo 100 dedicados a produtos lácteos, 94 a carnes, 21 a mel, 12 a ovos e sete a pescados.
💬 Um futuro com mais queijo e menos entraves
Com a modernização digital, o apoio institucional e a ascensão do turismo gastronômico, o queijo artesanal paulista começa a romper fronteiras. Mais do que um produto, ele se transforma em símbolo de inovação no campo, com valor agregado, identidade territorial e potencial de exportação.
Mas o desafio agora é manter o equilíbrio entre tradição e escala. A abertura do mercado traz novas oportunidades — e também o risco de descaracterizar o produto artesanal em nome da produtividade.
Para os produtores familiares, a equação é clara: crescer sem perder o sabor da origem. E, para o Estado, o caminho é garantir políticas públicas que sustentem esse avanço sem deixar ninguém para trás.
No ritmo em que vai, São Paulo pode não apenas liderar a produção artesanal no país — mas também provar que modernização e autenticidade podem caminhar lado a lado.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Revista Oeste






