A história da Rich Products é uma daquelas que o setor lácteo adora contar — e o mercado financeiro teme ouvir.
Tudo começou com um filho de leiteiro em Buffalo, no estado de Nova York, e virou um império global avaliado em mais de US$ 7 bilhões, ainda totalmente nas mãos da mesma família.
O protagonista é Robert E. Rich, filho de um leiteiro que, nos anos 1930, ajudava o pai nas entregas de leite pela vizinhança. Curioso e incansável, Rich teve uma ideia que mudaria a história dos alimentos processados: criar um chantili sem leite, mais leve, durável e barato. A inovação nasceu em 1945 — e o “Whip Topping” da Rich’s logo conquistou cozinhas e confeitarias em todo o mundo.
A revolução do chantili sem laticínios
O produto, desenvolvido a partir de uma base vegetal inspirada em pesquisas do laboratório de George Washington Carver, não só desafiou o padrão da indústria como enfrentou 40 processos judiciais movidos por empresas de laticínios que o acusavam de “falsificar creme”.
Nada disso impediu o avanço. Em sete anos, as vendas ultrapassaram US$ 1 milhão, e Robert Rich pai se consolidou como um pioneiro da substituição de ingredientes de origem animal — décadas antes de o tema ganhar força entre consumidores preocupados com saúde e sustentabilidade.
Um legado que cresceu com a mesma receita: controle familiar
Hoje, quem comanda o conglomerado é Bob Rich Jr., de 84 anos, ao lado da esposa Mindy, de 68. O casal mantém o mesmo mantra do fundador: jamais abrir o capital. “Nossa prioridade é permanecer uma empresa de capital fechado por toda a eternidade”, declarou Mindy em entrevista à Forbes.
Com faturamento de US$ 5,8 bilhões anuais, a Rich’s quer alcançar US$ 10 bilhões até 2030, apostando em produtos práticos e inovadores voltados ao setor de food service — como massas congeladas, sobremesas prontas e coberturas para cafés e padarias.
De Buffalo para o mundo — sem sair de casa
Apesar de convites para mudar a sede para estados “de clima mais ameno”, Bob Jr. é categórico: a Rich’s nunca deixará Buffalo. “Somos uma empresa de Buffalo. Vamos lutar pela nossa comunidade”, afirmou.
Entre os clientes da Rich Products estão gigantes como Walmart, Dunkin’, Kroger, Publix e Sodexo. O portfólio vai muito além do chantili original: inclui massas para pizzarias, bolos de sorvete Carvel, frutos do mar SeaPak e até espuma fria para cafeterias.
Mas o coração do negócio continua batendo no mesmo ritmo do leite que inspirou seu fundador — e é isso que faz da Rich’s um caso raro no setor: uma empresa global que jamais abriu mão de seu DNA artesanal e familiar.
O toque humano por trás do sucesso
Bob Jr., ex-jogador de hóquei e escritor nas horas vagas, costuma dizer que “não se pode fazer bons negócios com pessoas ruins”. O atual CEO, Richard Ferranti, recorda uma negociação bilionária que foi abandonada porque a equipe da empresa-alvo “não demonstrava preocupação genuína com os clientes”.
Esse tipo de decisão explica por que a Rich’s segue lucrando há 80 anos consecutivos — algo quase impensável em um mercado globalizado e hipercompetitivo.
Uma empresa de herdeiros, mas sem herdeiros automáticos
Os Rich fizeram questão de estabelecer uma regra rígida: nenhum dos quatro filhos pode trabalhar na empresa sem antes conquistar uma promoção em outra companhia. O sucessor natural parece ser Ted Rich, de 56 anos, hoje diretor de crescimento e presidente do conselho familiar.
Mas, como o próprio diz, “não dá para ficar parado”. A filosofia é a mesma desde o primeiro dia de entrega de leite em Buffalo: mover-se, inovar e manter o negócio dentro da família.
O império do leite — sem uma gota dele
O que começou com o filho de um leiteiro que sonhava com um chantili mais barato virou um dos maiores grupos privados de alimentos dos Estados Unidos.
Enquanto outras empresas seguem abrindo capital e se diluindo em Wall Street, os Rich continuam provando que é possível crescer do leite à fortuna — sem nunca vender uma ação.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Forbes






