Os preços das commodities alimentares voltaram a cair em outubro, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), sinalizando um desaquecimento global puxado por ampla oferta e menor apetite da demanda.
A retração atingiu diretamente o setor de laticínios, que registrou queda de 3,4% em relação a setembro, pressionado pelas cotações mais baixas de leite em pó e manteiga — dois produtos que seguem como termômetro da rentabilidade da indústria global do leite.
O Índice de Preços de Alimentos da FAO — que acompanha uma cesta de commodities como grãos, carnes, óleos, açúcar e produtos lácteos — atingiu média de 126,4 pontos em outubro, ante 128,5 pontos revisados em setembro. A variação representa uma queda de 1,6% no mês e mantém o indicador 21,1% abaixo do pico registrado em março de 2022, quando a guerra no Leste Europeu e as disrupções logísticas inflacionaram os preços mundiais.
Em relação a outubro de 2024, a leve retração confirma um movimento de ajuste estrutural: depois de dois anos de forte volatilidade e especulação, os preços parecem entrar em um ciclo de normalização, mas à custa de margens mais apertadas, especialmente na cadeia do leite.
🥛 Laticínios: exportação abundante derruba preços
O subíndice de laticínios caiu 3,4% em outubro, em linha com a expansão das exportações da União Europeia e da Nova Zelândia. A ampla disponibilidade global de leite em pó e manteiga empurrou os preços para baixo, num cenário em que o equilíbrio entre oferta e demanda permanece frágil.
Segundo a FAO, o mercado de leite em pó foi o mais afetado, com cotações enfraquecidas pela competição entre grandes exportadores e pela desaceleração do consumo em mercados emergentes. Já a manteiga perdeu tração diante da abundância de estoques e da maior eficiência produtiva nos polos tradicionais, reduzindo o espaço de recuperação dos preços no curto prazo.
O recuo pode aliviar o custo de importação em países deficitários, como o Brasil, mas também reforça o risco de desvalorização da produção local — especialmente em momentos de aumento dos custos internos de alimentação animal e energia.
🍬 Açúcar derrete e carnes invertem trajetória
Entre as demais commodities alimentares, o açúcar teve queda expressiva de 5,3%, atingindo o nível mais baixo desde dezembro de 2020. O recuo foi atribuído à forte produção brasileira e à expectativa de colheitas robustas na Tailândia e na Índia, somadas à queda do preço do petróleo bruto, que reduz o incentivo à produção de etanol e pressiona o açúcar para baixo.
As carnes, por sua vez, registraram redução de 2%, quebrando uma sequência de oito meses de alta. As maiores quedas ocorreram nas proteínas de suíno e aves, enquanto a carne bovina seguiu valorizada, impulsionada pela demanda internacional — em especial da Ásia.
🌾 Cereais: novo recorde histórico previsto para 2025
Em relatório separado, a FAO projetou a produção mundial de cereais em 2,99 bilhões de toneladas em 2025, um novo recorde histórico. A estimativa supera a projeção anterior (2,971 bilhões) e representa um aumento de 4,4% sobre 2024, com destaque para o desempenho do milho e do arroz.
O cenário indica uma recomposição de estoques e redução da pressão inflacionária global, ainda que o setor agroexportador siga vulnerável a eventos climáticos extremos e à instabilidade geopolítica em regiões produtoras.
🌍 Uma calmaria aparente
A segunda queda consecutiva no índice global reforça a percepção de que o ciclo de supervalorização das commodities alimentares perdeu força. Contudo, especialistas alertam que essa “calmaria” pode ser apenas aparente: o equilíbrio atual depende de boas safras e estabilidade política, duas variáveis cada vez mais incertas.
Para o setor lácteo, a mensagem é clara — e preocupante. Preços internacionais mais baixos reduzem a competitividade de exportadores tradicionais e aumentam o desafio para indústrias locais que enfrentam custos internos elevados e demanda interna enfraquecida.
Enquanto o açúcar derrete e os cereais se multiplicam, o leite tenta encontrar um ponto de equilíbrio entre a oferta farta e o consumo tímido. E, no jogo global das commodities, quem perde margem perde fôlego.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Investimentos e Notícias






