ESPMEXENGBRAIND
19 nov 2025
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19 nov 2025
🏔️ Tradição, terroir e indicação geográfica colocam o queijo europeu no radar de viajantes curiosos e movimentam economias locais.
🧭 Indicação geográfica vira motor de viagens, preserva tradições e amplia o apelo global dos queijos artesanais da União Europeia.
🧭 Indicação geográfica vira motor de viagens, preserva tradições e amplia o apelo global dos queijos artesanais da União Europeia.

A indicação geográfica deixou de ser um selo técnico para se transformar em um verdadeiro motor de viagens dentro da União Europeia.

Em um continente que produz cerca de 150 milhões de toneladas de leite cru por ano e alcançou um recorde de 10,85 milhões de toneladas de queijo em 2024, segundo dados citados em relatos setoriais, a tradição queijeira ganhou uma nova dimensão: virou roteiro turístico, experiência cultural e cartão-postal econômico.

De acordo com o escritor e educador de queijos Patrick McGuigan, consultor da campanha “More Than Only Food & Drink”, os selos europeus PDO (Denominação de Origem Protegida) e PGI (Indicação Geográfica Protegida) “não apenas preservam tradições, mas colocam regiões inteiras no mapa gastronômico mundial”. Para ele, o impacto sobre o turismo é evidente: paisagens, modos de fazer e sabores únicos têm atraído um público cada vez mais curioso.

Um levantamento italiano de 2025 confirma essa virada cultural. Segundo a pesquisa, 32,7% dos viajantes italianos participaram de ao menos uma experiência ligada ao queijo nos últimos três anos — um salto de 7,3% em relação a 2021. Embora mais recente do que o enoturismo, o chamado cheese tourism cresce de forma consistente e já é apontado por analistas como uma oportunidade concreta para fortalecer comunidades rurais e manter vivas práticas que, de outra maneira, estariam em risco.

McGuigan, que percorreu o mundo para conhecer mestres queijeiros e técnicas tradicionais, observa que a relação entre terroir e clima influencia diretamente textura, aroma e sabor. Ele destaca que “há centenas de histórias fascinantes por trás de queijos artesanais europeus, muitas delas nascidas das dificuldades enfrentadas por agricultores para sobreviver em ambientes desafiadores”. E são justamente esses cenários dramáticos — vales isolados, montanhas imponentes, costas ventosas — que hoje encantam turistas em busca de experiências autênticas.

Regiões como a Normandia e os Dolomitas italianos já têm rotas consolidadas, mas outros países vêm buscando a proteção oficial para resgatar suas tradições e atrair visitantes. Um exemplo emblemático é o Ġbejna tan-nagħaġ PDO, de Malta, o primeiro produto alimentício maltês a receber o selo europeu. Trata-se de um queijo fresco de leite de ovelha que, conforme relatos técnicos, exige que 55% da alimentação dos animais seja cultivada localmente. Além disso, a proteção restabeleceu o uso de coalho de cordeiro, garantindo uma identidade específica ao produto e protegendo os rebanhos do país.

“Eu mesmo não conhecia a tradição queijeira de Malta”, admite McGuigan. “É ótimo ver o país ganhar visibilidade. Isso também desperta curiosidade sobre outros queijos malteses e abre caminho para novas PGIs e PDOs.”

Outra história que atrai turistas é a do Kaffeost PDO, o “queijo de café” do extremo norte da Suécia. Produzido apenas nas regiões mais setentrionais e com leite cru da mesma área, ele é tradicionalmente aquecido em pequenos cubos dentro de café fervente — um costume que surpreende visitantes. McGuigan lembra que, após a Segunda Guerra Mundial, a produção artesanal sueca quase desapareceu. A conquista do PDO, impulsionada por cooperativas locais, resgatou essa cultura e voltou a atrair atenção global.

A diversidade europeia também se expressa em países com longa tradição. A França tem o Pérail PGI, um queijo de história humilde que, segundo narrativas setoriais, surgiu a partir do leite que sobrava após a produção de Roquefort. Só nos anos 1980 ele começou a ser comercializado de forma estruturada, e agora sua proteção reforça o valor cultural desse produto. Já na Espanha, o Queso de Burgos PGI lembra ao mundo que o país vai muito além do famoso Manchego. A região de Castela e Leão produz vários queijos protegidos e é conhecida por misturar leite de diferentes espécies — uma prática nascida da necessidade, especialmente no inverno, quando o volume de leite ovino diminui.

A busca por reconhecimento também impulsiona a qualidade. Em 2024, diversos queijos da UE receberam três estrelas no Great Taste Awards, incluindo nomes conhecidos e outros pouco explorados, como Paški sir, Asiago e Queso Castellano. Para McGuigan, essa diversidade premiada demonstra que o continente tem muito mais a oferecer do que suas marcas mais famosas. “Existem muitos queijos esperando para ser descobertos”, afirma.

No fim das contas, o crescimento do turismo do queijo reforça um ciclo virtuoso: a indicação geográfica protege tradições, fortalece comunidades e desperta a curiosidade global, conectando o passado ao futuro por meio de sabores que contam histórias.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de Dairy Reporter

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