ESPMEXENGBRAIND
21 nov 2025
ESPMEXENGBRAIND
21 nov 2025
🥛 Proposta de Ohio para liberar venda direta de leite cru reacende preocupações sobre segurança, testes insuficientes e impactos à imagem do setor.
Ohio reacende disputa pública sobre leite cru e saúde 🧪
Ohio reacende disputa pública sobre leite cru e saúde 🧪

O debate sobre leite cru ganhou novo fôlego em Ohio depois que legisladores estaduais colocaram em pauta o Projeto de Lei HB 406, que pretende autorizar a venda direta de leite não pasteurizado das fazendas ao consumidor final. A simples reaparição do tema tem provocado forte reação dentro da cadeia láctea, especialmente entre especialistas em segurança alimentar e produtores que enxergam riscos sanitários, jurídicos e reputacionais em uma flexibilização desse porte.

Ohio ocupa hoje a 11ª posição no ranking de produção de leite dos Estados Unidos e mantém, desde 1997, a exigência da pasteurização como regra inegociável para todo o leite destinado ao consumo. A legislação é vista por autoridades locais como um mecanismo histórico de prevenção de doenças. O HB 406, no entanto, abre uma brecha significativa: permitir que os produtores ofertem leite cru diretamente ao público, desde que realizem testes bacterianos mensais e recolham dos compradores um termo formal assumindo responsabilidade pelos riscos.

O problema, segundo especialistas que acompanham o setor, é que a biologia do leite cru não respeita janelas de 30 dias. Jason Hartschuch, do serviço de extensão da Universidade Estadual de Ohio, afirmou em audiências recentes que o comportamento microbiano é extremamente instável. Ele explicou que “os níveis de bactérias podem mudar de um dia para o outro”, destacando que patógenos como E. coli e Salmonella podem se multiplicar rapidamente mesmo quando o leite aparenta estar em condições adequadas. Para Hartschuch, testar apenas uma vez por mês equivale a monitorar um risco que evolui em tempo real.

Outro ponto crítico vem das análises do professor Rafael Jiminez-Flores, da Ohio State University, reconhecido por suas pesquisas em ciência do leite. Ele lembrou que dores e tragédias do passado foram decisivas para que a pasteurização se tornasse padrão. Em suas palavras, doenças como tuberculose, brucelose e febre tifoide eram transmitidas com frequência antes da adoção sistemática do tratamento térmico. O pesquisador sublinhou que, apesar do crescente interesse de consumidores por alimentos “naturais”, não há qualquer comprovação científica de que o leite cru ofereça vantagens nutricionais superiores ao leite pasteurizado.

Dentro do setor produtivo, a preocupação também é ampla. A Ohio Dairy Producers Association reforçou publicamente sua oposição ao projeto. O CEO da entidade, Scott Higgins, vem defendendo que a prioridade é proteger o consumidor e, ao mesmo tempo, preservar a credibilidade da cadeia. Para ele, surtos sanitários passados deixaram lições claras: bastam poucos episódios isolados para que toda uma indústria seja colocada sob suspeita — mesmo quando a maioria dos produtores segue padrões rígidos de higiene e controle.

Entre os casos frequentemente lembrados está o da Young’s Jersey Dairy, uma empresa tradicional do estado. Seu CEO, John Young, decidiu há anos abandonar a comercialização de leite cru após enfrentar um surto de salmonela que deixou marcas profundas. Ele relatou que o impacto econômico e reputacional foi tão significativo que a empresa não pretende retomar essa prática, independentemente do que vier a ser aprovado na Assembleia Legislativa. “Foi uma experiência dolorosa para nós e para nossos clientes”, afirmou, ressaltando que a confiança do consumidor é um ativo difícil de reconstruir.

A discussão em torno do HB 406 também expõe um conflito maior: a tensão entre liberdade de escolha e responsabilidade sanitária. De um lado, defensores da medida argumentam que consumidores adultos deveriam poder comprar leite cru diretamente das fazendas, sem intervenção do Estado. Do outro, especialistas em saúde pública alertam que, quando a segurança é relativizada, o custo recai não apenas sobre indivíduos, mas sobre toda a cadeia produtiva — inclusive aqueles que jamais comercializaram o produto em questão.

No campo econômico, consultores do setor apontam que a liberação pode gerar riscos adicionais para pequenos e médios produtores, que teriam de lidar com potenciais ações judiciais mesmo com assinaturas de responsabilidade. Além disso, surtos associados ao leite cru poderiam afetar a confiança do varejo e pressionar o mercado local em um momento no qual os Estados Unidos tentam reforçar certificações e padrões internacionais para ampliar exportações.

Embora o projeto ainda esteja em fase de discussão legislativa, a percepção majoritária entre técnicos é que o tema seguirá polarizando debates. Para a cadeia láctea de Ohio, a questão vai muito além do nicho do leite cru: trata-se de proteger um mercado estabelecido, preservar a confiança do consumidor e evitar que decisões pontuais afetem a reputação construída ao longo de décadas.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de Dairy News

Te puede interesar

Notas Relacionadas