Os lácteos continuam no centro de debates acalorados, mas para o dietista-nutricionista e tecnólogo alimentar Javier García, conhecido nas redes como Entreno Invisible, há um caminho muito mais simples — e ao mesmo tempo mais desafiador — para entender o que realmente importa:
Menos medo, mais ciência e uma boa dose de sentido comum. Durante uma conversa recente, García afirmou que os lácteos permanecem entre “as fontes mais completas de nutrientes que não encontramos em nenhum outro alimento”, desmontando, com naturalidade, parte do pânico alimentar contemporâneo.
Criador do conceito Entreno Invisible, García explica que grande parte da nossa saúde é definida longe dos holofotes: no supermercado, na cozinha e até na forma como respiramos entre uma tarefa e outra.
“O que não aparece nas redes é justamente o que mais pesa”, comenta. Para ele, a indústria do bem-estar vive um paradoxo: treina-se cinco ou seis vezes por semana, mas se come dezenas de vezes mais — e é nesse território silencioso que o corpo decide se está em equilíbrio ou não.
Dentro dessa lógica, os lácteos representam um ponto central. “As pessoas discutem proteínas isoladas, tabelas de calorias, suplementos, mas ignoram alimentos completos que foram a base da alimentação de gerações”, afirma.
García enxerga nos lácteos um exemplo perfeito de como a desinformação transformou comida em motivo de ansiedade. Segundo ele, muitos pacientes chegam carregando listas de proibições, mas pouca clareza. “Tem gente que não sabe mais o que pode comer. A infoxicação alimentar virou um problema real”, alerta.
Essa confusão, segundo o nutricionista, nasce menos dos alimentos e mais da relação emocional que criamos com eles. García costuma repetir que “99,9% das vezes o problema não é a comida, é a relação da pessoa com a comida”. Ele vê medo onde deveria existir discernimento e culpa onde deveria haver escolha consciente.
E embora reconheça que todos temos momentos de fome emocional, defende que isso faz parte da experiência humana, e não um sinal de fracasso. “A comida também é prazer, pausa, companhia. Negar isso é negar a própria cultura alimentar.”
A defesa dos lácteos surge nesse contexto como um convite à reconciliação. García explica que retirar um grupo tão completo da dieta sem necessidade médica fragiliza rotinas nutricionais já bastante afetadas por pressa, estresse e hábitos sedentários.
Para ele, os lácteos ajudam a devolver densidade nutricional a dietas que, no dia a dia, acabam empobrecidas pelas escolhas rápidas. “Se a pessoa passa o dia se mexendo pouco, comendo de forma irregular e dormindo mal, o problema não está no leite”, sintetiza.
Outro ponto central da filosofia do Entreno Invisible é a coerência entre alimentação e movimento. García afirma que não faz sentido copiar a dieta de atletas quando o corpo passa horas sentado.
Nessa perspectiva, os lácteos voltam a ter protagonismo: saciam, oferecem proteínas de alta qualidade e são versáteis o suficiente para caber em rotinas reais, não idealizadas. “As pirâmides alimentares deveriam se mover como nós”, diz. “Para quem é sedentário, para quem treina muito, para quem trabalha em turnos… cada pessoa tem um contexto.”
No consultório, ele percebe que o retorno aos básicos — cozinhar, mover o corpo, descansar — produz mudanças mais duradouras que qualquer dieta da moda. García diz que cozinhar é quase uma ferramenta terapêutica.
“Quando você cozinha, toca a comida, sente o cheiro, entende o que está comendo. Esse contato diminui o medo.” Já o movimento diário funciona como regulador metabólico e emocional: “Meus 45 minutos de atividade física são minha medicina. Não faço yoga, não medito, mas esse tempo me reconecta.”
Ao final da entrevista, García resume sua filosofia em uma frase que, segundo ele, resume tudo: “Não há saúde sem movimento, nem equilíbrio sem contexto.”
E, dentro desse contexto, os lácteos continuam tendo um papel insubstituível — não porque sejam mágicos, mas porque representam exatamente aquilo que faltou à conversa nutricional recente: comida de verdade, ciência básica e um pouco de calma.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de M2






