A fábrica recém-inaugurada pela Piracanjuba em São Jorge D’Oeste, no sudoeste do Paraná, já colocou o pequeno município de 9,5 mil habitantes no radar nacional dos grandes investimentos em alimentos.
Com um aporte total de R$ 612 milhões e apoio do programa Paraná Competitivo, o complexo iniciou nesta semana a produção de mussarela, marcando a primeira etapa de um projeto industrial que combina escala, tecnologia e integração inédita entre queijo, whey protein e lactose no Brasil.
Segundo informações fornecidas pela empresa à redação local, a planta começou produzindo mussarela em barra, o tipo mais consumido no país. Essa primeira fase já amplia a capacidade produtiva da Piracanjuba e reforça sua presença nos mercados do Sul e Sudeste, duas regiões estratégicas para o segmento de queijos. Executivos relatam que a localização foi escolhida para reduzir custos logísticos, encurtar rotas e aumentar a competitividade frente aos principais concorrentes.
O impacto direto sobre a economia regional é significativo. A prefeitura e o governo paranaense estimam a criação de cerca de 250 empregos diretos, além de um efeito multiplicador sobre comércio, serviços, transporte e principalmente o setor agropecuário local. Em visita técnica realizada em outubro, o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Márcio Nunes, destacou que atrair indústrias de transformação é central para dar mais valor à produção rural do estado. Durante a inspeção, ele lembrou que a Piracanjuba começou como uma empresa familiar e hoje emprega mais de 4 mil pessoas em todo o Brasil.
Mas o que mais diferencia a nova unidade não está apenas no volume ou na localização — e sim na integração industrial. O complexo possui 54 mil metros quadrados de área construída e capacidade para processar 1,37 milhão de litros de leite por dia. A partir dessa estrutura, a empresa projetou uma operação que vai muito além da mussarela. Em anexos à queijaria principal, duas outras plantas já estão em construção para transformar o soro de leite, subproduto inevitável da fabricação de queijos, em ingredientes de alto valor agregado: whey protein e lactose em pó.
De acordo com dados fornecidos pelos ministérios da Agricultura e Pecuária e de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o Brasil ainda depende de importações para cerca de 85% do whey protein consumido no país, um mercado que movimentou US$ 54 milhões em 2023. O restante — apenas 15% — vem de poucas indústrias nacionais que produzem o ingrediente em forma de pó, em suas diversas concentrações. Por isso, a aposta da Piracanjuba em uma fábrica já nascida integrada chama atenção de especialistas do setor, que veem no projeto uma oportunidade para reduzir essa dependência e estimular o desenvolvimento tecnológico da cadeia.
Quando as duas unidades complementares estiverem em operação, o complexo paranaense poderá produzir até 6 mil toneladas anuais de whey protein e 14,8 mil toneladas de lactose em pó. Para a empresa, centralizar todas as etapas em um único parque industrial traz ganhos de escala, eficiência energética e logística, além de otimizar o aproveitamento do soro, que antes exigia transporte, tratamento e destinação separados.
A estratégia também reposiciona a região no mapa do desenvolvimento agroindustrial. São Jorge D’Oeste deve experimentar um novo ciclo de dinamismo econômico, impulsionado por investimentos em infraestrutura, aumento da demanda por serviços e valorização de propriedades rurais fornecedoras de leite. Produtores consultados por entidades locais acreditam que a presença da fábrica pode incentivar melhorias de produtividade e maior alinhamento com padrões industriais de qualidade e volume.
Para o Paraná, trata-se de mais um movimento alinhado ao objetivo de fortalecer o parque agroindustrial e ampliar a participação do estado na produção de derivados lácteos de maior valor. Autoridades estaduais destacam que iniciativas desse porte contribuem para reter talentos, criar empregos qualificados e manter a renda circulando dentro do território.
Com a produção de mussarela já em andamento e a instalação das plantas de whey e lactose avançando, a nova fábrica desponta como um dos projetos mais relevantes do setor lácteo nacional nos últimos anos. Em um país onde o consumo de queijos cresce e a demanda por ingredientes funcionais se expande, a aposta integrada da Piracanjuba indica uma virada estratégica capaz de gerar impacto tecnológico, econômico e competitivo — tanto para a indústria quanto para um pequeno município que agora respira ares de grande polo produtivo.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de GMC






