O condomínio leiteiro vem se consolidando como uma alternativa estratégica para produtores que desejam crescer sem assumir grandes investimentos individuais em terra, estrutura ou tecnologia.
Trata-se de um modelo de organização produtiva no qual vários cotistas se unem para operar uma única unidade leiteira, compartilhando custos, riscos, infraestrutura e retorno financeiro proporcional às suas cotas. A combinação entre escala, gestão técnica e automação colocou esse formato no radar de cooperativas e produtores que enfrentam dificuldades de sucessão e limitações de capital.
No Rio Grande do Sul e no Espírito Santo, iniciativas da Dália Alimentos e da Nater Coop mostram como o condomínio leiteiro evoluiu para um modelo mais profissionalizado e competitivo. As cooperativas passaram a administrar a operação de ponta a ponta — gestão financeira, supervisão técnica, nutrição, reprodução e treinamento de equipes — permitindo que os cotistas tenham previsibilidade e acesso a tecnologias que dificilmente implantariam isoladamente.
Luciano Redu, veterinário e coordenador do programa Vale dos Lácteos da Dália, explica que o modelo surgiu a partir de um desafio concreto: a sucessão rural. “A maioria dos produtores de leite na região tem entre 56 e 57 anos e não possui sucessores.
Muitos queriam manter a atividade, mas não enxergavam espaço para investir no futuro da propriedade”, afirma. Com a criação dos condomínios, grupos de pequenos produtores passaram a operar em estruturas modernas, todas com ordenha robotizada, hoje distribuídas em quatro unidades no Vale do Taquari.
A experiência da Nater Coop também ilustra a força do modelo. Em uma área de 54 hectares no Espírito Santo, o condomínio reúne 330 vacas em produção, operando com pastejo irrigado por pivô central, manejo padronizado e uma sala de ordenha de alta tecnologia.
Os custos operacionais — mão de obra, saúde animal, reprodução, nutrição, manutenção — são divididos proporcionalmente entre os cotistas, que recebem retorno financeiro baseado na performance global da propriedade.
Segundo o executivo da cooperativa, Luis Carlos Brandt, o maior desafio está na gestão de pessoas. “A pecuária leiteira exige rotina rígida, cuidado constante com os animais e atenção permanente aos indicadores. Manter a equipe treinada e alinhada é determinante para o sucesso”, relata. Ele destaca também que o controle reprodutivo é um ponto crítico para garantir eficiência ao longo do ciclo produtivo.
Na Dália, a gestão evoluiu ao longo dos anos. Se no início a administração seria conduzida pelos produtores, hoje todo o gerenciamento — técnico e financeiro — é centralizado pela cooperativa. “Isso fez diferença. Os condomínios passaram a operar com mais eficiência e produtividade. Mantemos cerca de 200 animais em cada unidade, com 160 vacas em lactação e médias de 35 a 36 litros por vaca/dia”, explica Luciano.
Os benefícios costumam compensar os desafios. Cotistas que vêm de regiões onde a atividade leiteira não se viabiliza encontram no condomínio uma oportunidade de participar de um negócio tecnificado, com suporte contínuo e ganhos de escala. Além disso, o risco financeiro é menor, já que a cooperativa absorve grande parte da gestão e garante o escoamento da produção para seus próprios laticínios.
Outro benefício expressivo está na logística. Luciano destaca que, com quatro pontos de coleta, a cooperativa carrega cerca de 25 mil litros por dia, algo que antes exigia percorrer longas distâncias para recolher volumes menores e de qualidade inferior. O avanço na qualidade do leite também é significativo, com contagens médias de células somáticas entre 300 e 350 mil células/ml.
Tecnologia e sustentabilidade são pilares do conceito. Sistemas de irrigação e fertirrigação aproveitam resíduos da ordenha, softwares monitoram custos, reprodução, bem-estar e produtividade, e coleiras inteligentes acompanham o comportamento de cada animal. Para a Nater Coop, o bem-estar animal é central para garantir desempenho e longevidade do rebanho.
Mesmo que muitos condomínios ainda estejam longe do máximo potencial econômico, as perspectivas são otimistas. A soma entre escala, gestão técnica e padronização tende a gerar resultados superiores aos de produtores individuais. Como resume Brandt, o objetivo é garantir “retorno mais estável, previsível e com maior segurança para quem investe no modelo”.
O condomínio leiteiro se apresenta, assim, como uma via promissora para enfrentar gargalos de sucessão, elevar a competitividade e acelerar a modernização da cadeia leiteira brasileira.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Canal do Leite






