ESPMEXENGBRAIND
27 nov 2025
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🧪 Novo review sugere que os efeitos dos laticínios ultraprocessados variam por categoria e ainda não permitem afirmar danos claros à saúde.
📊 Série do Lancet revela falhas metodológicas que dificultam avaliar corretamente o impacto dos laticínios ultraprocessados.
📊 Série do Lancet revela falhas metodológicas que dificultam avaliar corretamente o impacto dos laticínios ultraprocessados.

Os laticínios ultraprocessados voltaram ao centro do debate científico após a publicação de uma Série especial do The Lancet, em que pesquisadores revisaram os impactos dos alimentos ultraprocessados (UPFs) na saúde, as políticas globais e o papel das corporações na construção de narrativas públicas.

Embora bebidas açucaradas, snacks e carnes processadas dominem o foco das preocupações, o setor lácteo aparece em um terreno bem mais ambíguo — e marcado por uma notável falta de evidências consistentes.

No conjunto dos três artigos, os autores citam o leite, os iogurtes com sabor, as sobremesas lácteas e os queijos processados dentro das dez principais categorias de UPFs avaliadas. Porém, ao aprofundar a discussão, os próprios pesquisadores reconhecem que o conhecimento disponível sobre os efeitos reais desses produtos ainda é fragmentado.

Em outras palavras, a ciência avança, mas não o suficiente para definir se os laticínios ultraprocessados representam um risco claro ou se parte dessas preocupações deriva de interpretações generalistas sobre o conceito de ultraprocessamento.

A literatura científica atual apresenta resultados contraditórios. Alguns estudos observacionais sugerem que determinados iogurtes fortificados podem reduzir o risco de diabetes tipo 2, enquanto sobremesas à base de leite aparecem associadas a maior mortalidade em análises populacionais.

Ainda assim, os pesquisadores reforçam que tais resultados não podem ser interpretados de forma simplista, já que produtos dentro de uma mesma categoria podem apresentar perfis nutricionais completamente distintos.

No caso de alimentos destinados a crianças — como fórmulas infantis e “toddler milks” — a maior parte das discussões presentes na Série do Lancet não diz respeito a efeitos sobre a saúde, mas a políticas de marketing e regulamentações internacionais.

Isso reforça a ideia de que o campo de estudo ainda está distante de conclusões robustas sobre riscos ou benefícios desses produtos especificamente.

Um dos obstáculos recorrentes é metodológico. Para isolar o impacto do ultraprocessamento, pesquisadores afirmam que estudos futuros deveriam comparar produtos semelhantes em tudo, exceto no grau de processamento — por exemplo, um iogurte natural e um iogurte saborizado com formulações controladas.

Porém, a realidade de mercado dificulta esse desenho: diferenças de açúcar, aditivos, fortificação e perfis sensoriais tornam as comparações estatisticamente frágeis.

Além disso, dietas reais interferem na análise. Pesquisas dietéticas frequentemente carecem de dados detalhados sobre ingredientes, o que leva à classificação incorreta de produtos.

Também importa saber o que o consumidor substitui quando escolhe um alimento ultraprocessado: um iogurte fortificado pode representar uma escolha melhor que uma barra de chocolate, enquanto um sorvete lácteo em substituição a frutas reduz a qualidade nutricional da dieta.

Outro problema é que a maior parte da evidência disponível continua baseada em estudos observacionais, que conseguem identificar associações, mas não causalidade.

Ensaios clínicos randomizados — o padrão-ouro da ciência — ainda são escassos quando o assunto é laticínios ultraprocessados, seja pela dificuldade logística de controle dietético por longos períodos, seja pela complexidade de padronizar produtos e por questões éticas.

Mesmo com essas limitações, os pesquisadores defendem que o tema precisa de mais nuance. Tratar todas as categorias de laticínios ultraprocessados como igualmente problemáticas pode levar a interpretações distorcidas, dificultar políticas públicas equilibradas e até comprometer a comunicação científica com consumidores.

Em setores como o lácteo, onde existe grande diversidade tecnológica e nutricional, simplificações excessivas tendem a gerar ruído.

A Série do Lancet abre espaço para um diálogo mais sofisticado entre indústria, academia e reguladores. Segundo os autores, entender o papel de cada produto dentro da dieta — e não apenas sua classificação como UPF — será fundamental para orientar diretrizes alimentares realmente alinhadas ao impacto nutricional.

Para o setor de laticínios, a mensagem é clara: ainda há muito a ser pesquisado. E, até que as lacunas atuais sejam melhor preenchidas, conclusões definitivas sobre riscos ou benefícios dos laticínios ultraprocessados permanecem prematuras.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de Dairy Reporter

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