A fusão entre FrieslandCampina e Milcobel entrou em sua fase decisiva, marcando um passo histórico para o setor lácteo europeu e reposicionando duas das maiores cooperativas da região.
Segundo informações confirmadas por ambas as entidades, as assembleias dos cooperados estão convocadas para 16 de dezembro, quando será votado o acordo que prevê a incorporação integral da belga Milcobel pela holandesa FrieslandCampina.
O plano estabelece que os produtores da Milcobel passarão a adotar o modelo organizacional, as regras estatutárias e a metodologia de precificação da FrieslandCampina, enquanto as unidades industriais e os negócios da cooperativa belga serão integrados às sete divisões existentes da empresa holandesa. A operação ampliará significativamente a escala da nova estrutura: serão aproximadamente 16 mil membros, vendas anuais próximas de €14 bilhões e um volume de leite estimado em 10 bilhões de quilos por ano.
O movimento foi descrito por fontes próximas ao processo como uma resposta estratégica às mudanças no mercado global de lácteos, às pressões de competitividade e às crescentes demandas por eficiência operacional, sustentabilidade e inovação.
Para a FrieslandCampina, trata-se de fortalecer presença em segmentos de alto valor agregado, como queijos, mozzarella e ingredientes, além de ampliar a capilaridade geográfica. Para a Milcobel, o acordo representa acesso imediato a uma rede internacional mais robusta, capacidade de investimento superior e maior estabilidade de preços para seus cooperados.
Executivos envolvidos na negociação ressaltaram que a fusão abre espaço para otimizar toda a malha industrial combinada. Milcobel opera atualmente seis plantas na Bélgica, que poderão ser redistribuídas dentro da lógica produtiva da FrieslandCampina, reduzindo sobreposição de estruturas, melhorando o uso da capacidade instalada e permitindo investimentos direcionados a unidades mais estratégicas. A maior escala de compras também deve gerar reduções de custos relevantes em insumos e matérias-primas.
Outro ponto central diz respeito à logística de coleta de leite. Como as duas cooperativas mantêm fornecedores em áreas próximas — incluindo Bélgica, Países Baixos, Alemanha e partes da França — a fusão deve viabilizar uma reorganização territorial que reduza distâncias percorridas, consumo de combustível e custos operacionais.
No campo comercial, analistas destacam a força da Milcobel em mozzarella, produto cuja demanda global permanece em trajetória de crescimento acelerada. Projeções citadas por lideranças do setor apontam um avanço entre 4% e 6% ao ano na próxima década, impulsionado sobretudo pelos segmentos de foodservice e alimentos prontos. Integrar esse portfólio a uma rede de exportação consolidada, como a da FrieslandCampina, pode ampliar margem, diversificar destinos e dar mais estabilidade ao novo grupo.
Os produtores da Milcobel também terão incentivos financeiros para permanecer na nova estrutura. De acordo com o documento apresentado aos cooperados, aqueles que seguirem como membros durante os três primeiros anos após a fusão receberão um “bônus de integração” de €8 por cada 100 quilos de leite entregues.
A sustentabilidade, tema de crescente importância no mercado europeu, foi tratada como prioridade no desenho do acordo. As duas cooperativas possuem programas próprios, mas a integração dos produtores belgas ao sistema Foqus Planet, da FrieslandCampina, exigirá uma fase de adaptação.
O plano prevê um período de transição de dois anos, durante o qual os cooperados da Milcobel receberão um prêmio garantido de €0,85 por 100 litros de leite enquanto ajustam suas práticas ao modelo holandês. Atualmente, o Foqus remunera ações como redução de emissões, manejo de pastagens e bem-estar animal, com pagamentos que em 2025 chegaram a €3,50 por 100 quilos de leite, já descontadas as retenções cooperativas.
Combinando escala, especialização industrial, foco em sustentabilidade e governança cooperativa mais robusta, a nova organização deverá ser menos vulnerável a oscilações de mercado. Fontes consultadas avaliam que essa resiliência tende a se refletir em maior estabilidade e, potencialmente, em uma melhor remuneração ao produtor no longo prazo.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Dairy Reporter






