A cottage cheese se tornou, inesperadamente, o produto lácteo mais disputado da Austrália em 2025, após uma explosão de consumo que pegou toda a cadeia de surpresa e desencadeou uma crise de oferta inédita no país.
Fabricantes relatam dificuldades para acompanhar o ritmo, enquanto supermercados trabalham para evitar prateleiras vazias que já viraram rotina em Coles, Woolworths e Aldi.
O fenômeno começou como uma tendência passageira impulsionada pelas redes sociais, onde influenciadores destacaram os benefícios nutricionais do produto — rico em proteína, de baixo teor calórico e altamente versátil na cozinha. Mas, segundo fontes do setor ouvidas pela imprensa australiana, essa onda não recuou: tornou-se um movimento contínuo, que resgatou um clássico dos anos 1970 e o transformou novamente em item essencial no carrinho de compras.
Apesar de uma leve melhora recente nos estoques, o cottage cheese segue difícil de encontrar em várias regiões do país. E, como lembram fabricantes e varejistas, trata-se de um alimento fresco, sem possibilidade real de estocagem prolongada, o que agrava a sensação de escassez entre consumidores.
A Bulla Dairy Foods — uma das maiores produtoras nacionais — reconhece que o setor vive um momento “sem precedentes”. Allan Hood, CEO da companhia, explicou à imprensa local que a empresa “nunca viu um nível de interesse tão elevado por cottage cheese”. Segundo ele, o produto deixou de ser um item tradicional e passou ao status de “sensação nas redes sociais”, especialmente entre consumidores jovens que descobriram o lácteo pela primeira vez neste ano.
Hood informou que a Bulla registra crescimento de dois dígitos na categoria ao longo de 2024 e 2025, resultado direto da viralização do cottage cheese como ingrediente de lanche saudável, refeição rápida ou complemento proteico para treinos. A companhia reagiu acelerando a produção, ampliando turnos e integrando novos especialistas ao time, numa tentativa de manter o abastecimento regular. Mesmo assim, admite que o setor como um todo ainda não conseguiu alcançar a demanda crescente.
Outros fabricantes vivem desafio semelhante. A Brancourt Dairy, sediada perto de Newcastle, também sofre pressão para expandir sua produção sem comprometer qualidade e frescor. Pequenos produtores, como a Cottage Cheese Farm, em Melbourne, e a Moondarra Cheese, na região de Gippsland, enfrentam dificuldades ainda maiores — com capacidade limitada e prazos curtos para entrega.
Segundo executivos do setor, o principal obstáculo é acompanhar “o ritmo avassalador de crescimento”, impulsionado por consumidores que buscam alimentos saudáveis e ricos em proteína. Essa migração rápida de hábitos alimentares, segundo Hood, exige um equilíbrio delicado entre expansão produtiva e preservação das características sensoriais do cottage cheese, tradicionalmente elaborado em pequenos lotes.
O processo produtivo, aliás, não permite grandes atalhos. Cada lote de cottage cheese da Bulla é fabricado localmente, no interior de Victoria, seguindo protocolos que garantem textura cremosa e teor proteico elevado. Após a produção, o produto segue para os principais varejistas do país, que vêm reforçando as reposições para minimizar a ruptura nas gôndolas.
As três grandes redes — Coles, Woolworths e Aldi — confirmam a pressão no abastecimento. Porta-vozes do varejo afirmam que trabalham em linha direta com fabricantes, ampliando pedidos e adaptando a logística para garantir maior estabilidade. Um representante da Coles destacou que a popularidade cresceu de forma “extraordinária” por influência das redes, que multiplicaram receitas criativas e lanches nutritivos com cottage cheese. Segundo ele, fornecedores aumentaram capacidade e operam praticamente 24 horas para atender a demanda.
A Aldi, por sua vez, informou estar atuando com seus parceiros para elevar os volumes disponíveis. A rede lembrou ainda que, em momentos de falta, consumidores podem recorrer a produtos semelhantes, como o Westacre Dairy Smooth Ricotta ou o Westacre Cream Cheese Spreadable — alternativas que têm boa aceitação e perfil nutricional próximo, apesar de não substituírem fielmente o cottage.
O mercado lácteo australiano vive, portanto, um caso emblemático de como uma tendência digital pode reorganizar cadeias produtivas inteiras. Para especialistas do varejo, o auge do cottage cheese evidencia a necessidade de estruturas mais flexíveis, capazes de reagir rapidamente a picos súbitos de consumo. Enquanto isso, consumidores seguem em busca do produto que, de simples clássico retrô, se tornou um símbolo da alimentação saudável moderna.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Nine






