ESPMEXENGBRAIND
4 dez 2025
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🌐 Produção acelerada nos EUA, Europa e Oceania cria excesso de oferta e pressiona preços ao menor nível em anos.
🥛 Analistas veem excesso de oferta global e pouca trégua nos preços até o primeiro semestre de 2026.
🥛 Analistas veem excesso de oferta global e pouca trégua nos preços até o primeiro semestre de 2026.

O excesso de oferta voltou ao centro do debate do mercado lácteo global, impulsionado por uma produção que cresce simultaneamente nas principais regiões exportadoras.

Essa leitura foi reforçada por Lucas Fuess, analista sênior de lácteos da RaboResearch Food & Agribusiness, que descreveu o cenário como uma verdadeira “muralha de leite” construída ao longo de 2025 e que seguirá influenciando o início de 2026.

Segundo o especialista, os Estados Unidos vivem um momento “excepcionalmente raro”, marcado por meses consecutivos de crescimento próximo a 4% na produção de leite em relação ao ano anterior. Ele relatou que os produtores americanos “estão fazendo tudo o que podem para maximizar o volume”, aproveitando a rentabilidade robusta observada em 2024. No entanto, esse esforço coletivo acabou inclinando o mercado para uma situação clara de superoferta.

Fuess explica que a mudança fica evidente ao observar as cotações. Há um ano, os preços do leite oscilavam entre US$ 22 e US$ 23 por cwt. Hoje, o mercado futuro da Classe IV trabalha na faixa de US$ 13 — nível bem abaixo do custo de produção e que indica, sem ambiguidades, que “há leite demais no sistema”. Ele destaca que o setor está experimentando o efeito do tradicional atraso entre o sinal econômico e a resposta produtiva: “não é possível desligar as vacas de um dia para o outro”, afirma.

A pressão não vem apenas dos Estados Unidos. Fuess chama atenção para um movimento semelhante nas demais regiões exportadoras. A União Europeia registrou um avanço muito superior ao previsto para 2025, com países reportando volumes que surpreenderam até os analistas mais otimistas. Na América do Sul, alguns mercados operam perto de 10% de aumento anual. E até a Nova Zelândia, historicamente marcada por fortes oscilações climáticas, caminha para uma temporada potencialmente recorde.

“Quando se soma tudo isso, percebemos que não há região realmente desacelerando a produção”, resume o analista. O excedente global, segundo ele, é resultado do mesmo incentivo: preços que, no ano passado, sinalizaram claramente aos produtores que havia espaço — e lucro — para aumentar o volume entregue.

Esse impulso também aparece na dinâmica do rebanho americano. Fuess relata que, entre meados de 2024 e o outono de 2025, houve um aumento de mais de 200 mil vacas em produção — uma variação muito acima do padrão histórico, que costuma variar cerca de 150 mil cabeças entre ciclos de baixa e alta. O rebanho atual é o maior desde a década de 1990, reforçando o impacto do chamado “beef-on-dairy”, estratégia em que produtores aproveitam tanto o valor do leite quanto o retorno adicional pela venda dos animais.

Em termos de demanda, o cenário é dividido. No mercado interno dos EUA, o consumo avança de forma mais lenta, criando um desequilíbrio momentâneo especialmente visível em categorias como queijos e manteiga, cujos preços estão nos níveis mais baixos dos últimos anos. Por outro lado, as exportações têm sido o grande alívio do setor. Fuess afirma que 2025 deve fechar como um ano recorde para embarques de lácteos americanos, repetindo o bom desempenho observado em 2024.

Mesmo as tensões comerciais globais tiveram impacto limitado no segmento. Graças ao acordo do USMCA, o fluxo para México e Canadá se manteve relativamente estável. Houve apenas um breve contratempo com embarques de soro para a China, relacionado a uma escalada tarifária, mas o analista descreve o episódio como pontual.

Para 2026, a perspectiva ainda é de continuidade da pressão no curto prazo. A demanda costuma perder força após as festas de fim de ano, enquanto a produção avança em direção ao “spring flush”, o pico sazonal norte-americano. Fuess não se mostra otimista com os preços no primeiro trimestre. Contudo, ele projeta que o excesso de oferta deve começar a ceder a partir do meio do ano, à medida que produtores ajustam o tamanho dos rebanhos e respondem à queda nas margens.

“O momento é desafiador, mas não deve durar para sempre”, conclui o analista, que prevê sinais de recuperação durante o segundo semestre de 2026.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de Dairy Herd

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