O avanço no processo de antidumping voltou ao centro do debate do setor leiteiro brasileiro após uma mudança de entendimento técnico dentro do governo federal permitir a continuidade da investigação sobre as importações de leite em pó provenientes da Argentina e do Uruguai.
A decisão foi comunicada nesta terça-feira (2/12), durante uma reunião no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em Brasília, que reuniu o ministro Geraldo Alckmin e lideranças representativas da cadeia produtiva.
De acordo com relatos feitos por participantes do encontro, entre eles Jônadan Ma — presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Leite da Faemg e vice-presidente da Comissão Nacional de Bovinocultura de Leite da CNA —, a pasta reviu o posicionamento que poderia resultar na interrupção da apuração sobre possíveis práticas desleais no comércio de leite em pó. A reversão abre caminho para que o governo mantenha o processo ativo e, se necessário, adote tarifas provisórias enquanto a avaliação definitiva não é concluída.
Jônadan destacou que a manutenção do procedimento investigativo representa um avanço importante num momento marcado por forte pressão sobre os preços recebidos pelos produtores. Segundo ele, a continuidade das importações em volumes elevados interfere de forma direta na renda do campo, e as medidas de defesa comercial são vistas como instrumento essencial para reequilibrar o mercado interno. O dirigente reforçou que o setor seguirá atuando para que a implementação de medidas provisórias ocorra ainda durante a fase de instrução do processo.
A posição é compartilhada pelo presidente do Sistema Faemg Senar, Antônio de Salvo, que reforçou a necessidade de restabelecer condições mais favoráveis de competição para os produtores mineiros e brasileiros. Ele lembrou que as compras externas de leite em pó provenientes dos países vizinhos vêm se mantendo acima do padrão histórico e contribuindo para o desequilíbrio de preços no mercado doméstico. Ao reconhecer a legitimidade do pedido de antidumping, afirma de Salvo, o governo sinaliza compreensão sobre os impactos das importações no atual cenário.
O contexto em que essa decisão ocorre é marcado por uma das crises mais longas enfrentadas pela cadeia produtiva. Desde o início do ano, sucessivas quedas no valor pago ao produtor têm sido registradas, ao mesmo tempo em que os custos básicos de produção permanecem elevados. As importações, que já vinham em crescimento, ganharam ainda mais impulso após o parecer técnico preliminar desfavorável à continuidade da investigação, emitido anteriormente pelo MDIC. Esse movimento se refletiu nos dados mais recentes: entre agosto e setembro, as compras externas aumentaram 28%, revertendo a tendência de queda observada logo após o protocolo do pedido de antidumping, em março, quando havia sido registrada redução de 15%.
Diante desse ambiente, entidades representativas decidiram intensificar a mobilização política e institucional. O Sistema Faemg Senar organiza uma caravana com cerca de 60 produtores para participar da audiência pública marcada para 3 de dezembro, solicitada pela deputada federal Ana Paula Leão. O objetivo do grupo é reforçar presencialmente a defesa da continuidade plena do processo e sensibilizar o governo federal sobre a urgência de medidas de reequilíbrio do mercado.
Lideranças do setor avaliam que a decisão do MDIC traz sinalização positiva, mas reforçam que o acompanhamento continuará intenso até a conclusão do procedimento. Há expectativa de que a audiência pública cumpra papel estratégico para ampliar a visibilidade do tema e consolidar argumentos técnicos que sustentam o pedido de antidumping. A defesa central das entidades é de que a recomposição do mercado interno depende de ações que restabeleçam a previsibilidade e limitem flutuações associadas a oscilações repentinas das importações.
A continuidade da investigação também é vista como oportunidade para aprofundar o diálogo institucional e revisar fluxos de informação entre o setor produtivo e o governo. Representantes da Faemg e da CNA destacaram, em Brasília, que a construção de um ambiente mais estável passa pela adoção de políticas de médio e longo prazo, que considerem tanto a competitividade nacional quanto a sensibilidade social da cadeia leiteira — relevante para milhares de pequenas propriedades rurais em todo o país.
Com a retomada do processo de antidumping, o setor aguarda os próximos movimentos do governo e segue articulado para garantir que o tema permaneça no centro da agenda econômica e agrícola. A expectativa é de que, com a combinação de mobilização, respaldo técnico e diálogo institucional, seja possível avançar para um cenário de maior equilíbrio no mercado do leite em pó em 2025 e 2026.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Gazeta do TriânguloGazeta do Triângulo






