As fórmulas infantis entram em um novo capítulo no Brasil com o anúncio de que a startup de biotecnologia Harmony Baby Nutrition receberá R$ 31 milhões para instalar, em Belo Horizonte, um centro de pesquisa dedicado ao desenvolvimento de produtos mais próximos do leite materno.
O recurso foi aprovado pela Financiadora de Estudos e Projetos e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, em chamada pública voltada à atração e expansão de estruturas de inovação tecnológica.
A empresa nasce de uma inquietação pessoal do farmacêutico mineiro Wendel Afonso, fundador e CEO da Harmony. Segundo ele, a ausência de uma indústria nacional de fórmulas infantis abriu espaço para que multinacionais dominassem o mercado brasileiro por décadas. A dificuldade de sua própria filha com alergias a compostos presentes nas fórmulas tradicionais reforçou sua convicção de que havia uma lacuna relevante a ser preenchida. A partir dessa necessidade, Afonso iniciou, ainda na Universidade Federal de Minas Gerais, pesquisas com hidrolisados proteicos voltados à nutrição clínica, que evoluíram para a proposta atual da startup.
Estudos internacionais reforçam a pertinência técnica da iniciativa. Pesquisas do Hospital Infantil da British Columbia, no Canadá, indicam que um em cada seis bebês apresenta reações adversas a fórmulas baseadas no leite de vaca. Na outra ponta, alternativas hipoalergênicas costumam esbarrar na baixa aceitação sensorial, fator decisivo para adesão das famílias. Para o fundador da Harmony, esse conjunto de desafios evidencia a importância de acelerar soluções que se aproximem do perfil nutricional e do sabor do leite humano.
A proposta que viabilizou o aporte prevê que o novo centro de pesquisa desenvolva uma linha extensa de fórmulas infantis com composição mais limpa, menor teor de açúcares adicionados e ingredientes formulados para imitar proteínas e estruturas presentes no leite materno. Afonso argumenta que o Brasil, ao apostar em ciência aplicada a esse segmento, pode superar uma defasagem histórica. Para ele, Belo Horizonte reúne condições ideais para abrigar um polo de P&D capaz de dialogar com universidades, fornecedores especializados e ambientes de inovação já consolidados na capital mineira.
O executivo destaca que o projeto vai muito além da produção industrial. Segundo ele, o investimento permitirá montar um ecossistema científico que fortaleça a pesquisa nacional, crie massa crítica e posicione o país como referência global em inovação de fórmulas humanizadas. A expectativa é que o centro entre em operação no primeiro semestre de 2026, com a geração inicial de aproximadamente 25 empregos, sendo pelo menos cinco destinados a pesquisadores com mestrado ou doutorado em nutrição infantil.
A Harmony já vinha trilhando um caminho de validação científica antes do aporte. Seu primeiro produto, a fórmula infantil Melodi, foi desenvolvida a partir de uma matriz inspirada no leite materno e alcançou preferência sensorial 61% superior à apresentada por opções hipoalergênicas convencionais. Estudos independentes endossaram o desempenho nutricional do produto, reforçando a estratégia de combinar biotecnologia, engenharia de alimentos e elementos da natureza para criar soluções mais adequadas ao perfil metabólico dos bebês.
Para além do financiamento público, a startup também conta com apoio de investidores privados, que acompanham o plano de expansão internacional da companhia. Parte desses recursos será destinada ao avanço das pesquisas no Brasil e ao fortalecimento das operações nos Estados Unidos, onde a empresa busca ampliar distribuição e validações científicas complementares.
Ao consolidar o futuro centro em Belo Horizonte, a Harmony Baby Nutrition tenta reposicionar o Brasil em uma área estratégica da cadeia global de alimentos. Em um segmento historicamente concentrado e sensível, a aposta em ciência aplicada sugere que as fórmulas infantis poderão, enfim, receber um impulso nacional capaz de alterar sua trajetória tecnológica.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Diário do Comércio
