A manifestação de produtores de leite, ontem pela manhã, teve adesão de gente de vários municípios da região. A concentração próxima ao trevo do Água Branca, em Francisco Beltrão, reuniu produtores e empresários ligados à cadeia leiteira da região da fronteira, de Ampére e Realeza, do Verê, região de Clevelândia e até do extremo oeste catarinense – como Palma Sola e Campo Erê.
Essa união é um indicativo de como as coisas não andam bem para quem atua no setor. Produtores ouvidos pelo JdeB afirmam que estão recebendo até próximo de R$ 1,80 pelo leite, acumulando um prejuízo de 30 centavos pra cada litro produzido. A opção é reduzir a quantidade – vendendo os animais menos produtivos – para não se enterrar de vez e tentar girar algum recurso na propriedade. No começo do ano, recebiam cerca de um real a mais por litro.
O principal problema apontado pelo produtores é entrada de produto de outros países, como Argentina e Uruguai, com preços bem abaixo dos praticados no Brasil. O Paraná revogou a isenção de ICMS para o leite em pó e queijo muçarela, buscando proteger a produção interna, mas a categoria afirma que está havendo uma “importação indireta”, via outros estados, para burlar essa regra.
Falando um pouco sobre o custo de produção para os produtores, hoje o nosso custo ele está acima do preço pago ao produtor. Já faz vários meses, nós estamos no 8º, 9º mês com baixa de preço, então o produtor não suporta mais. Em 2023 passamos por uma crise grande, em 24 melhorou um pouquinho, não conseguimos pagar a conta do 23 e agora em 2025 o negócio despencou de novo e vamos fechar o ano no vermelho. Então o produtor não aguenta mais essa política que não tem estruturação nenhuma na cadeia do leite.
Maciel Comunello – produtor em Francisco BeltrãoO que nós temos hoje, a realidade, é a seguinte: a grande maioria dos produtores não vai conseguir cumprir os compromissos de 2025, e mais de 90% não vão conseguir cumprir os compromissos de 2026, porque hoje muitos produtores estão trabalhando no vermelho, ou seja, nem o ponto de equilíbrio da propriedade estão conseguindo atingir. A situação é gravíssima, não é? E aí, o setor bancário, as cooperativas e a cidade vão sofrer diretamente também com isso. Não há condições do setor se permanecer com os níveis atuais de preço.
Sidiclei Risso – produtor em Marmeleiro
O IBGE indica que entre setembro e outubro, o volume importado de lácteos cresceu 21% e 8%, respectivamente, na comparação mês a mês. Os números totais deste ano se mantêm próximos aos registrados em 2024, quando o Brasil fechou o ano com a maior importação de lácteos da sua história.
Em um cenário de produção interna em expansão, demanda enfraquecida e aumento das importações, o preço cai. Bom para o consumidor, mas traz desequilíbrio à cadeia e prejuízos aos produtores – muitos nem conseguem cobrir os custos com o valor recebido pelo leite.
Por isso a pauta de reivindicações do “Grito pelo leite” foca em medidas que busquem conter a entrada de produtos externos no Brasil – o pedido é pela interrupção total por 120 dias, até a conclusão da investigação por práticas antidumping. Além disso, as reivindicações incluem o alongamento de prazo para pagamento de empréstimos junto aos bancos, com liberação de crédito, e a elaboração de uma política estruturada e abrangente para a cadeia leiteira.
As demandas do movimento formam um documento, que foi oficializado ontem e que será entregue a representantes do governo federal. Se não houver indicação de melhorias a partir destas propostas, a categoria promete parar de novo nas próximas semanas e de uma forma mais contundente.
Lideranças de entidades manifestam apoio aos produtores de leite
Por Flávio Pedron – A manifestação dos produtores de leite desta quarta-feira, 10, em Francisco Beltrão, teve o apoio de várias entidades dos setores produtivo e político e de empresas do agronegócio. Representantes da Amsop (prefeitos), da Associação dos Vereadores (Acamsop), Associação dos Secretários Municipais de Agricultura (Assema), Sociedade Rural e associações de produtores de leite acompanharam a manifestação. Em entrevistas ou pronunciamentos, várias lideranças enfatizaram o apoio às reivindicações dos produtores de leite.
Edinho Cichoski, presidente da Sociedade Rural de Francisco Beltrão, disse que a entidade também está unida aos produtores de leite. “A Sociedade Rural engloba tudo o que for do agronegócio. Nós temos a câmara técnica do leite que tem um olhar para o segmento que é tão importante pra nossa região, e a Sociedade Rural não poderia deixar de estar presente aqui, apoiando o produtor rural, que tá reivindicando melhores condições de produção a nível nacional. Que o governo federal tenha um olhar merecido pra essa cadeia produtiva, favorecendo o nosso produtor da nossa região, vetando o leite em pó que é importado de outros países e se torna inviável a atividade no Brasil.”
Marciano Vottri (PSD), prefeito de Vitorino e membro da comissão agropecuária da Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná (Amsop), veio manifestar seu apoio aos produtores. “Nós, enquanto a Amsop e agentes políticos, nos colocamos à disposição para que essa mensagem dos produtores de leite realmente chegue até onde tem que chegar, até onde o governo possa realmente tomar uma providência e apoiar esse setor tão importante para a região Sudoeste. Nós somos, aliás, a maior bacia produtora de leite do Estado do Paraná, mas os produtores estão dando um grito de socorro, e nós estamos apoiando esse movimento que é, acima de tudo, justo, válido e busca, pacificamente, melhorias de condições da cadeia produtiva como um todo.”
Eduardo Balbinotti, presidente da Associação dos Secretários Municipais de Agricultura do Sudoeste (Assema), de Itapejara D´Oeste, salientou que não teria como a entidade deixar de apoiar a manifestação em Francisco Beltrão.
“Não podemos deixar de apoiar os produtores de leite, que essa crise aí, o nosso Paraná é um dos maiores produtores de leite, o Sudoeste é o maior produtor de leite no Paraná. Não podemos deixar de apoiar e incentivar eles, porque não é certo o que está acontecendo. Todo o investimento que eles têm na área da bovinocultura leiteira e chegar num ponto de importar produto, sendo que a qualidade que nós temos no Paraná é incrível. A gente nem sabe que tipo de produto que vem do outro país.”
Balbinotti adiantou que vai conversar com os demais secretários municipais de Agricultura para ver se encaminha um documento em nome da Assema às autoridades estaduais pedindo que medidas governamentais sejam tomadas em favor dos produtores de leite.
Acamsop
Joel Pickler (MDB), vereador em Salto do Lontra, representante a Acamsop e também produtor de leite, falou das dificuldades da atividade atualmente. Ele criticou aqueles que acham que as pessoas que lidam com leite “estão ricas”. “Eles não levantam cinco horas da manhã pra ir lá tirar o leite, não sabem o quanto que custa para produzir um litro de leite, nós como pequeno produtor, sabem quanto que é sofrido para conseguir”, comentou.
Joel disse que a maioria do pessoal da atividade leiteira está “ganhando menos de dois reais por litro. Não paga o custo de produção. Então, queria, aqui, relatar isso como produtor. Vamos juntos, fortes, não vamos deixar de dar as mãos, não vamos arregar, pra nós conseguirmos atingir os nossos objetivos, que é a melhoria do preço. Nós mantemos as cidades. A maioria dos nossos municípios do Sudoeste são pequenos municípios, onde muitos deles, se não tiver o produtor de leite, não consegue girar o comércio. Se nós não produzir, não gira o comércio, não toca o município. Então, gostaria aqui de falar que a Acamsop tá junto nessa luta com todos vocês.”
Para eDairyNews, com informações de Jornal de Beltrão






