O leite segue entre os alimentos mais consumidos no Brasil — e também entre os mais cercados de dúvidas quando o assunto é saúde intestinal.
Perguntas como “o leite inflama o intestino?”, “forma muco?” ou “fica grudado no organismo?” circulam com força nas redes sociais e em conversas cotidianas, muitas vezes sem respaldo científico. Para esclarecer o tema, médicos de diferentes especialidades têm reforçado o que é mito, o que é risco real e como o alimento, de fato, age no corpo humano.
Dados oficiais indicam que cada brasileiro consome, em média, cerca de 170 litros de leite por ano, volume semelhante ao registrado em vários países europeus. Ainda assim, a tolerância ao alimento varia amplamente. A explicação, segundo gastroenterologistas, está menos no leite em si e mais nas características individuais de cada organismo — especialmente na produção da enzima lactase.
1. Leite não “gruda” no intestino nem produz muco
Um dos mitos mais persistentes é a ideia de que o leite se deposita nas paredes do intestino ou gera uma camada de muco prejudicial à digestão. Médicos ouvidos por veículos regionais e nacionais são categóricos: não existe evidência clínica, endoscópica ou histológica que sustente essa hipótese.
A digestão do leite ocorre no estômago e no intestino delgado, seguindo o mesmo padrão fisiológico de outros alimentos líquidos ou pastosos. “Não há nenhum mecanismo biológico conhecido que permita ao leite ‘aderir’ ao intestino”, explicam gastroenterologistas. Da mesma forma, a sensação de muco relatada por algumas pessoas após o consumo é considerada subjetiva.
Estudos revisados por instituições internacionais mostram que não há aumento mensurável da produção de muco respiratório ou intestinal associado ao consumo de leite em indivíduos saudáveis. Ainda assim, o mito persiste, impulsionado pela desinformação em saúde digestiva.
2. Intolerância à lactose responde pela maioria dos desconfortos
Quando surgem sintomas como gases, distensão abdominal, cólicas ou diarreia após o consumo de leite, a causa mais comum é a intolerância à lactose. Estimativas médicas indicam que entre 40% e 60% dos adultos brasileiros apresentam algum grau de redução na produção de lactase — enzima responsável por quebrar a lactose no intestino delgado.
Sem quantidade suficiente da enzima, a lactose segue para o intestino grosso, onde é fermentada pelas bactérias da microbiota. Esse processo gera gases, altera o trânsito intestinal e pode causar desconforto significativo. A intensidade dos sintomas varia conforme a quantidade ingerida e a sensibilidade individual.
Especialistas fazem questão de diferenciar intolerância de alergia. A alergia à proteína do leite, bem menos comum, envolve resposta imunológica e pode provocar inflamação intestinal, vômitos, lesões de pele e, em casos graves, reações sistêmicas. Nesses quadros, a exclusão total do alimento é necessária, sempre com acompanhamento médico.
3. Derivados fermentados podem favorecer o intestino
Enquanto o leite líquido apresenta digestibilidade variável, alguns derivados ocupam um lugar positivo na conversa sobre saúde intestinal. Iogurtes, kefir e leites fermentados contêm probióticos que ajudam a equilibrar a microbiota, segundo diretrizes internacionais de gastroenterologia.
O processo de fermentação reduz a quantidade de lactose, o que explica por que muitas pessoas com intolerância leve conseguem consumir esses produtos sem sintomas relevantes. Já indivíduos com intolerância moderada ou grave podem apresentar desconforto mesmo com pequenas porções.
Nutricionistas recomendam atenção aos sinais do próprio corpo. Distúrbios como síndrome do intestino irritável, supercrescimento bacteriano ou doença celíaca também podem causar sensibilidade ao leite, exigindo avaliação diferenciada e evitando diagnósticos precipitados.
Avaliação individual é a chave, reforçam médicos
Endocrinologistas e nutricionistas destacam que o leite segue sendo fonte relevante de proteínas, cálcio e vitaminas para grande parte da população. No entanto, a resposta ao consumo é individual, influenciada por genética, microbiota intestinal e fatores ambientais.
Autoridades de saúde recomendam que sintomas persistentes sejam investigados por especialistas. Diferenciar intolerância, alergia e outras condições intestinais evita tanto o sofrimento desnecessário quanto o corte injustificado de um alimento com valor nutricional reconhecido.
Em um momento de crescente interesse popular por saúde digestiva, médicos reforçam: mais do que seguir modismos, compreender como o leite interage com cada organismo é o caminho mais seguro para decisões alimentares equilibradas.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de DT






