Proteínas e fibras passaram a ocupar um lugar central na discussão sobre hábitos alimentares contemporâneos, impulsionadas por tendências digitais que vêm redefinindo a forma como consumidores interpretam saúde, desempenho físico e bem-estar. O avanço dessas narrativas, amplamente difundidas nas redes sociais, indica uma mudança estrutural no consumo de alimentos, com impactos diretos sobre a indústria de alimentos funcionais e, em particular, sobre o setor de laticínios.
Entre os novos termos que ganharam visibilidade está o chamado fibermaxxing, conceito que incentiva o aumento deliberado da ingestão de fibras alimentares. Popularizado em plataformas como o TikTok, o movimento promove alimentos como pães integrais, nozes e sementes, associados à melhora da regularidade intestinal e ao aumento da saciedade, fator frequentemente relacionado ao controle de peso. Segundo analistas de consumo, a viralização do tema transformou a fibra em um ingrediente estratégico dentro da narrativa de alimentação saudável.
Em paralelo, cresce de forma consistente a chamada protein prioritization, expressão utilizada para descrever a preferência crescente por alimentos ricos em proteínas. Esse comportamento se manifesta tanto no mercado de produtos voltados à atividade física quanto no consumo cotidiano, com destaque para itens como o iogurte grego, bebidas proteicas e derivados lácteos com maior densidade nutricional. De acordo com observadores do setor, a proteína deixou de ser associada exclusivamente ao esporte e passou a integrar rotinas alimentares mais amplas.
Especialistas em nutrição e mercado apontam que essas tendências refletem a influência direta das redes sociais na construção de novas narrativas alimentares. A proposta dominante é a busca por um equilíbrio entre força muscular e saúde intestinal, dois objetivos que passaram a ser comunicados como complementares. Nesse contexto, proteínas e fibras são apresentadas como nutrientes-chave, capazes de responder às demandas de um consumidor mais informado e orientado por funcionalidade.
Do ponto de vista nutricional, o equilíbrio entre proteínas e fibras é amplamente reconhecido como fundamental para uma dieta sustentável. Enquanto as proteínas exercem papel central na construção e reparação dos tecidos, as fibras contribuem para a regulação do sistema digestivo e para a proteção metabólica. Não por acaso, esses dois componentes formam a base conceitual dos chamados alimentos funcionais, segmento que segue em expansão no mercado global.
Para a indústria de laticínios, esse movimento abre oportunidades relevantes. A crescente demanda por proteínas, evidenciada pela proliferação de produtos voltados ao desempenho físico, amplia o espaço para queijos, iogurtes e bebidas lácteas com apelo funcional. Ao mesmo tempo, a incorporação de fibras em formulações inovadoras surge como uma estratégia adicional para atender às novas expectativas do consumidor.
No entanto, analistas também levantam questionamentos sobre os limites dessa lógica de maximização nutricional. A ênfase excessiva em ingredientes específicos, ainda que reconhecidamente benéficos, pode levar a abordagens simplificadas da alimentação, baseadas mais em tendências do que em equilíbrio. A dúvida central é se essa cultura de maximizar proteínas ou fibras continuará se expandindo ou se dará lugar a dietas mais diversificadas e equilibradas.
Observadores do comportamento do consumidor indicam que o próximo passo pode ser justamente a integração dessas tendências em padrões alimentares mais amplos. Em vez de escolher entre força muscular e saúde intestinal, cresce a percepção de que ambos os objetivos podem ser atendidos simultaneamente, desde que inseridos em um contexto alimentar variado.
Nesse sentido, a narrativa que começa a ganhar força não é a da substituição, mas a da complementaridade. Proteínas e fibras deixam de ser vistas como escolhas excludentes e passam a ser tratadas como aliadas dentro de um conceito mais abrangente de bem-estar. Para a indústria e para os formuladores de políticas alimentares, o desafio está em responder a essas demandas sem cair na homogeneização das dietas.
Assim como em outros setores da economia alimentar, a diversificação tende a se impor como valor central. O consumidor busca funcionalidade, mas também equilíbrio, transparência e variedade. Proteínas e fibras, ao que tudo indica, seguirão no centro dessa discussão, não como modismos isolados, mas como componentes estruturais de uma alimentação mais consciente e sustentável.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de CLAL News






