A indulgência consciente vem se consolidando como um dos movimentos mais relevantes no comportamento alimentar do consumidor brasileiro.
O prazer de comer segue no centro das decisões, mas agora é acompanhado por critérios como equilíbrio, naturalidade, transparência e propósito. Em vez de abrir mão do sabor, o consumidor passou a escolhê-lo com mais critério, transformando produtos tradicionais em protagonistas de uma nova relação com a alimentação.
Essa mudança é respaldada por dados de mercado. Segundo pesquisa da Ingredion, realizada em 2023, 43% dos consumidores brasileiros afirmam estar mais atentos aos rótulos, priorizando alimentos com menos aditivos e ingredientes artificiais. A leitura do setor é direta: há uma demanda crescente por produtos que entreguem prazer, mas que também transmitam simplicidade, origem clara e processos responsáveis. Nesse contexto, a indulgência deixa de ser associada à culpa e passa a representar uma escolha consciente.
Dentro desse novo cenário de consumo, categorias historicamente ligadas ao conforto e à memória afetiva ganham nova força. É o caso do doce de leite, que passa por uma revalorização impulsionada pela indulgência consciente. O produto, símbolo da tradição láctea brasileira, encontra espaço ao ser reinterpretado com foco em qualidade dos ingredientes, menor teor de açúcar e processos mais naturais.
É nesse ambiente que a Rocca, marca mineira sediada em Pouso Alegre (MG), se posiciona como um exemplo dessa transformação. Com pouco mais de uma década de atuação, a empresa construiu sua proposta a partir de uma receita enxuta e intencional, utilizando apenas leite fresco e 16% de açúcar — percentual significativamente inferior à média do mercado, que pode ultrapassar 25%. O resultado, segundo a empresa, é um doce de leite mais suave, menos enjoativo e com sabor equilibrado, sem abrir mão da cremosidade.
O processo produtivo também reforça essa proposta. O cozimento é longo e cuidadoso, sem o uso de conservantes, espessantes ou aditivos artificiais. Essa escolha garante uma textura encorpada e uma coloração naturalmente mais escura, que se tornou uma assinatura visual da marca. Trata-se de uma combinação que conecta tradição, respeito ao tempo dos ingredientes e valorização da matéria-prima láctea.
Na avaliação de Rosi Barbosa, cofundadora da Rocca, a ascensão da indulgência consciente está diretamente ligada à evolução das expectativas do consumidor. Segundo ela, o público atual busca mais do que um produto saboroso. “O consumidor quer transparência, propósito e respeito às tradições. O diferencial da Rocca está em manter a simplicidade dos ingredientes da fazenda aliada a processos responsáveis, entregando sabor e consciência em cada pote”, afirma.
O movimento também se reflete na expansão comercial da marca. Ao completar 11 anos, a Rocca consolida sua presença em redes varejistas de alcance nacional, como Pão de Açúcar, Oba Hortifruti e Lojas Swift. A estratégia indica que o consumo consciente deixou de ser um nicho restrito e passou a integrar o portfólio de grandes canais, acompanhando uma demanda mais ampla por produtos alinhados a valores de qualidade e sustentabilidade.
Para analistas do setor de alimentos, a indulgência consciente representa uma oportunidade estratégica para a indústria láctea. Em vez de competir apenas por preço ou volume, marcas conseguem agregar valor ao destacar origem, simplicidade e cuidado no processo produtivo. No caso do doce de leite, isso significa reposicionar um produto tradicional como uma experiência sensorial e emocional, conectada a momentos de pausa, prazer e presença.
Ao contrário do que se poderia imaginar, a indulgência consciente não limita o prazer. Pelo contrário, ela o amplia. Ao compreender o que consome e por que consome, o consumidor transforma cada escolha em um gesto mais significativo. No segmento lácteo, esse movimento reforça o papel de produtos autênticos, capazes de unir sabor, memória e responsabilidade em um mesmo pote.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Portal A|I






