ESPMEXENGBRAIND
29 dez 2025
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🥛 A compra de leite em pó pela Conab ajuda, mas criadores avaliam que falta escala e engajamento da indústria para sustentar preços ao produtor.
🐄 Com foco no leite em pó, aporte público de R$ 106 milhões é visto como paliativo por associações do Sul do Brasil. Conab.
🐄 Com foco no leite em pó, aporte público de R$ 106 milhões é visto como paliativo por associações do Sul do Brasil.

Leite em pó voltou ao centro do debate da cadeia leiteira brasileira após o anúncio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de um pacote de compras públicas para mitigar os efeitos da queda de preços enfrentada pelos produtores.

A iniciativa foi apresentada durante encontro realizado em Porto Alegre (RS), na sede da Superintendência da Conab, com a presença de autoridades federais e estaduais, parlamentares e lideranças de associações e cooperativas do setor.

Durante a reunião, o presidente da Conab, Edegar Pretto, detalhou um aporte de R$ 106 milhões destinado à aquisição de leite em pó em sete estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, Sergipe e Alagoas. O plano prevê a compra de 2,5 milhões de toneladas do produto, sendo 1,1 milhão provenientes do Rio Grande do Sul. O volume adquirido no estado gaúcho será armazenado na unidade da Conab em Canoas, reforçando a logística local.

Do total de recursos, R$ 41,87 milhões — o equivalente a 44% da operação — serão direcionados ao Rio Grande do Sul. Segundo a Conab, o leite em pó adquirido será destinado a políticas públicas de segurança alimentar, incluindo cestas básicas, cozinhas solidárias e atendimento a comunidades indígenas e quilombolas. O preço definido pelo governo para a operação é de R$ 41,89 por quilo.

A medida foi recebida com reconhecimento, mas também com ressalvas por parte dos produtores. Para o presidente da Associação de Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, a iniciativa sinaliza sensibilidade do governo ao momento do setor, porém não resolve, sozinha, o problema estrutural enfrentado no campo. Na avaliação do dirigente, a ação tem impacto limitado se não for ampliada e acompanhada por outros instrumentos.

Tang defendeu que estados produtores de leite adotem iniciativas semelhantes, ampliando a retirada de produto do mercado e ajudando a recompor os preços pagos ao produtor. Em sua leitura, quanto maior o volume efetivamente absorvido por compras institucionais, maior a chance de algum alívio nas cotações. Ainda assim, ele pondera que o objetivo imediato dos produtores é ao menos reduzir o prejuízo operacional.

Outro ponto sensível destacado pela Gadolando diz respeito ao ambiente de concorrência com produtos importados. Tang voltou a mencionar a necessidade de regulamentação mais rígida para derivados lácteos oriundos de países do Mercosul, defendendo a adoção de mecanismos como tarifas antidumping. Para o setor, a entrada de produtos a preços mais baixos pressiona ainda mais um mercado já fragilizado pela oferta elevada e pelo consumo desaquecido.

Na avaliação das lideranças presentes ao encontro, a compra de leite em pó pode contribuir para reduzir excedentes no curto prazo, mas não altera a dinâmica de custos enfrentada nas propriedades. Insumos, energia e mão de obra seguem pressionando as margens, enquanto o preço recebido pelo produtor permanece abaixo do necessário para garantir sustentabilidade econômica.

Além do poder público, os criadores reforçaram a necessidade de maior envolvimento da indústria e do varejo. Tang afirmou que o momento exige corresponsabilidade ao longo da cadeia, inclusive com a revisão temporária de margens. Segundo ele, abrir mão de parte do lucro — ou operar no limite — pode ser decisivo para manter produtores ativos e evitar uma retração ainda maior da produção.

O encontro em Porto Alegre evidenciou que, apesar do esforço da Conab, o consenso entre produtores é de que a crise demanda um conjunto mais amplo de ações coordenadas. Compras públicas, políticas comerciais, diálogo com a indústria e medidas de estímulo ao consumo aparecem como frentes complementares, não excludentes.

Para os criadores, o leite em pó tornou-se, mais uma vez, um termômetro da capacidade de resposta do setor às oscilações do mercado. A expectativa agora é que o debate avance para além da medida emergencial e resulte em estratégias de médio prazo que devolvam previsibilidade à atividade leiteira brasileira.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de Sou Agro

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