O soro de leite deixou definitivamente de ser tratado como subproduto de menor relevância e passou a ocupar o centro de uma estratégia industrial que reposiciona o Paraná no mapa global dos ingredientes lácteos.
Em Francisco Beltrão, no Sudoeste do Estado, avança um projeto privado de quase R$ 1 bilhão que combina escala, tecnologia e foco em mercados internacionais para transformar a vocação econômica da região.
A nova megaplanta, com início de operação previsto para 2026, foi desenhada para processar até 5 milhões de litros de soro de leite por dia, operando em regime contínuo, 24 horas. A produção será direcionada principalmente para whey protein, lactose e insumos para fórmulas infantis, segmentos que concentram margens mais elevadas e demanda crescente no comércio global de alimentos e nutrição.
Durante visita às obras, o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior, destacou que empreendimentos desse porte representam mais do que números expressivos de investimento. Na avaliação do governo estadual, a industrialização do soro de leite em larga escala cria um novo patamar de competitividade para a cadeia do leite, ao reduzir a dependência de commodities tradicionais e ampliar a participação do Estado em mercados especializados.
O impacto direto no emprego é relevante, com cerca de 250 vagas diretas na planta industrial e mais de 1.600 postos indiretos ao longo da cadeia, envolvendo transporte, serviços, fornecedores industriais e produtores rurais. Mas o efeito mais duradouro está na reorganização econômica do território. Ao atrair uma indústria intensiva em tecnologia e capital, Francisco Beltrão passa a integrar um seleto grupo de cidades médias brasileiras conectadas a fluxos globais de ingredientes alimentares.
A área total do complexo chega a 203 mil metros quadrados, dos quais 34 mil metros quadrados são destinados às instalações industriais. O projeto inclui ainda uma ampla Estação de Tratamento de Efluentes, áreas de pavimentação interna e logística pesada, refletindo a exigência de padrões ambientais e operacionais compatíveis com mercados internacionais.
Segundo fontes ligadas ao projeto, a decisão de concentrar a operação no Sudoeste do Paraná levou em conta três fatores-chave: disponibilidade de matéria-prima, ambiente institucional favorável e infraestrutura logística em expansão. A região abriga uma das bacias leiteiras mais organizadas do Estado, com forte presença de produtores e laticínios capazes de garantir fornecimento contínuo de soro de leite em grande escala.
A infraestrutura pública aparece como elemento complementar dessa equação. O lançamento de obras de restauração e ampliação de rodovias estaduais na região foi citado por autoridades como decisivo para sustentar projetos industriais de grande porte. Estradas mais eficientes reduzem custos logísticos, ampliam o raio de captação de matéria-prima e facilitam o escoamento da produção destinada à exportação.
Outro diferencial estratégico da planta está na matriz energética. A unidade contará com subestação própria de energia elétrica e utilizará biomassa como fonte térmica, especialmente cavaco de madeira produzido na própria região. A solução reduz a exposição a combustíveis fósseis e atende às exigências ambientais de clientes internacionais cada vez mais atentos à pegada de carbono dos ingredientes que consomem.
Altamente automatizada, a operação demandará mão de obra qualificada e programas permanentes de capacitação técnica. A automação é vista como essencial para garantir padronização, rastreabilidade e qualidade, atributos indispensáveis para competir nos mercados de nutrição esportiva, alimentos funcionais e fórmulas infantis.
Além disso, o layout industrial já prevê possibilidades de expansão futura, sinalizando que o projeto não se encerra na capacidade inicial anunciada. A expectativa é que, à medida que a demanda global por whey e derivados do soro de leite avance, a unidade possa ampliar volumes e diversificar portfólio.
Ao transformar o soro de leite em eixo central de uma estratégia industrial, o projeto sinaliza uma mudança estrutural na cadeia láctea brasileira. Mais do que uma nova fábrica, trata-se de um movimento que reposiciona o Paraná como fornecedor de ingredientes de alto valor agregado, conectando o interior do Estado a mercados exigentes e altamente competitivos no cenário internacional.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Click Petróleo e Gás






