Fazendeiros associados à cooperativa gaúcha Cotrijal conseguem níveis elevados de produtividade e ainda embolsam R$ 13,5 milhões em dividendos

Letícia Strack produz grãos na fazenda Santo Agostinho, em Almirante Tamandaré do Sul, cidade gaúcha de apenas 2 mil habitantes, a cerca de 300 quilômetros de Porto Alegre. Numa área de 240 hectares, ela planta soja no verão – em 170 hectares – e trigo no inverno – num espaço que varia de 50 a 100 hectares. Para silagem, são 80 hectares de milho e uma área de cevada ou aveia que vai de 40 a 60 hectares. Mesmo com uma boa produção agrícola – média de 70 sacas por hectare –, é com a pecuária leiteira que a fazenda de Letícia tem se destacado.

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Abdalah Novaes (Bayer) “O produtor rural tem muito mais aversão ao risco do que profissionais de outros setores” (Crédito:Divulgação)

O negócio ganhou força há sete anos, quando, após se formar em medicina veterinária, ela convenceu o pai a investir no leite. “Percebi que o setor leiteiro estava indo muito bem financeiramente e tinha boa expectativa de mercado”, conta a fazendeira. “Daí, decidimos, em 2014, sair do sistema a pasto e fechar as vacas”, diz. Quando fala em “fechar as vacas”, Letícia refere-se ao compost barn (em inglês, “estábulo com compostagem”), sistema de confinamento no qual os animais circulam num espaço físico coberto, com comida e água à vontade. Para adotar o novo método de criação do gado e investir na produção de leite, Letícia recorreu à Cotrijal, cooperativa gaúcha da qual ela faz parte.

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AJUDA Com o apoio da Cotrijal, Letícia Strack investiu no sistema de criação no qual os animais circulam num espaço físico coberto (acima) (Crédito:Maikel Maciel Winkelmann)

“Graças à ajuda da cooperativa, consegui viajar para os Estados Unidos e à Holanda para obter mais conhecimento”, conta. Com investimentos totais de R$ 2,3 milhões, a propriedade saltou de 40 vacas em ordenha para 154, em cinco anos, com uma produção média de 34 litros por dia por animal. Segundo ela, o novo sistema possibilitou ainda um aumento de produtividade médio de 4 litros por vaca ao dia. Agora, a meta de Letícia é chegar a 200 vacas leiteiras, até o final deste ano, o que fará do leite seu principal produto. Nada disso seria possível sem o apoio da Cotrijal. “Cada vez mais, a cooperativa está melhorando seu corpo técnico, o que auxilia muito a gente. Embora eu seja médica veterinária, conto com eles na parte de nutrição e de reprodução”.

Na análise do presidente da Cotrijal, Nei César Mânica, muitos dos pequenos produtores da região estariam em dificuldades financeiras ou mesmo fora da atividade, se não fosse o sistema cooperativista. “Eles se sentem seguros, porque a cooperativa viabiliza o crédito e o acesso a novas tecnologias”, afirma Mânica. Hoje, a Cotrijal atua em 32 municípios do Rio Grande do Sul e vem registrando bons resultados. O faturamento bruto da cooperativa saiu de R$ 1,7 bilhão, em 2017, para R$ 2,3 bilhões no ano passado (alta de 35%). Com isso, a distribuição de dividendos aos associados teve um expressivo salto de 71%, passando de R$ 7,9 milhões, em 2017, para R$ 13,5 milhões, em 2018.

ALTA PRODUTIVIDADE Os resultados da Cotrijal vão muito além do faturamento. No campo, a produtividade vem se mantendo superior à média do Rio Grande do Sul, tanto na produção de soja quanto na de milho. No caso da oleaginosa, a cooperativa registrou média de 67,4 sacas de 60 quilos por hectare, no período 2017/2018, 26,6% superior às 50,2 sacas por hectare do Estado e quase 20% acima da média brasileira (56,5 sacas). Em relação ao milho, a produtividade foi de 165,8 sacas entre os associados da Cotrijal, 50% superior às 110 sacas do Rio Grande do Sul e mais do que o dobro da média nacional, que foi de 81 sacas.

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DINHEIRO NA MÃO Dirigida por Nei Mânica, a Cotrijal faturou R$ 2,3 bi no ano passado, 35% a mais do que em 2017 (Crédito:Divulgação)

Para alcançar esse excelente desempenho, a cooperativa oferece uma gama de serviços aos fazendeiros. A estrutura conta com uma rede de dez supermercados, uma Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS), uma fábrica de rações e 20 lojas para atendimento aos produtores, nas quais é possível adquirir crédito e assistência técnica ou veterinária. “Esse aumento de produtividade acontece por causa de uma assistência técnica personalizada com a gestão da propriedade”, afirma Nei Mânica. “Com agricultura de precisão e digital, o produtor que não estiver inserido em boas práticas agrícolas não consegue produtividade satisfatória.”

No caso do setor leiteiro, Mânica acredita que o grande diferencial é que a produção está centralizada em pequenos fazendeiros. “O pequeno produtor pode ser grande em faturamento. Ele tem, por exemplo, um campo de leite confinado e um semi-confinado, onde produz a alimentação com a silagem e complementa comprando a outra parte”, explica. “Isso faz com que a pequena propriedade ganhe cinco vezes mais na comparação com a produção de soja.” Um bom exemplo de ganho de produtividade entre os leiteiros gaúchos é visto nas terras de Rosalvo Muhl, do Sítio Ypê, na cidade de Victor Graeff. Há três anos, ele abandonou o sistema tradicional de confinamento a pasto e adotou o compost barn. À época, Muhl tinha 30 vacas em ordenha, com produção de 22 litros de leite por animal ao dia. Hoje, ele possui 80 vacas e cada uma produz 33 litros de leite por dia, 50% a mais. Com investimento de R$ 1,2 milhão para melhorar a sua estrutura e aumentar o rebanho, ele quer chegar a 120 animais até o final deste ano. Para tornar esse cenário ainda melhor, hoje o preço médio do litro de leite pago aos produtores gaúchos é de R$ 1,41, pouco mais de 30% acima do preço executado em março do ano passado (R$ 1,08). Ao que tudo indica, as boas notícias devem continuar surgindo para os associados da Cotrijal.

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