“Não basta o governo federal reconhecer a crise sistêmica do setor de leite. É preciso tomar medidas práticas, com urgência, para reverter essa situação que persiste há anos”,

“Não basta o governo federal reconhecer a crise sistêmica do setor de leite. É preciso tomar medidas práticas, com urgência, para reverter essa situação que persiste há anos”, disse o pecuarista de leite gaúcho Joel Dalcin, do movimento Construindo Leite Brasil, ao avaliar a entrevista da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ao programa Rodada Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira (17).  

Durante a entrevista, a ministra enfatizou que o setor de leite precisa ser estruturado para que possa exportar e agregar valor aos seus subprodutos, como o queijo. Não só pela importância econômica desse segmento, mas também social, porque tem quase 1,2 milhão de produtores, grande parte de pequeno porte, pontuou ela.

A entrevista, ressaltou Joel Dalcin, mostrou que a ministra conhece o setor de leite e sabe dos anseios dos produtores. “Então, precisamos que o atual governo resolva alguns problemas que foram ignorados nos últimos anos.” Entre eles, as importações de leite, os altos custos de produção, a elevada carga tributária, a política de formação de preço ao produtor e o preço mínimo do leite.

Nesta terça-feira (18), Joel Dalcin, que trabalha com pecuária leiteira no município Doutor Maurício Cardoso, no noroeste do Rio Grande do Sul, às margens do Rio Uruguai, na fronteira com a Argentina, apontou ao AGROemDIA medidas que devem ser tomadas para solucionar os problemas do setor:

IMPORTAÇÕES DE LEITE

“Na minha opinião, as importações de leite precisam ser regulamentadas, porque sempre que elas aumentam o preço pago ao produtor diminui, dificultando a manutenção da estrutura produtiva da propriedade. Isso porque, quando baixa o preço, a margem cai e muitas vezes o produtor precisa trabalhar no prejuízo. Geralmente, as maiores importações de leite acontecem quando aumenta a produção interna, o que provoca um efeito maior na queda do preço pago ao produtor.”

FORMAÇÃO DE PREÇOS

“Outro fator muito importante é a política de formação de preço para o produtor, que sofre influência de diversos fatores. O preço sempre é formado avaliando a cadeia de cima para baixo. Ou seja, analisam o mercado para formar preço ao produtor sem levar em conta os custos para produzir de forma coerente, sem se importar em garantir renda para quem produz matéria-prima para sustentar toda a cadeia.”

 

leite mesa gov sc
Foto: Gov. SC

ALTOS CUSTOS DE PRODUÇÃO

“Os altos custos de produção também merecem uma atenção especial, pois, nos últimos anos, o preço do milho, da soja, minerais, óleo diesel, equipamentos e insumos em geral, usados para produzir leite, estão em alta. Quando o preço do leite baixa, o produtor amarga prejuízos. Isso porque, sem a obtenção da renda necessária para pagar os investimentos e custeios da atividade, ele precisa recorrer a linhas de financiamento com juros mais altos, o que diminui ainda mais os resultados da atividade. Isso quando não cai na inadimplência e perde o crédito, tornando a produção insustentável, pois os investimentos para produzir leite no Brasil são altos. Sem fluxo de dinheiro e sem juros mais baixos para fazer o caixa girar de forma sustentável, a vida do produtor fica complicada.

Quando não se consegue honrar um compromisso, os problemas aumentam, com as execuções de dívidas, desde as bancárias as com particulare. Enfim, de uma hora para outra, o produtor é excluído do sistema financeiro e passa a mendigar ajuda para poder sustentar a sua atividade, porque dela depende o sustento da família e de funcionários envolvidos na atividade.”

CARGA TRIBUTÁRIA ELEVADA

“Hoje, no Rio Grande do Sul, o governo do estado é o membro da cadeia que mais lucra com a produção de leite, porque o produtor de leite paga 30,88% de imposto no custo de produção de um litro de leite. Isso até sair da porteira, porque depois ainda tem os outros impostos até chegar ao consumidor final. O estado lucra sempre, independentemente de o produtor estar ganhando ou tendo prejuízo com a produção leite. O estado fica com o valor dos impostos e não subsidia o produtor em nada.  Isso precisa mudar, porque em outros países o produtor recebe subsídios, em outros tem seguro de comercialização ou uma garantia de preços, o que não há no Brasil.

VARIAÇÃO DAS COTAÇÕES

“O produtor produz o leite, entrega e só depois de 30 a 45 dias é que vai saber quanto vai receber do produto. Com isso, num mês o produtor pode receber R$ 1,35 por litro de leite e no outro mês, R$ 1,10.  É muita variação de preço, uma verdadeira montanha russa. Precisamos trabalhar o preço com mais estabilidade para que esse efeito pare de atormentar quem está produzindo.”

ENDIVIDAMENTO

“Na questão do endividamento, é precisa criar urgentemente uma linha de crédito para regularizar a situação do produtor que está com dívidas ajuizadas para evitar que ele saia da atividade e possa continuar gerando emprego e renda para o município. É necessário que seja uma linha de crédito de longo prazo, com juros subsidiados e alguns anos de carência para que o produtor consiga respirar e voltar a aumentar a renda para poder honrar as dívidas. A saída de produtores da atividade não causa só um problema econômico. Também há a questão social, com o desemprego dos funcionários e a saída de ambos – produtor e ex-empregado – para a cidade, em busca de emprego para poder se sustentar. A atividade leite é uma das únicas em que o produtor não consegue mais voltar depois que parar.”

MEDIDAS PRÁTICAS

“Como a ministra Tereza conhece os empecilhos  que atormentam o produtor, ressalto que já está passando da hora de se tomar algumas atitudes que venham a beneficiar de forma direta o produtor de leite, que está fazendo a sua parte da porteira para dentro e apostando na eficiência política do novo governo da porteira para fora. Mudanças urgentes são necessárias, o tempo está passando e nada se resolve. Enquanto isso, muitos produtores estão sendo, direta ou indiretamente, excluídos da atividade por culpa de falta de políticas públicas para o produtor.”

CONSTRUINDO LEITE BRASIL

“Nós, do movimento Construindo Leite Brasil, estamos atentos às atitudes do governo e estamos dispostos a ajudar a elaborar um plano de melhorias ao produtor de leite. Temos confiança na equipe do presidente Bolsonaro e prestamos muita atenção nas ações que dizem respeito à vida de mais de 1 milhão e 100 mil produtores de leite do Brasil.  Vamos em frente para o Brasil se tornar um dos maiores exportadores de leite do mundo. Só falta dar o primeiro passo: respeitar o produtor. Com dignidade e dinheiro no bolso para ele para pode investir, o Brasil será um país melhor para se trabalhar e viver.”

 

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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