Que o produtor luta por cada centavo a mais pelo leite todos os meses não é novidade. 

 

Que o produtor luta por cada centavo a mais pelo leite todos os meses não é novidade.

A margem da atividade é pequena e para melhorar os resultados o pecuarista precisa, além de aumentar a produtividade e reduzir os custos de produção, produzir um leite de qualidade que permita às indústrias pagarem mais pelo seu produto.

Bonificação na produção de leite 

O pagamento por qualidade é praticado por muitos laticínios e é uma ferramenta que traz benefícios tanto para o produtor quanto à indústria.

Do lado da indústria, uma matéria-prima (leite cru) de melhor qualidade confere maior rendimento na fabricação de derivados lácteos e produtos de melhor qualidade. Para o produtor, os ágios recebidos refletem nas margens e nos resultados econômicos da atividade e, com isso, está diretamente ligado ao poder de investimentos no sistema de produção e manutenção dos ganhos produtivos.

Para a bonificação são três os parâmetros principais mensurados pelos laticínios: contagem bacteriana total (CBT), contagem de células somáticas (CCS) e porcentagem de gordura e proteína.

A CBT reflete a qualidade microbiológica do leite, ou seja, seu resultado indica os cuidados com higiene ao obter ou manusear o produto. A CCS diagnostica a saúde da glândula mamária do animal. Altos patamares de CCS indicam que a vaca está com infecção (mastite).

Os sistemas de bonificação, além de melhorar a qualidade do produto que será fornecido aos consumidores vai ao encontro das modificações ocorridas na Instrução Normativa número 76 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), no qual para leite cru refrigerado a CBT máxima permitida é de 300 mil unidades por mililitro (ml) e para CCS, 500 mil por ml.

As empresas normalmente adotam tabelas com as escalas de bonificações por parâmetro.

Considerando os níveis mais altos de qualidade nos quesitos CCS, CBT, gordura e proteína, além de escala de produção e logística a bonificação pode atingir de R$0,30 a R$0,50 por litro acima dos preços médios (leite padrão).

Na figura 1 estão os preços médios do leite padrão e os valores médios com bonificações por qualidade e volume, considerando a média brasileira, que compreende a média ponderada dos dezoito estados pesquisados pela Scot Consultoria.

Figura 1.
Cotação média nacional ponderada do leite ao produtor – em R$/litro, valores nominais.
Fonte: Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br

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Para alcançar melhores padrões de qualidade são necessários investimentos e maiores gastos, por exemplo, na nutrição animal, com dietas balanceadas, melhora na sanidade animal, aplicação de boas práticas de manejo animal e higiene, entre outros.

Ou seja, haverá um desembolso maior (custo total), entretanto, esse incremento será diluído pelo aumento da produtividade e resultará em um custo por unidade de produção menor (R$/litro).

A Scot Consultoria calcula anualmente as rentabilidades médias das atividades agropecuárias e de outras opções de investimento de capital.

Para este cálculo são utilizados modelos econômicos que levam em consideração fatores estimados para cada negócio agropecuário (índices técnicos, localização e estrutura produtiva), conforme o nível tecnológico. Neste sentido, ressaltamos que os resultados apresentados podem ter significativa variação, conforme alteração dos índices produtivos.

Em resumo, no caso da pecuária leiteira, a rentabilidade média da atividade de média/alta tecnologia (25 mil litros/ha/ano) foi de 0,15% em 2018, considerando a média do preço recebido naquele ano de R$1,182 por litro e com um custo médio muito próximo disso.

Aplicando a diferença entre o preço médio do leite com bonificação versus o preço médio padrão sobre o preço recebido e considerando um aumento de 10% nos custos de produção para atingir os parâmetros de qualidade, a rentabilidade sobe para 14,8%.

Considerações finais 

A qualidade do leite é garantia de um alimento seguro e de qualidade nutricional para o consumidor, que também traz aumento da vida de prateleira e maior rendimento industrial dos derivados lácteos.

De acordo com a Embrapa, o leite para ser caracterizado como de boa qualidade, deve apresentar uma composição físico-química adequada, reduzida contagem de células somáticas (CCS), baixa contagem de bactérias (CBT) e ausência de agentes contaminantes (antibióticos, pesticidas, adição de água e sujidades).

Portanto, esses dois indicadores estão ligados às condições de limpeza e higiene e a sanidade da vaca, que com práticas de menor investimento o pecuarista pode atingir os parâmetros ótimos e ganhar em competitividade na produção leiteira.

Neste momento, onde o mercado de leite já deu início a queda dos preços pago ao produtor e essa tendência deve continuar até meados de dezembro, receber mais pelo seu produto pode fazer a diferença entre o prejuízo e o lucro na atividade, por isso, o programa de qualidade deve fazer parte do planejamento e estratégias da propriedade.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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