Bauke Dijkstra, de 61 anos, é sujeito de boa conversa. Agricultor e pecuarista em Carambeí, município de 23 mil habitantes na região dos Campos Gerais, no Paraná, ele anda pela fazenda e conta a história da família e do lugar onde vive. Ali há forte influência dos holandeses, que se estabeleceram na primeira metade do século XX. O fluxo imigratório intensificou após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
O avô de Bauke, do qual ele herdou nome e sobrenome, chegou ao Brasil em 1947, trazendo no navio 41 novilhas e um touro, gado puro de origem (PO), da raça holandesa, que ajudaria a formar um plantel de alta qualidade e impulsionar a bacia leiteira da região.
Mas, além da expertise para trabalhar com leite, os colonos tinham espírito cooperativista. Em 1925, com apenas sete cooperados, fundaram a Sociedade Cooperativa Holandeza de Lacticínios, juntando as quatro fabriquetas de derivados de leite de Carambeí. Em vez da concorrência, a união.
Foi uma das primeiras cooperativas do Brasil, que três anos depois originou a marca Batavo, vendida em 2015 para o grupo Lactalis. Como a organização também se chamava Batavo, o nome mudou para Frísia Cooperativa Agroindustrial, uma homenagem à província do norte da Holanda, que tem até idioma próprio, da qual vieram muitos dos imigrantes.
Jan Ubel Van Der Vinne, de 71 anos, vice-presidente para a área de pecuária da Frísia, diz que a cooperativa cresce a uma média de 10% ao ano. Sem áreas de terras para expandir no Paraná, já mira o Tocantins, onde recentemente instalou uma unidade de recepção e secagem de milho e soja. Já conquistou 40 associados por lá. Porém, o objetivo principal é oferecer segurança para que o pessoal que já é cooperado no sul tenha novas perspectivas no norte do Brasil.
A valorização do cooperativismo no Paraná se tornou tão forte que as três cooperativas que atuam nos Campos Gerais (Castrolanda, de Castro; Capal, de Arapoti; e a própria Frísia) uniram-se em um sistema que chamam de “intercooperação”. Ninguém comprou ninguém. Uniram-se para serem mais fortes, originando a marca Unium, em 2017.
A Unium concorre no mercado de lácteos, suínos e trigo. Mantém unidades industriais de processamento de leite em Ponta Grossa e Castro, no Paraná, e Itapetininga, no interior de São Paulo. Juntas, processaram mais de 3 milhões de litros em 2018, depois repassando para gigantes do ramo de bebidas e alimentos. O excedente é destinado a marcas próprias.
Para se ter uma ideia do que representa a Unium, basta ver os números de faturamento bruto em 2018 das cooperativas que a compõem: Castrolanda (R$ 2,9 bilhões), Frísia (R$ 2,6 bilhões) e Capal (R$ 1,4 bilhão).
De acordo com a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), operam, dentro do ramo agropecuário, 69 cooperativas, que faturaram em 2018 R$ 70 bilhões. O valor é 22% superior ao faturamento de 2017. Para este ano, a previsão é crescer 5,7%, chegando a R$ 74 bilhões. Elas reúnem 151.367 associados e respondem por quase 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio paranaense. Geram mais de 70 mil empregos diretos. Quinze delas faturam mais de R$ 1 bilhão ao ano (confira no gráfico).
CASAMENTO
Bauke Dijkstra é um dos 837 associados da Frísia. A fazenda dele tem o mesmo nome da cooperativa. “Brinco que somos a matriz e a cooperativa a filial”, diz. O avô, que já citamos, era frísio. Assim como o funcionário Jacob Zijlstra, de 60 anos, há 31 morando no Brasil. É um dos encarregados do gado leiteiro.
Convidado a opinar sobre o motivo de o sistema cooperativista ser tão forte na região, Bauke responde com firmeza: “Vem da nossa tradição de um ajudar o outro. De se unir para crescer. E de ter a consciência de ser fiel à cooperativa, como se é num casamento”.
Ele explica que ser cooperado permite comprar insumos para pagar num prazo compatível com a produção, permite acesso à linha de financiamento para a silagem e garante assistência técnica. Além de preço melhor para o leite, recompensando pelo profissionalismo.
O preço base pago ao produtor pelo litro é R$ 1,18. Mas a cooperativa oferece bônus, levando em conta as boas práticas de manejo e melhor qualidade, como bons índices de gordura e de proteína, temperatura ideal na hora da coleta e flexibilidade de entregar a qualquer hora. Atendendo a tudo isso e a outras exigências, Bauke recebe R$ 1,70 por litro.