A produção de leite está distribuída em cinco pilares: genética, sanidade, alimentação, conforto térmico e gerenciamento.

produção de leite está distribuída em cinco pilares: genética, sanidade, alimentação, conforto térmico e gerenciamento. Um dos fatores que vem sendo debatido nos últimos anos para reforçar o incremento da produção e qualidade do leite é o bem-estar animal, assim como o conforto térmico.

Os sistemas de criação em confinamento vêm se expandindo como forma de controlar a temperatura do ambiente e do animal, reduzindo o desafio microbiano pela exposição dos animais ao clima e ambiente externos.

Compost de Barn é um sistema de criação que vem sendo implementado como uma opção de menor custo de investimento, se comparado com outros sistemas de criação de confinamento. É um sistema que, se bem conduzido, promete aumentar a produtividade, como também reduzir problemas de cascos, diminuir a contagem de células somáticas (CCS), mastites e aumentar a detecção de cio (Silva, 2018).

Com as novas exigências do mercado consumidor, o aumento na procura de alimentos saudáveis levou a implementação das Instruções Normativas IN-76 e IN-77, que entraram em vigor em maio de 2019, estabelecendo novos parâmetros de qualidade para os valores de Contagem Bacteriana Total (CBT) e CCS. Isso tornou a corrida por uma boa produtividade associada à qualidade do leite requisitos importantes para o sucesso dos empreendimentos leiteiros.

Comparamos a qualidade do leite de dois sistemas de criação Compost Barn e a pasto de uma fazenda localizada no interior de São Paulo, na região do Vale do Paraíba. A fazenda possui duas salas de ordenha: a principal (sala de ordenha 1), onde são ordenhados os animais confinados, aproximadamente 15 mil litros/dia; e a sala secundária (sala de ordenha 2), onde é feita a ordenha dos animais criados a pasto com uma produção média diária de mil litros diariamente. As vacas que representam maior volume de leite são ordenhadas 3 vezes ao dia, e as demais 2 vezes ao dia.

A higienização das salas é realizada trinta minutos antes do início da ordenha. O tempo de ação dos produtos é controlado pelos funcionários. O leite é armazenado e refrigerado em tanques de expansão, numa temperatura de 4ºC, e levado diariamente para a cooperativa em caminhão específico para transporte de leite.

A coleta de amostra do leite para avaliação da qualidade é realizada diariamente em frascos estéreis contendo reagentes específicos para conservação do produto até a chegada ao laboratório.

Analisamos as médias semanais dos meses de janeiro a dezembro de 2019 das características de proteínas, gorduras, CPP (Contagem Padrão em Placas) e CCS (Contagem de Células Somáticas) como mostra a figura 1.

A Contagem Bacteriana Total (CBT), atualmente chamada de Contagem Padrão em Placas (CPP), é um dos principais parâmetros que definem se o leite tem qualidade ou não e está diretamente relacionada a higiene do ambiente, desde a ordenha até o armazenamento. Quanto menor o valor da CPP, melhor será a qualidade do leite.

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Figura 1: Comparação dos dois sistemas de produção, compost barn e pastoreio. Sala de ordenha 1 – Sistema de confinamento Compost Barn; Sala de ordenha 2- Sistema de criação a pasto.

Na contagem padrão em placas, observamos que o sistema a pasto apresentou uma média menor, em relação ao compost barn, podendo indicar uma possível falha de manejo da ordenha, mostrando a necessidade de uma padronização no manejo dos animais.

Já na CCS foi observada médias maiores no sistema de produção a pasto. Esse fator pode ser explicado pelo tempo de lactação dos animais presentes na sala de ordenha 2, pois são animais que estão em final de lactação e prenhes, preparando-se para uma nova lactação, onde apresentam intensificação na quarta semana pré-parto, aumentando os níveis de CCS (Philpot e Nickerson, 1991).

O desafio microbiológico em animais criados a pasto é maior, pois não é possível ter um controle das variáveis do ambiente, como umidade, formação de lama devido à período de chuvas (Silva, 2018).

A redução da CCS em confinamento está relacionada às vacas ficarem mais limpas, desde que tenha um bom manejo de cama, diminuindo os riscos de contaminação do leite no momento da ordenha e consequentemente diminuição da CCS no tanque de expansão (Brito, 2016).

É possível reduzir a CCS do leite através do manejo. Assim como acontece com a CPP, é importante que seja acompanhado mensalmente os relatórios dos exames laboratoriais, buscando identificar quais animais apresentam problemas com alta CCS. A higiene da fazenda também é essencial para que a CCS seja baixa.

As concentrações de proteína e gordura mostram que as médias de proteína e gordura variaram consideravelmente entre os sistemas. Este resultado pode ser associado ao volume de leite produzido no sistema compost barn que é maior que o sistema a pasto.

Diversas questões devem ser consideradas para produção de um leite com qualidade, destaca-se a higiene como principal delas, buscando ter resultados melhores nos índices de Contagem Padrão em Placas e Contagem de Células Somáticas, consequentemente melhoria na saúde das vacas, redução da taxa de tratamento de mastite e a possibilidade de uma bonificação maior no preço final, ou seja, aumento da viabilidade da atividade leiteira. Sendo possível um preço de até 18% maior em relação ao preço base, o que torna atrativo para os produtores a produção de leite com qualidade.

O sistema de confinamento reduz o desafio microbiano, pois mantém os animais limpos e oferece bem-estar, diferentemente do sistema a pasto, onde não é possível ter controle do ambiente externo, expondo muitas vezes as vacas em situações de contaminação e consequentemente aumento de doenças como mastite ambiental e aumento das células somáticas.

O treinamento de pessoal e padronização de processos é outro fator a ser considerado, pois falhas de operação podem acarretar índices elevados de contagem bacteriana, reduzindo a qualidade do leite.

Um maior incentivo no valor do leite de melhor qualidade pode tornar a produção do leite no Brasil mais tecnificada e com maior segurança alimentar, incentivando os produtores a investir em um sistema de produção melhores e mais confiável para a saúde pública.

Este artigo é parte da monografia defendida no curso de agronegócios MBA/USP/ESAL – PECEGE.

Referências

Brito, E. C. PRODUÇÃO INTENSIVA DE LEITE EM COMPOST BARN: Uma avaliação técnica e econômica sobre a sua viabilidade. 2016. Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados da Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora – MG, 2016.

Philpot, W. N.; Nickerson, S. C.. Mastitis: Counter Attack. Naperville: Babson Bros, Editor: Naperville, I. L. Editora Babson Bros, 1991.

SILVA, C. F. S.. Influência do sistema compost barn sobre a produtividade, qualidade do leite e índices reprodutivos. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Zootecnia) – Universidade Federal de São João Del Rei, São João Del Rei, 2018.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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