Depois de registrar queda em novembro, os preços do leite reagiram em dezembro

Em Minas Gerais, de acordo com os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), no último mês de 2020, referente à produção entregue em novembro, foi verificada alta de 4,56% no valor médio líquido do litro de leite frente ao mês anterior. Com o avanço, o litro foi negociado a R$ 2,11. No ano, o preço do leite no campo ficou 55,14% maior.

Assim como em Minas Gerais, na média Brasil, o preço líquido do leite captado em novembro e pago em dezembro apresentou elevação de 4,05% ou de R$ 0,08 por litro frente ao mês anterior, chegando a R$ 2,12.

Conforme os dados levantados pelo Cepea, ao longo de 2020 houve uma significativa valorização dos preços do leite. Em Minas Gerais, no acumulado do ano, os preços subiram 55,14%, saindo de R$ 1,36 por litro em janeiro e chegando a R$ 2,11 em dezembro.

Na média Brasil, o preço ao produtor acumulou alta de 52,3% de janeiro a dezembro de 2020. No ano passado, o valor médio foi de R$ 1,76 por litro, 19,2% acima do registrado em 2019, em termos reais.

A nova valorização dos preços recebidos em dezembro é considerada atípica pelos pesquisadores do Cepea, já que nesse período a captação do produto já está maior. Porém, em novembro de 2020, a oferta de leite não apresentou elevação substancial, o que manteve a disputa das indústrias pela matéria-prima no campo bem acirrada.

Os dados do Cepea mostram que, em novembro, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) avançou 1,54% em relação ao mês anterior, puxado pelos aumentos de 7,5% em São Paulo e de 4,3% em Minas Gerais.

Conforme os pesquisadores do Cepea, ainda que a produção tenha mostrado sinais de recuperação, o incremento não ocorreu na mesma intensidade da procura dos laticínios.

Oferta – A produção ainda limitada no campo é resultado da irregularidade das chuvas e do aumento considerável dos custos de produção, o que tem prejudicado a oferta de leite. Outro agravante para a situação é a valorização da arroba ao longo do ano, que acabou estimulando o abate de fêmeas.

Na maior parte do ano, a demanda pelo leite no mercado final se manteve aquecida, principalmente, pelo pagamento do auxílio emergencial feito pelo governo federal.

Porém, de acordo com o Cepea, a grande dificuldade enfrentada pelo setor no final do ano foi na equalização da elevação da matéria-prima com a demanda enfraquecida, sensível aos elevados patamares de preços dos lácteos.

Para este ano, a redução do poder de compra por parte dos consumidores deve continuar impactando de forma negativa os preços, por isso, a tendência é de que os valores em 2021 fiquem menores que os praticados em 2020.

Por outro lado, o aumento dos preços dos grãos utilizados na alimentação do rebanho, como a soja e o milho, e os fatores climáticos podem manter a competição entre os laticínios ainda acirrada, em função da oferta limitada de leite no campo ao longo do primeiro trimestre. De acordo com o Cepea, considerando esse cenário, o patamar de preços nos três primeiros meses do novo ano pode operar acima do observado no mesmo período de 2020 (que foi de R$ 1,44 por litro, em termos reais).

Sombra e resfriamento contribuem para qualidade

Pesquisas desenvolvidas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) já demonstram que garantir conforto aos animais é também uma estratégia para aumentar volume e qualidade da produção.

Estudos recentes apontaram que ambiente com temperaturas elevadas e altas taxas de umidade são fatores estressantes para os rebanhos leiteiros, por exemplo.

Pesquisador da Epamig, Marcos Brandão afirma que o estresse térmico ocorre quando as condições ambientais exigem do animal ajustes para manter a temperatura corporal em níveis aceitáveis. Quando a temperatura do ambiente ultrapassa de 26 a 28 ºC, o animal começa a transpirar em excesso (sudorese), aumentar a frequência respiratória (hiperventilação pulmonar) e a circulação sanguínea periférica. Essas condições estão associadas, ainda, à redução da ingestão de alimentos, diminuição da atividade locomotora e até mesmo da fisiologia reprodutiva.

“Vacas sob estresse térmico, além de perder dois terços da água evaporativa por meio do suor e um terço por meio da respiração acelerada, perdem também mais minerais via suor do que vacas em zonas de neutralidade. Outros fatores como motilidade retículo-ruminal e taxa de passagem total também são reduzidos. Além disso, ocorre a redução do tempo de ruminação e mudanças no padrão de fermentação ruminal, o que ocasiona menos produção de nutrientes”, aponta Marcos Brandão.

Assim, em ambientes tropicais de produção, a melhor maneira de potencializar a produção das vacas leiteiras é proporcionar sombra, resfriamento e água de qualidade. Também pesquisadora da Epamig, Beatriz Cordenonsi ressalta que o sombreamento diminui a incidência de radiação sobre o animal, beneficia o conforto térmico e, quando bem projetado, pode reduzir a carga de calor total em 30% a 50%.

Sistema silvipastoril – Pesquisadores da Epamig apostam no sistema silvipastoril, que fornece conforto térmico ao rebanho, como método eficiente para criação de animais produtores de leite.

Marcos Brandão chama a atenção para estudos já publicados que evidenciam os impactos positivos do aumento da oferta de sombra em sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Os estudos concluíram que a produção de embriões das doadoras manejadas em ILPF foi mais de 50% superior àquelas manejadas em pastagens sem sombra.

Resfriamento – Associado ao sombreamento natural ou artificial, o resfriamento potencializa o bem-estar e traz benefícios às vacas leiteiras. Beatriz Cordenonsi destaca o uso de aspersores de baixa pressão, nebulizadores de alta pressão ou placas de resfriamento para dissipar calor e resfriar os animais.

Uma vez implantado, o sistema influencia positivamente na longevidade das vacas, melhora a fertilidade no verão, conduz a menores intervalos entre partos, melhora a eficiência alimentar e reduz a quantidade de alimentos requeridos para produção de leite sob condições de estresse calórico.

A Epamig publicou uma edição do Informe Agropecuário totalmente dedicada à integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). A empresa de pesquisa é vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa).

Em outubro, as importações chinesas de produtos lácteos caíram novamente, totalizando 16 meses consecutivos no vermelho. A queda em volume dessa vez foi de 11%

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