O valor de referência do litro de leite ao produtor no Rio Grande do Sul em janeiro, a ser pago em fevereiro, foi estimado em R$ 1,4391, 4,92% abaixo do consolidado em dezembro de 2020 (R$ 1,5135), conforme dados apurados pela UPF (Universidade de Passo Fundo). A projeção, divulgada nesta terça-feira 26, durante reunião do Conseleite/RS, preocupa a base produtora do setor leiteiro, diante dos altos custos de produção, que subiram 23,24% na “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP) no ano passado, conforme o Cepea/USP, e da falta de previsibilidade no pagamento do produto entregue aos laticínios.
De acordo com o professor da UPF Marco Antonio Montoya, apesar da redução, o indicador está acima dos patamares históricos para o mês de janeiro. “Nos últimos três meses, os valores estão praticamente estáveis.”
A tendência é que o mercado se mantenha com estabilidade, assinala em nota o Conseleite/RS. “Com a manutenção da pandemia, o teletrabalho persiste com impacto direto no consumo”, ressalta o colegiado.
Outro fator que preocupa, segundo o Conseleite/RS, é o fim do auxílio emergencial às famílias em dificuldade devido à covid-19. “O cenário está delicado. Estamos com valores mais elevados, mas os custos também estão impactando o produtor e a indústria”, alertou o vice-presidente do Conseleite, Alexandre Guerra, confiante de que a volta às aulas virá com a retomada do consumo.
Na reunião, também foram apresentados os preços de referência dos derivados de leite. A cotação do UHT tem queda de 7%, e a do queijo muçarela supera 7%.
Produtores de leite
“Nos preocupa este cenário que temos daqui para frente. Até poque há uma sinalização no comércio de queda no consumo, o que era esperado pela virada do ano, quando as pessoas tendem a reduzir as compras. Porém, neste ano, a situação também é impactada, certamente, pelo fim do auxílio emergencial de R$ 600. Com isso, o consumo caiu muito. Talvez a realidade mude com a ampliação da vacinação e a volta às aulas”, diz o produtor Leonel Fonseca, coordenador da Comissão de Leite e Derivados do Sistema Farsul, membro do Conseleite/RS e um dos coordenadores do Movimento Construindo Leite Brasil.
“Agora, o que preocupa os produtores é que precisamos repartir essas quedas. Ou seja, que a indústria seja realmente parceria do produtor. Quando o mercado sinaliza um recuo de preço, a indústria tem para quem repassar, no caso nós, mas a gente não tem como repassar para os nossos fornecedores de insumos”, ressalta Fonseca.
Ainda conforme o produtor, o setor não se preocupa apenas com o preço, mas principalmente com os custos de produção e a margem de rentabilidade. “Não adianta reduzirmos nosso custo de produção em 10%, 15% e a indústria ganhar em cima disso no futuro. Nós precisamos ter margem positiva e previsibilidade de valores para trabalhar. Se derrubar o preço de custo e, no meio do processo até chegar ao consumidor, alguém abocanhar essa fatia, não resolve. Precisamos derrubar os custos dentro da propriedade para que o alimento chegue com melhor qualidade possível ao mercado – algo que sempre buscamos e que temos hoje no Brasil – também com preço acessível, para não travar o consumo. Temos que trabalhar na cadeia com ganha-ganha, no qual todos – produtor, indústria, varejo e os nossos fornecedores de insumos – obtenham suas margens e o consumidor seja o grande beneficiado.”
Momento de cautela
O produtor Rafael Hermann, também membro da Comissão do Leite e Derivados da Farsul, do Conseleite/RS e um dos coordenadores do Movimento Construindo Leite Brasil, reforça a preocupação da base produtora. “É importante que as indústrias tenham cautela nas baixas do preço ao produtor neste momento em que os nossos custos estão altos. A preocupação do elo produtor é muito grande porque isso vai tirar muita gente da atividade. Além da elevação dos custos de produção, enfrentamos os efeitos da pandemia de covid-19 e principalmente da seca, que fez cair a produção de matéria-primeira no campo.”
Na avaliação de Hermann, se a indústria seguirem impondo baixas significativas no preço do leite ao produtor, haverá um desmonte na cadeia leiteira gaúcha. “Por isso, pedimos atenção ao Sindilat (sindicato dos laticínios) para a nossa situação.” Ele pontua ainda que há uma expectativa de reaquecimento do mercado com a volta às aulas, o que as indústrias também devem em consideração para não reduzir o valor do leite, permitindo que os produtores possam enfrentar este momento de extrema dificuldade e permanecer no campo, fornecendo matéria-prima aos laticínios.”