Os produtores percebem preços deprimidos enquanto a inflação e o valor do dólar complicam os custos. Detalhes de um cenário dramático.
Por Patricio Eleisegui Fonte iProfesional
Em uma nova ofensiva contra o Governo, as entidades do campo nucleadas na Mesa de Enlace saíram para exigir medidas urgentes para o setor lácteo. E argumentaram que, se os preços atuais recebidos pelo produtor forem mantidos, a atividade será extinta a curto prazo.
Coninagro, CRA, Federação Agrária e a Sociedade Rural argumentaram que os produtores leiteiros coletam hoje o mesmo que em meados de 2020 sendo que, naquele período, variáveis como o preço internacional do milho, um insumo chave para o segmento, o aumento das retenções para a exportação de laticínios e, além disso, o consumo não se recupera devido ao efeito da recessão dominante.
Através de uma declaração acessada pela iProfesional, organizações relataram que põe em risco a continuidade de pelo menos 10.000 fazendas leiteiras, além de observar que os produtores carecem de incentivos e também carregam uma pressão tributária sufocante.
“Desde meados de 2020, o produtor está recebendo um preço insuficiente por seu leite na fazenda leiteira. Atualmente, com os 21,36 pesos por litro não é suficiente para cobrir os custos de produção, que são dolarizados em 80%, não recebemos nenhum incentivo e nossa carga tributária é muito maior do que no resto do mundo”, disseram eles.
“Além disso, no atual contexto global, os produtores argentinos são os que recebem o preço mais baixo, 0,24 dólares por litro, longe dos históricos 0,33 por litro, o que é necessário para cobrir os custos médios de produção. Nossos concorrentes no mundo inteiro, assim como nosso vizinho Brasil, recebem hoje até 0,44 dólares por litro, com custos equivalentes e/ou inferiores aos nossos”, acrescentaram eles.
A Mesa de Enlace afirmou que o cenário de crise que atravessa a atividade “é fortemente influenciado pelo programa Preços Cuidados, bem como o desestímulo à exportação que apresenta retenções e as pequenas restituições”. Estamos exportando impostos”.
“… devemos substituir as propostas que distorcem o mercado, que já falharam e não são aplicadas no mundo, por medidas que permitam a atividade econômica do setor, o acesso aos produtos lácteos essenciais aos setores mais vulneráveis da sociedade, por medidas que focalizem a demanda e, ao mesmo tempo, permitam a entrada de divisas que o país tanto precisa”, concluiu o bloco de entidades.
O desconforto exposto novamente pelo campo coincide com a decisão oficial de estender o programa de Preços Máximos até 31 de março.
E não somente isso: através da resolução 112/2021 o governo intimidou os produtores de alimentos “a aumentar sua produção ao máximo de sua capacidade instalada e a arbitrar as medidas conducentes a assegurar seu transporte e provisão durante o período de validade desta medida”.
Ao redor das associações do setor lácteo consultadas pela iProfesional ressaltam que a continuidade inevitavelmente levará à paralisação das instalações de produção e ao leilão do gado leiteiro.
“Não há mais recursos econômicos para seguir adiante. Quase 80% das fazendas leiteiras em atividade pertencem a pequenos e ultra-divididos produtores. Estamos a caminho de outra onda de fechamentos definitivos”, disse uma referência da atividade, estritamente fora do registro.
Luz vermelha
Em sintonia com isto, a Coninagro expôs em seu monitoramento de semáforos que a atividade leiteira está “em vermelho e com prognóstico reservado”.
“O consumo interno e as exportações, estimativas do terceiro componente, permanecem estáveis em volume, mas não em valor, o que não é suficiente para compensar o efeito negativo do primeiro componente. Por exemplo, em dezembro a variação anual dos preços era de apenas 27%, bem abaixo da inflação, e o próprio aumento dos custos, que é estimado em pelo menos 43% no mesmo período”, disse ele.
“A diminuição do poder de compra do consumo gerou que os laticínios têm um valor geral menor, que é transferido para o preço por litro e componente, para o laticínio”, acrescentou ele.
A respeito deste cenário, Daniel Kindebaluc, secretário geral da Coninagro, disse que “espera-se que nos próximos meses a atividade continue a sofrer”. E, a partir dessa perspectiva, previu um “fechamento de fazendas leiteiras e retração na produção”.
“No que diz respeito ao mercado externo, as retenções no setor aumentaram 1%, de 3 e 4 pesos por dólar para uma porcentagem fixa, e com o aumento da taxa de câmbio aumentou ligeiramente. Por todos os impostos que pagamos, consideramos que devemos recuperar algo com restituições à exportação”, disse ele.
Então ele concluiu: “Os custos para o produtor de leite subiram, assim como a ração animal, que é composta de milho, e isto causa um atraso nos preços. Estamos em um momento em que avaliamos se devemos fazer “caixa” do milho que tem o produtor no campo ou fazer “saco” de reserva para alimentar os animais para o inverno. É uma encruzilhada difícil de sustentar e os mais afetados são os pequenos e médios produtores”.