É o que mostra a edição de junho do Boletim do Leite, divulgado nesta quinta-feira (23) pelo Cepea. Os preços mais atrativos para os produtores decorrem da menor oferta da matéria-prima, assinala o centro de pesquisa da Esalq/USP.
“O preço do leite captado em abril/22 e pago aos produtores em maio/22 subiu 4,4% frente ao mês anterior, chegando a R$ 2,5444/litro na “Média Brasil” líquida do Cepea. Em relação a maio do ano passado, o aumento é de 11,8%, em termos reais (valores deflacionados pelo IPCA de maio/22). Desde janeiro, especificamente, o leite no campo acumula valorização real de 14,5%”, informa o Boletim do Leite de junho.
Ainda de acordo com a publicação, a tendência é que a valorização se mantenha no próximo mês. “As pesquisas ainda em andamento do Cepea apontam continuidade do movimento altista no campo, de modo que o valor pago em junho, referente à captação de maio, pode avançar cerca de 5% na “Média Brasil” líquida.”
Ao mesmo tempo, houve recuo nos custos de produção. “Depois de quase três anos registrando avanço mensal consecutivo, o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira apresentou pequena queda de 0,07% em maio, na “Média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP). A última vez que o COE havia caído foi em agosto de 2019 (com retração de 0,5%)”, acrescenta a publicação.
Leia, abaixo, as análises de Natália Grigol e Caio Monteiro, da Equipe Leite do Cepea, sobre o mercado leiteiro:
“Movimento de alta ganha força, e leite acumula valorização de 14,5% neste ano”
Por Natália Grigol//Da equipe Leite do Cepea
O preço do leite captado em abril/22 e pago aos produtores em maio/22 subiu 4,4% frente ao mês anterior, chegando a R$ 2,5444/litro na “Média Brasil” líquida do Cepea. Em relação a maio do ano passado, o aumento é de 11,8%, em termos reais (valores deflacionados pelo IPCA de maio/22). Desde janeiro, especificamente, o leite no campo acumula valorização real de 14,5%. E as pesquisas ainda em andamento do Cepea apontam continuidade do movimento altista no campo, de modo que o valor pago em junho, referente à captação de maio, pode avançar cerca de 5% na “Média Brasil” líquida.
A valorização de leite no campo se deve à menor oferta. O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea caiu 3,7% entre março e abril, acumulando recuos de 8,2% desde o início deste ano e de 4,5% desde abril/21. Com menor disponibilidade de leite no campo, a concorrência entre as indústrias de laticínios para assegurar a captação de matéria-prima seguiu intensa, sustentando o movimento de elevação nos preços do leite cru naquele mês.
A menor produção de leite, por sua vez, está atrelada ao avanço do período de entressafra da produção, que ocorre sazonalmente entre o outono e o inverno – quando o clima mais seco prejudica a disponibilidade e a qualidade das pastagens. Contudo, é preciso lembrar que, neste ano, lidar com a entressafra está mais complicado para o produtor. As alterações climáticas ocorridas pela La Niña no final do ano passado prejudicaram a qualidade da silagem que, neste momento, compõe o manejo nutricional dos animais. Além disso, os elevados custos de produção com diversos insumos da atividade vêm pressionando as margens dos pecuaristas desde o ano passado, complicando os investimentos de longo prazo – o que tem reduzido o potencial de recuperação da oferta mesmo diante do aumento dos preços pagos ao produtor.
Gastos com concentrados
Apesar de os gastos com o concentrado terem recuado devido às recentes desvalorizações da soja e do milho, o desembolso do produtor com a alimentação do rebanho segue em patamar elevado. Além disso, outros insumos se valorizaram, como combustíveis, medicamentos e suplementação mineral. Ainda assim, pela primeira vez desde 2019, o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira não subiu: houve ligeiro recuou de 0,07% na “Média Brasil” em maio.
Já em relação à demanda, as pesquisas do Cepea/OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) mostram que, até a primeira quinzena de maio, havia tendência de queda nas cotações dos lácteos, devido à procura enfraquecida na ponta final da cadeia. Contudo, a oferta enxuta no campo, a diminuição dos estoques de forma generalizada entre as indústrias e o encarecimento do leite spot (negociado entre as indústrias) a partir da segunda quinzena de maio inverteram essa tendência. Em Minas Gerais, o leite spot se valorizou 3,4% da primeira para a segunda quinzena de maio. Na média mensal, porém, o valor ficou praticamente estável (-01%) frente a abril, em R$ 3,01/litro. As negociações seguiram aquecidas em junho, com forte aumento de 26,2% na média mensal, que chegou a R$ 3,80/litro.
A baixa disponibilidade de leite e o aumento dos preços ao produtor e dos derivados elevou a competitividade dos produtos internacionais no mercado doméstico. Com isso, houve crescimento nas importações e recuo nas exportações de lácteos em maio.
“Após quase três anos de alta, COE da pecuária leiteira registra leve queda”
Por Caio Monteiro//Da equipe Leite do Cepea
Depois de quase três anos registrando avanço mensal consecutivo, o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira apresentou pequena queda de 0,07% em maio, na “Média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP). A última vez que o COE havia caído foi em agosto de 2019 (com retração de 0,5%).
No acumulado de 2022 (de janeiro a maio), o COE subiu 4,25%, ritmo inferior ao observado no mesmo período de 2021, quando o aumento nos cinco primeiros meses já atingia os 11%. A desaceleração em maio esteve atrelada à retração nos desembolsos com os concentrados, de 0,81%, considerando-se a “Média Brasil”.
A baixa nos preços dos concentrados, por sua vez, é resultado da desvalorização do milho em maio, devido ao otimismo em relação à produção na segunda safra brasileira, que pode ser recorde. Dentre os estados acompanhados pelo Cepea, as quedas mais significativas nas cotações dos concentrados foram registradas no Paraná (2,52%) e em Minas Gerais (0,47%). Ressalta-se que, embora os custos da suplementação energética tenham recuado nos últimos meses, os desembolsos com alimentação ainda estão bastante elevados, o que mantém pressionando as margens da atividade.
Já dentre os insumos que apresentaram valorizações em maio – e que, portanto, limitaram a baixa no COE no mês –, destacam-se os combustíveis. A valorização do diesel resultou em elevação de 1,8% dos custos com as operações mecânicas de manutenção nas propriedades leiteiras. Os gastos com suplementação mineral também subiram, 2,98% em maio, influenciados pelo encarecimento na logística de distribuição do produto.