Altos custos de produção, que impõem resultados negativos ao produtor; custo logístico prejudicado com a alta do preço dos combustíveis; redução da capacidade produtiva e alta demanda pelos produtos de origem láctea têm elevado os preços nos supermercados. Essa é a leitura do secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat), Darlan Palharini.
Em entrevista ao Redação no Ar nesta quarta-feira (13), o representante da indústria diz que o produtor vem recebendo, na média, de R$ 2,80 a R$ 3,60 por litro. Ele reconhece que há exceções — um pouco menos, um pouco mais. Porém, abaixo do valor referência de R$ 2,60 o executivo não acredita, porque, dessa forma, as empresas não teriam acesso ao crédito da matéria-prima.
Palharini explica que dados colhidos pelo Sindilat, de janeiro a junho deste ano, mostram que entre 57% a 61% do valor do litro de leite é repassado ao produtor. “Nós, indústrias, ou falando também sobre a questão dos produtores, nós chegamos até a rede de supermercados”, comenta. Segundo ele, há também a dinâmica do supermercado — o período em que eles compram, o valor que pagam e a margem que colocam em cima. “Nós, indústria, não chegamos na mesa do consumidor. Se está agora R$ 8 ou R$ 9, temos que entender que o varejista também tem seu custo de produção”, observa.
Em uma análise ampla, o secretário-executivo entende que o abandono da atividade se dá pelos altos custos, pela exigência de trabalhar de segunda a segunda, o que requer um esforço físico grande. É diferente de outras áreas, que já estão mais automatizadas. Tudo isso afeta a sucessão rural, percebe.
A condição no RS se agrava a cada ano também pela estiagem, que em 2022 foi uma das piores dos últimos tempos. O representante do Sindilat aponta a política tributária gaúcha como mais um fator que fragiliza o setor do leite frente aos demais estados brasileiros.
Sobre a diminuição de produção, Palharini compara o primeiro trimestre deste ano com o último do ano passado. Os indicadores apontam uma redução de 10% em todo o Brasil. São 570 milhões de litros a menos no período, o que correspondente a produção total de Santa Catarina, um grande player nessa área.
Segundo as leis de mercado, com as indústrias sem estoque, e a demanda em alta devido às políticas assistenciais em momento de crise econômica, há pouca margem no ramo leiteiro e o preço sobe. Esse fenômeno também ocorre em países vizinhos como Argentina e Uruguai, e na própria Europa. Além dos fatores citados, com um movimento mundial de abandono à atividade, Palharini adiciona as preocupações ambientais para reduzir emissão de carbono, que impactam em cheio a cadeia leiteira.
Olhando em perspectiva, o representante da indústria nota que a escalada do preço do leite e seus derivados ocorreu nos últimos 60 dias no país. O preço fugiu da previsibilidade a partir de abril — o pior mês de produção para o leite no Brasil todo por causa da alta demanda das indústrias de chocolates e massas, que têm o leite em pó nas suas composições.
“Eu acredito até que talvez haja uma estabilização no preço de alguns produtos”, projeta, ao citar que em julho já é possível identificar aumento de produção. O secretário-executivo do Sindilat pontua que o mercado já teria passado pelo boom do preço entre o fim de maio, o mês de junho inteiro e o começo de julho.