O Ministério da Economia, por meio do Gecex (Comitê-Executivo de Gestão) da Camex (Câmara de Comércio Exterior), diminuiu a alíquota do item até 31 de agosto de 2023.
O soro de leite, líquido que sobra da produção de queijos e geralmente era descartado pela indústria de laticínios, passou a ser opção para quem não tem mais dinheiro suficiente para comprar o tradicional leite de vaca. Ele é mais barato e é menos concentrado que o leite, ou seja, é mais aguado.
Com a nova medida, o consumo do subproduto deve aumentar nos próximos meses, avaliam especialistas ouvidos pelo UOL
Qual o objetivo do corte de imposto? Fábio Pizzamiglio, diretor da Efficienza, empresa especializada no comércio exterior, afirma que a redução da tarifa de importação do soro de leite tem como objetivo suprir a queda na produção de leite no país.
A tendência é que o consumo do soro de leite aumente por ser mais barato. Mas não é a melhor opção como alimento, afirma Pizzamiglio.
Por que o leite ficou mais caro no Brasil? Em agosto, o leite longa vida ficou 14,21% mais caro, de acordo com o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), a prévia da inflação oficial. No ano, o acúmulo chegou a 79,79%.
Para Pizzamiglio, vários fatores fizeram o leite encarecer: aumento no preço da ração das vacas, falta de fertilizantes e entraves no setor logístico, causados pelo frete marítimo mais caro da China, que fez disparar o pagamento a produtos enviados em contêineres para cá.
Soro é alternativa ao leite? No Brasil, o custo de produção do leite subiu 62% em dois anos, diz a pesquisadora Kennya Beatriz Siqueira, pesquisadora da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Gado de Leite. Ela afirma que o desequilíbrio entre oferta e demanda motivou a indústria de laticínios a oferecer o soro de leite como alternativa àqueles que perderam poder de compra.
O Brasil é o terceiro maior produtor de leite do mundo, atrás apenas de Estados Unidos e Índia. De acordo com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), são mais de 34 bilhões de litros por ano.
No primeiro semestre deste ano, a produção sofreu queda de 9% em relação ao mesmo período de 2021, puxada por custos maiores e margens mais baixas.
Consumidor foi avisado da substituição? Siqueira discorda das críticas feitas à indústria de laticínios e aos comerciantes, que não teriam comunicado os clientes com mensagens claras sobre o soro de leite nas embalagens, induzindo a compra do subproduto colocado ao lado do leite longa vida. Segundo ela, o produto já é conhecido há tempos.
Preço do leite não caiu? Segundo a Embrapa Gado Leite, o preço do leite longa vida começou a cair em agosto, com redução de 23,5% ante julho. A retração é explicada pelo enfraquecimento da demanda, aumento de oferta na região Sul e alta nas importações.
Entretanto, os valores praticados em agosto deste ano ainda estão 36,6% maiores quando comparados com o mesmo período de 2021.
A instituição não tem dados sobre o preço do soro de leite. No entanto, o subproduto viralizou nas redes sociais após o compartilhamento de uma foto de um supermercado que vendia o litro por R$ 4,49 e a caixa com 12 unidades por quase R$ 54.
O especialista em exportação acredita que os brasileiros terão que se acostumar a ver mais opções de soro de leite nas gôndolas de supermercados a partir de setembro.
Kennya Beatriz Siqueira diz que o consumo do subproduto deve ficar restrito à população mais pobre, sem atingir a classe média.
Quais são os prejuízos do consumo contínuo do soro de leite? A nutricionista e doutoranda pela FSP-USP (Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo) Maiara Soares diz que o soro de leite deve ser utilizado como complemento e não como substituto. A substância é rica em carboidratos, lipídios e proteínas, mas tem uma concentração menor do que o leite.
Segundo ela, a substituição do leite pelo soro de leite terá consequências no aumento da insegurança alimentar, que atinge 125,2 milhões de brasileiros. Maiara afirma que as crianças, com crescimento físico afetado, e idosos, vítimas de osteoporose, são os mais prejudicados pela ausência de minerais importantes como o cálcio.
A especialista declara que alimentos como sardinha e vegetais de folhas verde-escuras, como couve e espinafre, auxiliam no reforço do cálcio, mas reconhece que os brasileiros de baixa renda dificilmente conseguirão comprar esses produtos.