A atividade leiteira requer dedicação diária, investimento e, muitas vezes, resiliência. E também é uma atividade que tem mostrado a presença feminina, conforme mostra o Canal Rural na série ‘Guardiãs do Leite’.
A paisagem que reúne pasto verde, um belo açude e vacas holandesas mais parece uma pintura. Mas na propriedade da família Frey, em Venâncio Aires (RS), a cena representa trabalho feminino. A Marina é a terceira geração na produção de leite da família. Antes, o trabalho era bem diferente, explica a produtora.
“Tudo era bem simples, tinha-se poucos animais. Era uma mistura de jersey e holandês. Hoje, a gente trabalha somente com a raça holandesa. Era balde ao pé. Eu lembro que era criança e via a minha mãe e a minha avó tirando leite e colocando nos tarros, em imersão naquela água gelada do resfriador”, relembra Marina Frey.
Cinco décadas depois tudo mudou. No total, 220 vacas são responsabilidade da Marina, que trabalha com o marido e o pai. Juntos, eles cuidam da parte da produção de ração e alimentação dos animais. Ela faz a lida direta com as vacas, o que vai desde a inseminação até os cuidados de saúde. Ela destaca ter estudado para isso.
“Fiz o curso de inseminação. Consigo acompanhar o melhor horário para inseminar. Sempre estou aqui na propriedade e isso agregou muito para nós nessa questão da inseminação artificial”, explica. “Também fui atrás de cursos de melhoramento genético para conseguir identificar, aqui dentro da nossa propriedade, qual o tipo de animal que a gente queria e o que a gente teria que melhorar nos animais que a gente já tinha”, prossegue a produtora de leite.
Bióloga e dedicada à atividade leiteira
Inicialmente, no entanto, a intenção da Marina Frey não era seguir na atividade rural. Tanto é que ela saiu e se formou bióloga. Mas, em 2018, esse sentimento de amor pela propriedade fizeram com que ela voltasse e, desde então, ela tem se dedicado a aprimorar algumas técnicas de trabalho para driblar a falta de mão de obra e, consequentemente, aumentar a produção do rebanho.
Uma das primeiras mudanças foi um galpão de compost barn, que dá mais conforto e sanidade para as vacas. Também veio a automatização da aproximação de comida e a adoção do robô de ordenha. São 3 mil litros por dia tirados assim que a vaca passa na cancela e é identificada a necessidade de ordenhar.
“Com a minha volta, a gente foi conhecer outras propriedades para ver como a gente faria, pois as nossas instalações não comportavam mais o número de animais que a gente tinha e a mão de obra escassa”, cita a produtora rural. “Era eu, meu pai e minha mãe — e a gente não tinha como tocar todos os animais. Ou a gente parava ou investia”, prossegue. Nesse sentido, ela destaca que a família decidiu, há cerca de duas décadas, seguir com os trabalhos no campo.
“Resolvemos investir para continuar na atividade leiteira, que sempre foi a principal fonte de renda da propriedade”, comenta. “Para a gente conseguir fazer mais ordenhas, pois a questão genética a gente vem trabalhando há mais de 20 anos. Temos animais com muita capacidade produtiva, só que a gente só fazia duas ordenhas. Não tinha como fazer que esses animais produzissem mais em função de mão de obra.”
Trabalho com garra e dedicação
A Marina é a filha do meio das três filhas do seu Írio. E ela foi quem seguiu firme, aprendendo a atividade na garra, com cursos e qualificações para não deixar que a família desistisse da produção leiteira. A relação com a atividade começou desde cedo, lembra o pai.
“Ela [Marina ]era diferente. Quando eu não a achava, ela estava brincando com um terneirinho e as outras não. É justamente por isso que ela voltou [à propriedade rural da família]”, diz Írio Frey, que assume: tem muito orgulho da filha. Assim, diante dos olhos de seu próprio pai, Marina ensina, sempre com leveza e muito trabalho, que a pecuária de leite também é um espaço feminino.
“A gente é muito detalhista, temos esse diferencial. Nem tudo é força bruta. Muita é coisa de jeito, manejo, gestão. Acredito que cada vez mais as mulheres estão firmando o pé e dizendo: ‘aqui na minha propriedade eu que faço as coisas, eu que toco, eu que gerencio’. Óbvio que a gente tem a ajuda, mas tudo sempre passa pela gestão feminina.”